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Cetogênica e hipotireoidismo: o que você deve saber

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Uma das mais comuns disfunções femininas atualmente é o hipotireoidismo. Se você sofre de hipotireoidismo, alguns cuidados devem ser tomados na sua Dieta Cetogênica. São eles: estresse (gerado pela vida, padrões mentais ou estado de inanição em uma dieta mal conduzida) e alimentos específicos.

Neste conteúdo, mostrarei alguns fatores alimentares que podem estar interferindo na sua tireoide. Veremos o que as pesquisas têm demonstrado sobre alguns destes elementos. A parte nutricional vem da grande musa global da Dieta Cetogênica e Carnívora para saúde mental, a psiquiatra Georgia Ede.

Pessoalmente falando, minhas questões hormonais são perfeitamente expressas na capa da obra The Hormone Cure, em que uma das maiores endocrinologistas do mundo, a Dra. Sara Gottfried, aparece segurando um tapete de yoga.

Cetogênica e hipotireoidismo: o que você deve saber 1No meu caso individual, a remoção dos nutrientes aqui mencionados não colaborou muito. O estresse segue sendo o principal fator da minha desregulação. Pense nisso caso métodos mais objetivos não funcionem para você. O estresse também surge como a principal causa de hipotireoidismo para o endocrinologista cetogênico Michael D. Fox, consultor oficial do maior site cetogênico do mundo, o Diet Doctor.

Leia o especial de Michael D. Fox sobre saúde hormonal na Dieta Cetogênica: Estresse, hipotireoidismo e baixo estrogênio: a epidemia feminina

Para além do estresse, veremos abaixo as questões alimentares.

Tenho hipotireoidismo?

Os hormônios da tireoide avisam as células do corpo sobre o quão ocupadas elas devem estar. Muito hormônio (hipertireoidismo) e seu corpo fica sobrecarregado; pouco hormônio e seu corpo reduz a atividade.

A tireoide produz os hormônios T3 e T4, que vão a todas as células do corpo e regulam a velocidade do metabolismo em cada uma delas. Usualmente, a saúde da tireoide é observada através dos exames de T3, T4 e TSH (hormônio estimulador da tireoide), este último produzido pela glândula pituitária, com a função de induzir a tireoide a produzir T3 e T4.

O hipotiroidismo é geralmente diagnosticado quando o TSH está acima de 4,5mU/L. Os sintomas que devem acompanhar o quadro são fadiga, pele seca, perda de cabelo, inchaço, sono excessivo, e ganho de peso.

É importante mencionar que é comum que o T3 seja reduzido em Dietas Cetogênicas. Ainda não sabemos se existe risco nesta questão, mas Stephen Phinney, o grande pesquisador de cetose, diz que isso é causado possivelmente por uma grande eficiência do corpo, que passa a precisar de menos T3 (ver Stephen Phinney). Também é relevante dizer que há uma redução nos níveis de T4 na fase inicial da Dieta Cetogênica (no caso do T4, redução transitória).

Causas do hipotireoidismo

Do que observo nas clientes, grande parte passou a ter problemas de tireoide em três momentos:

  • pós-parto
  • estresse crônico, traumas emocionais ou físicos
  • dietas hipocalóricas

As principais causas de hipotireoidismo variam muito e vão da falta de proteínas à deficiência de iodo.

Isso ocorre porque os dois grandes ingredientes necessários para produzir o hormônio da tireoide são a tirosina (aminoácido que vem das proteínas) e o iodo.

No mundo desenvolvido, Brasil dentro, há proteína e iodo suficientes para garantir uma dieta capaz de manter a tireoide saudável. Na obra The Keto Cure, que eu disponibilizo gratuitamente aqui no site, o médico low carb Adam S. Nally alerta que, em 15 anos de prática, viu apenas uma paciente com deficiência de iodo.

A alimentação provê o iodo. Contudo, dietas hipocalóricas e restritivas (especialmente em carnes, peixes e ovos) podem colocar por água abaixo esta abundância do meio.

Como disse, é bem comum ver este desequilíbrio após o parto, um momento de exceção na vida da mulher, em que nossos amados sugam nossos nutrientes. Dentre os nutrientes que os nenês mais chupam de suas mães, aparece, é claro, o iodo.

Antes que você feche esta página e vá comprar iodo, lembre-se que excesso de iodo pode ser tão ou mais prejudicial do que sua falta.

A Organização Mundial da Saúde sugere que a suplementação de iodo venha do sal iodado (5g de sal iodado por dia é a recomendação da OMS).

Contudo, esta mesma instituição lembra dos riscos de excesso de iodo. De fato, estudos têm apontado que até mesmo a dose de iodo sugerida pela OMS é alta demais, podendo ser prejudicial inclusive para o nenê.

O Centro Cochrane nos fez o favor de analisar o que os estudos têm dito e as evidências são muito fracas para termos um posicionamento sobre suplementação de iodo. Há estudos mostrando que suplementar iodo reduz as chances de hipertiroidismo no pós-parto e, no caso de hipotireoidismo, a suplementação de iodo parece não fazer grande diferença.

