Artigos

Déficit de atenção, antioxidantes e Dieta Cetogênica: revisão sugere práticas nutricionais para o tratamento do TDAH

dieta cetogenica tdah adhd deficit de atencao alimentacao nutricao transtorno

Déficit de atenção é uma doença NEUROLÓGICA, com uma infinidade de transtornos associados: Transtorno Opositivo Desafiador, Bipolaridade, Transtorno de Ansiedade, Depressão, TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) etc. Pessoas diagnosticadas com TDAH têm mais propensão a desenvolver doenças neurodegenerativas na vida adulta, como Parkinson e Alzheimer. Por essas semelhanças, a Dieta Cetogênica tem sido usada e estudada para TDAH.

A etiologia do TDAH é complexa, como todas as desordens que trato, e pode ter fatores genéticos, bioquímicos, psicológicos e ambientais. No caso da genética, por exemplo, há diversos genes que, em conjunto, afetarão a regulação de neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e, claro, dopamina.

TDAH como uma doença neurológica nos ajuda a traçar novos olhares sobre o cérebro e não é à toa que, aqui, usamos Dieta Cetogênica para o tratamento de déficit de atenção, sendo uma abordagem nutricional que trata doenças neurológicas.

O DSM-5TM, utilizado para o diagnóstico formal de TDAH, descreve o TDAH como “um padrão persistente e generalizado de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento ou desenvolvimento” e resultando em “impacto negativo nas atividades sociais e acadêmicas/ocupacionais”.

Disclaimer: este conteúdo é informativo para o público em geral com base em pesquisas científicas e não substitui avaliação com seu profissional de saúde.

Revisão: A Base Lógica de Tratamentos Dietéticos Antioxidantes para o TDAH

Em 2018, uma revisão sobre déficit de atenção trazia chaves básicas que interligam suplementos e abordagens nutricionais capazes de auxiliar no tratamento. A quem leu o estudo em sua íntegra, fica claro a potência da Dieta Cetogênica, que se encaixa em cada item apontado como benéfico pelos pesquisadores.

Leia na íntegra a revisão A Base Lógica de Tratamentos Dietéticos Antioxidantes para o TDAH

O que diz o resumo do estudo:

Esta revisão apresenta descobertas científicas que apoiam o uso de antioxidantes dietéticos para TDAH e descreve alterações substanciais no sistema imunológico, epigenética (regulação de expressão de genes), e regulação de estresse oxidativo no TDAH.

Como resultado, inflamação crônica e estresse oxidativo podem se desenvolver, o que pode levar a sintomas de TDAH, por exemplo, através da neuroinflamação crônica mediada pelas células T, além de danos oxidativos neuronais e perda de funções cerebrais.

Portanto, a modulação da atividade do sistema imunológico e do equilíbrio entre oxidantes-antioxidantes pode ter um papel importante no tratamento de TDAH. O uso de antioxidantes naturais contra condições oxidativas é um campo emergente no tratamento de doenças neurológicas.

Polifenóis, por exemplo, possuem capacidades antioxidantes e imunorregulatórias e, portanto, parecem apropriadas na terapia para déficit de atenção.

Tratamento farmacológico padrão para TDAH

Em sua maioria, o tratamento convencional farmacológico para TDAH utiliza medicações psicoestimulantes que, como apontam os pesquisadores, afetam neurotransmissores “que também estão envolvidos no sistema nervoso central”. Portanto, “qualquer interferência nos sistemas de neurotransmissores pode gerar alterações agudas e/ou de longo prazo na estrutura e na função do sistema nervoso”.

Efeitos colaterais destas medicações incluem insônia, falta de apetite, dores de cabeça, psicose e depressão. Por último, a utilização de fármacos “pode não ser capaz de normalizar funções cerebrais, apresentando apenas uma pequena melhoria acadêmica e, em dois anos, e mente e o corpo aparentemente se acostumam com a medicação. Então, a maioria dos pacientes não sente mais diferença nos sintomas. Possivelmente, parte da eficácia da medicação é resultado de atenção extra dispensada àqueles que a tomam ou por uma resposta placebo”, explicam os autores da revisão.