De qualquer forma, antes que você pense em pílulas ou quilos de algas, é sempre bom lembrar que o Brasil tem um dos solos mais ricos do mundo. Portanto, alimentos de verdade cumprirão seu papel nesta questão.

Quanto de iodo devo comer para ter uma tireoide saudável

A porção diária máxima de iodo diária recomendada varia de 1,1mg a 1,5mg. A British Dietetic Association sugere o seguinte:

  • População geral: 1,5mg diários
  • Mulheres grávidas e lactantes: 2mg diários

Como consumir iodo para a saúde da tireoide

Uma colher de chá de sal iodado contém 0,28mg de iodo. Como a dose diária é 1,1mg, o máximo seriam 4 colheres de chá de sal iodado.

Cuidado com as algas: algas podem parecer interessantes para suplementar iodo, porém podem exceder o limite rapidamente.

A alga com menor quantidade de iodo é a utilizada para as folhas que envolvem o sushi, nori. São folhas finas e secas, feitas da desidratação de algas da espécie Porphyra (Algas Vermelhas). Uma única folha de nori (3g) pode conter de 0,1mg a 0,4mg de iodo. 10 sushis já ultrapassariam a taxa diária de iodo.

Lembre-se que taxas elevadas de iodo suprimem as funções da tireoide. Ou seja, se você está ingerindo iodo extra para salvar sua tireoide, pode acabar tendo o efeito oposto.

Melhores alimentos para suplementar iodo

Laticínios

1 copo de leite pode ter de 59% a 112% da necessidade de iodo diária. 1 copo de iogurte natural tem, em média, 50% da necessidade diária. Queijos também são boas fontes, apesar de terem números bastante variados conforme o tipo de queijo.

Leite e iogurte não são exatamente cetogênicos, então, é interessante ficarmos de olho em outras fontes de iodo.

Iodo na Dieta Cetogênica

  • Atum (1 lata = 0,35mg de iodo)
  • Ovos (1 ovo inteiro = 0,24mg de iodo)
  • Bacalhau (85g de bacalhau = 1mg de iodo)
  • Camarão (85g de camarão = 0,35mg de iodo)
  • Sal iodado
  • Queijos, especialmente o cottage

Alimentação para tireoide

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A preocupação, aqui no Brasil, nem é tanto de consumir iodo suficiente, mas sim de não atrapalhar a absorção. Como diz a psiquiatra Georgia Ede, “eu suspeito que há algo na dieta humana que interfere com nossa habilidade de absorver, utilizar e/ou reter o iodo, e é por isso que parecemos deficientes em comparação a outros animais”.

Bingo.

Hora de vermos os alimentos que mais atrapalham a utilização do iodo no nosso organismo. Caso você tenha problemas de tireoide, é interessante refletir sobre as informações da Dra. Ede, que coloco abaixo.

Não surte: tente reduzir os alimentos listados, caso você os coma diariamente e tenha hipotiroidismo.

Goitrogênicos

Os goitrogênicos são substâncias que dificultam a absorção de iodo e, por isso, podem ser um problema para quem sofre de hipotireoidismo, hipertireoidismo, tireoidite de Hashimoto, doença de Graves e câncer da tireoide.

Presentes em incontáveis alimentos e produtos químicos (pesticidas, remédios psiquiátricos, antibióticos etc), eles são muito presentes na soja, amendoins, batata doce, morangos e nos alimentos crucíferos (brócolis, repolho, couve, couve-flor etc).

Porém, é fundamental salientar que o cozimento reduz imensamente a quantidade dos goitrogênicos. Levar estes vegetais ao vapor pode reduzir os goitrogênicos em até 65%. Fervê-los em até 90%.

Esta informação é importante para mulheres que utilizam a maca como apoio hormonal. A maca crua possui goitrogênicos e a maca que passou pelo processo de gelatinização teve esta redução da substância. Portanto, a maca gelatinizada seria a ideal para quem sofre de problemas na tireoide. A maca crua, no entanto, mantém os nutrientes conhecidos por prevenir doenças como o câncer – mesmos nutrientes associados ao consumo de crucíferos.

A maca crua que indico é a da marca Souly e a maca gelatinizada é da marca PuraVida.

Tiocianatos

Presentes em uma variedade imensa de vegetais, os tiocianatos competem com o iodo pela entrada na glândula. Em outras palavras, inibem a captação de iodo pela tireoide. Cuidado com os seguintes alimentos:

Bambu
Mandioca
Milho
Linhaça
Feijões da espécie Phaseolus lunatus (lima bean)
Batata doce
Crucíferos: rúcula, acelga chinesa, brócolis, couve de Bruxelas, repolho, couve-flor, couves, rabanete, folhas de mostarda, nabo, agrião, wasabi.

Flavonoides

Uma grande família de componentes (mais de 3.000 tipos de flavonoides), também associados às plantas. Vejamos os que são os mais perigosos para a tireoide? Alguns deles, como os da soja e do millet (introduzido no Brasil como um “super grão”) são especialmente arriscados, pois reduzem a atividade da Tireoide peroxidase, a enzima necessária para inserir o iodo na glândula.