Dieta Cetogênica para Déficit de Atenção

dieta cetogenica tdah adhd deficit de atencao alimentacao nutricao transtorno

Quero frisar os elementos apontados pela revisão como fundamentos de intervenções dietéticas para TDAH. A revisão não menciona dieta cetogênica, obviamente, mas todos os elementos ali estudados são melhorados pela dieta.

Eu tinha me proposto a mais um ciclo de cetogênica há 3 dias pelas minhas eternas inflamações e aproveitei para verificar meus níveis de cetose assim que li este estudo. Fazia meses que não checava. 0,9 até 1,5: níveis bem seguros, com melhoria cognitiva significativa. Níveis suficientes para eu dormir bem, não correr risco de acidose, ter foco para escrever este conteúdo em um dia e reduzir as feridas na pele que as bactérias me geram. É um bom número.

Não é mais alto por vários fatores meus: indo para o quarto ano de ciclos cetogênicos (corpo se adapta), sou sedentária, durmo mal, durmo pouco, estresse cotidiano, não faço jejum, não conto mais carboidratos e calorias e como mais proteína do que indicado. Tudo isso impacta – assim, tu já entende o que impacta para mais e para menos. Mas, reforço: estou satisfeita com este número. Observe que não estou fazendo cetogênica terapêutica neste momento. Apenas cetogênica.

Segundo os autores, os elementos a observar no TDAH são: estresse oxidativo, disfunção imunológica, micronutrientes na alimentação. Vamos ver de perto algumas questões em comparação à cetogênica:

1 – Estresse oxidativo no TDAH e na Cetogênica

O termo “estresse oxidativo” é utilizado para apontar um desequilíbrio entre oxidantes e antioxidantes no organismo.

O cérebro é especialmente dependente deste equilíbrio devido à alta taxa metabólica do órgão. No caso do TDAH, as coisas ficam ainda mais complexas porque, na falta de antioxidantes, a dopamina se auto-oxida, resultando em citotoxidade que afeta justamente as regiões cerebrais envolvidas no TDAH. Estudos já demonstraram níveis reduzidos das enzimas antioxidantes glutationa s-transferase e paraoxonase-1 em pacientes de TDAH, por exemplo.

O que não faltam são estudos sobre Dieta Cetogênica e estresse oxidativo, mostrando melhoria neste delicado equilíbrio. Em 2021, a Nature publicou um estudo indicando abordagens cetogênicas ad libitum para tratamento de lesões de medula espinhal pelo potencial neuroprotetor. O mesmo foi visto no tratamento de lesão traumática cerebral: “corpos cetônicos reduzem estresse oxidativo, elevam antioxidantes e exterminam radicais livres”, apontam os pesquisadores.

2 – Disfunção imunológica no TDAH e Cetogênica

Diversos estudos apontam relação entre TDAH e imunopatologias alérgicas com inflamação neurológica crônica. Estes fatores foram estudados por causa alta prevalência de alergias nos pacientes de TDAH, incluindo asma, dermatite atópica e rinite.

Reações alérgicas podem desregular atividade colinérgica e adrenérgica no sistema nervoso, levando a sintomas de déficit de atenção. Possivelmente, explicam os pesquisadores, as alergias estão relacionadas a um aumento de secreção do IgE e citocinas produzidas pelas células Th2, o que leva a uma produção excessiva de citocinas inflamatórias que cruzam a barreira cerebral e ativam mecanismos relacionados à regulação emocional e comportamental.

A dieta cetogênica tem sido estudada, especialmente nos últimos anos, justamente como freio à tempestade de citocinas inflamatórias, vista na covid-19. Inclusive, em 2021, um estudo na Nutrition aponta que a cetogênica foi capaz de proteger tecidos contra estresse oxidativo, reduzir produção de ROS, elevar capacidade antioxidante endógena”. Tudo que precisamos no tratamento do TDAH. Leia mais sobre cetogênica e covid aqui.

Ainda, interessa à ciência como a cetogênica pode melhor a função das células do sistema imunológico (T), ainda mais quando associada a vitaminas como C e D. “As mudanças funcionais ligam a reprogramações metabólicas fundamentais das células T”, explica um dos incontáveis estudos.