Soja
Millet (grão)
Frutas cítricas
Salsa
Cebola
Vinho tinto
Cerveja
Broto de trigo
Camomila

Os flavonoides quercetina, kaempferol e rutina também reduzem a atividade da Tireoide peroxidase e da deiodinase do fígado (enzima necessária para ativar os hormônios da tireoide). A quercetina e seu grupo estão presentes nos seguintes alimentos:

Alcaparra
Cranberry (oxicoco)
Cebola
Chás
Brócolis
Vinho tinto Maçã
Cassis
Uva
Mirtilo Damasco
Gingko biloba
Endívia
Trigo-sarraceno

[caso coma estes alimentos, tente fervê-los para reduzir em 30% a quercetina, o kaempferol e a rutina]

Leia mais: “Dieta Cetogênica não é igual para homens e mulheres” Entrevista exclusiva com a endocrinologista Janaína Koenen

Tireoide para além da alimentação

Como mencionei no início do post, não consigo conceber uma disfunção mais complexa do que problemas na tireoide. O diagnóstico é complicadíssimo, os exames nem sempre são eficazes e os sintomas são demasiadamente subjetivos. A minha recomendação é investir em um bom médico nesta hora e não neurotizar com listas de sintomas e tratamentos na internet.

Estresse, agrotóxicos, produtos químicos presentes em shampoo, pasta de dente, desodorante etc surgem como grandes inimigos da tireoide.

Para facilitar ainda mais, há evidência de que os chamados halogênios competem com o iodo na hora da absorção na glândula. Seriam flúor, bromo e cloro problemas sérios a considerar.

Mas, mais problemático, é viver uma vida em que até tomar banho se torna um inimigo por conta do cloro na água. Em que o desodorante é leite de magnésia e os shampoos e pastas de dente são feitos em casa (porque pastas de dente industrializadas, mesmo sem flúor, contêm açúcar, o que pode ser um problema para a saúde da gengiva e, portanto, do organismo todo).

Ou seja, a chance de você enlouquecer tentando cuidar da tireoide é grande e isso te levará ao primeiro espectro da desregulação, o estresse.

Por isso, de tudo que vimos aqui, quero pontuar o que considero prioritário:

Reduza seu estresse: mesmo que para isso você tenha que abdicar do seu autointitulado cargo de supermulher.

Respeite os ciclos naturais: mulheres são profunda e intensamente impactadas pelos ciclos circadianos e pelos ciclos da natureza ao nosso redor. Ouça seu corpo na ovulação e na TPM e abrace-o ou ele se tornará um inimigo. Durma. Repouse. Silencie. Desligue as malditas telas à noite.

Sua ovulação e TPM são uma resposta a como você viveu os 15 dias anteriores: mulheres são ciclos e sua próxima TPM inicia já no primeiro dia da menstruação. Se você se torna um ser frenético assim que menstrua porque a energia retorna, você estará perpetuando o ciclo: subindo demais por decisão própria e pagando o preço da descida demais quando a ovulação chegar.

Coma: nada mais comum do que ler que a Cetogênica gerou hipotireoidismo e descobrir que a mulher fazia jejuns extensos e passeava pela tênue linha da inanição (modo de sobrevivência, estresse fisiológico) sem saber. 1.500 calorias diárias é o que eu preconizo como mínimo dos mínimos, isso para mulheres sedentárias e inativas. Lembre-se que apenas seu cérebro consome 500 calorias diárias. Coma pratos unicórnios de tão coloridos, repletos de proteínas e gorduras saudáveis.

A destruição é rápida, mas a reconstrução é lenta: meus médicos sempre diziam que, para cada ano de destruição, precisaremos de dois anos de reconstrução. Não existe pílula mágica para reconstruir um corpo que se destruiu sistematicamente por anos.

Vá ao médico: google não salvará sua tireoide e temo dizer que a maioria esmagadora dos endocrinologistas também não. Portanto, se há uma especialidade médica que merece o salário do mês para 1h de consulta é o endocrinologista. Invista em um bom médico para tirar suas dúvidas sobre sua saúde hormonal. Busque um médico que acredite que você come o mínimo possível para um ser humano e mesmo assim não emagrece. Caso ele não acredite, troque de médico.

Reduza os alimentos citados acima se você os consome em abundância: é justo lembrar que a Dra. Georgia Ede é tida como uma das maiores referências no mundo em Dietas Carnívoras e Cetocarnívoras. Dra. Ede é bastante radical com relação aos problemas que o consumo excessivo de vegetais podem gerar no corpo humano. Digo isso não porque vou contra a fala de Ede, mas sim porque é honesto e importante você saber o viés inicial da principal fonte utilizada neste texto.

Da minha parte, fica a conclusão óbvia: diminua aquilo que te desequilibra, seja na nutrição ou na vida cotidiana, e coma seus ovos. Não há saúde hormonal sob estresse, restrição calórica, ansiedade e deficiência proteica.

https://youtu.be/6aBOMTwYsj4