3 – Micronutrientes, alimentação para TDAH e Cetogênica

Aqui, as coisas ficam ainda mais práticas. Há micronutrientes específicos que devem ser observados nos pacientes com déficit de atenção. A dieta cetogênica destas pessoas deverá estar ainda mais atenta a estes fatores. Mesmo que este paciente esteja seguindo outras diretrizes nutricionais, estes micronutrientes têm potencial de tratamento dos sintomas.

Magnésio para TDAH

33% das crianças com TDAH é deficiente deste mineral fundamental para o cérebro. Quando análises foram feitas através do cabelo, este número subiu para 77%.

Sabemos que há perda de magnésio na dieta cetogênica e, ainda, que é um dos micronutrientes faltantes na dieta (Zupec-Kania, 2003). Então, o mineral deverá sim ser suplementado. A dose indicada pela psiquiatra Georgia Ede, por exemplo, é 400mg de glicinato ao dia. Porém, o médico e pesquisador Stephen Phinney bem frisa que, em pessoas já deficientes (ou após jejum), a dose pode ter que ser elevada. É o caso aqui.

Zinco para TDAH

A deficiência deste mineral torna o cérebro mais suscetível ao estresse oxidativo e está ligada a problemas no sistema imunológico, modulação de melatonina que regula dopamina. A suplementação de zinco ainda não tem consenso científico para tratamento de TDAH especificamente. Mas, também faz parte dos micronutrientes faltantes na cetogênica (Zupec-Kania).

Selênio para TDAH

Mineral também comprovadamente deficiente na dieta cetogênica, sendo necessário exame semestral de monitoramento. Não foram encontradas diferenças nos níveis de selênio entre pessoas com ou sem o diagnóstico de TDAH, mas a importância do selênio como agente antioxidante é tamanha, que a dieta ou a suplementação deverá sim levar isso em conta. Consuma alimentos ricos em selênio (55mcg) ao dia para doses de manutenção: frutos do mar, vísceras, castanha do pará são as fontes mais ricas neste mineral.

Vitamina D no TDAH

Pessoas diagnosticadas com TDAH tipicamente apresentam níveis reduzidos de Vitamina D, um problema para sistema imunológico. Níveis de Vitamina D devem tender ao elevado, sendo o sol e a suplementação imperativos aqui.

Paul Jaminet usará doses de Vitamina D de manutenção de 4.000 UI ao dia, podendo ser para mais ou para menos, mas sempre com a meta de chegar a níveis de 90 ng/ml para doenças neurológicas.

A Fundação Weston Price sempre trabalhará em trio: a vitamina D é suplementada com refeições e em conjunto com A e K.

  • Vitamina A 5.000 UI
  • Vitamina D3 4.0000 UI
  • Vitamina K2 Mk7: 100mcg

Metionina no TDAH

Este aminoácido, encontrado em carnes, peixes e laticínios, é substrato para componentes chave da saúde cerebral como SAM-E, glutationa e taurina. Comumente suplementado para detox, problemas no fígado e infecções virais. Contudo, pacientes com TDAH apresentaram redução de metionina, o que pode agravar sintomas comportamentais e de aprendizagem. Como há riscos em suplementar metionina por conta própria, contar com alimentos ricos em metionina é mais prudente: salmão, camarão, atum (alerta para mercúrio aqui), carne, castanha do pará e espirulina são bons exemplos.

Ômega 3 no Déficit de Atenção e Cetogênica

Ômega 3 também é deficiente na Cetogênica, segundo a pesquisa da Zupec-Kania. Um dos mais cruciais componentes de todas as dietas, o ômega 3 tem ação vasodilatadora, anti-inflamatória, reguladora de neurotransmissores e sistema imunológico. O DHA é necessário para a função dopaminérgica e isso pode explicar porque pacientes diagnosticados com TDAH têm níveis reduzidos de ômega 3 nos estudos.

Para piorar, a relação ômega 3 x ômega 6 nestas pessoas também é prejudicada.

Portanto, a suplementação de ômega 3, que já era chave na cetogênica por si só passa a ser ainda mais relevante para tratamentos de TDAH. Não à toa, são inúmeras as pesquisas que encontraram melhoria com a suplementação. As doses na psiquiatria podem chegar até 10g de ômega 3 ao dia, o que é incrivelmente acima do comum.

Tipicamente, consumo 4g ao dia de EPA + DHA, que é o dobro do que a maioria dos estudos utiliza. Isso porque, desde a década de 1990, é estabelecido que pacientes com transtornos afetivos possuem níveis significativamente reduzidos de ômega 3 e que a suplementação é benéfica para transtorno bipolar por exemplo. Em 1999, o médico Andrew Stoll conduziu um estudo com 10g de óleo de peixe para bipolaridade, encontrando resultados importantes naqueles que consumiram o óleo por 4 meses.

Aqui, vale salientar que doses muito elevadas de ômega 3 poderiam afetar o sistema imunológico em longo prazo, já que reduz as respostas inflamatórias do organismo. Mas, não existe um valor máximo estabelecido pela ciência. Mantenha em mente a proporção ômega 6 x 3.

Aditivos alimentares (nutricionais) no TDAH

Todos os nutrientes que mencionei acima podem ser alterados no organismo a partir do consumo de aditivos alimentares. Há casos extremos de consumo de corantes alimentícios gerando deficiência de zinco, apontam os pesquisadores. De toda forma, o consumo excessivo dos aditivos pode potencializar o estresse oxidativo ao reduzir minerais fundamentais por sua capacidade antioxidante. Benzoato de sódio, por exemplo, gerou hiperatividade em crianças em estudos.

As pesquisas demonstram que eliminar estes aditivos é especialmente importantes nos casos em que há alergias relacionadas, como mencionei no início do texto.

Outros suplementos para Déficit de Atenção

Os pesquisadores sugerirão suplementos capazes de auxiliar nas defesas antioxidantes do organismo, claro. Epigalocatequina Galato (EGCg) e Picnogenol seriam alguns exemplos apontados pelo estudo, tanto por sua capacidade imunorregulatória quanto anti-inflamatória.

Picnogenol

Usado no tratamento do diabetes, o picnogenol auxilia na hipertensão, inflamações e reduz estresse oxidativo. Também, reduz níveis de histamina, importante para as alergias associadas ao TDAH. Os pesquisadores salientam que há comprovação científica no uso de picnogenol para crianças com TDAH.

Um estudo randomizado duplo-cego encontrou que 1 mês de suplementação já melhorou a atenção e a coordenação visual-motora das crianças, além de significativa redução de danos ao DNA e atenção nas crianças. Ainda, o picnogenol normalizou as taxas do status total de antioxidantes nos controles (TAS). O estudo utilizou a dose 1mg de picnogenol por kg pesado uma vez ao dia.

Epigalocatequina Galato (EGCg)

Famosa pelo chá verde, a Epigalocatequina Galato (EGCg) é conhecida por modular a atividade cerebral no EEG, promovendo calma, centramento e reduzindo estresse. Tem sido estudada para verificar dose máxima na preocupação por danos relacionados ao fígado quando tomada em hiperdosagem (acima de 800mg ao dia).

Até agora, a dose máxima segura em adultos é de 330mg ao dia em alimentos ou suplementada. Isso que seria 3 xícaras de chá verde. É possível comprar EGCg em lojas de suplementos ou encontrá-la em alimentos como chá verde, chocolate amargo, berries e nozes pecã.

Ginkgo biloba

O suplemento do fluxo sanguíneo também é muito estudado para TDAH. A ciência encontra que há sim melhoria de sintomas, contudo, é muito menos eficiente do que as intervenções farmacológicas. Em crianças, estudos sugerem uma dose inicial de 40mg duas vezes ao dia, sendo elevada até 120mg duas vezes ao dia dependendo da eficácia. Em adultos, a dose máxima é a mesma, 240mg ao dia.

Passiflora incarnata

A conhecida passiflora (0.4 mg/kg/dia dividida em duas doses) teve os mesmos resultados que as medicações ao longo de 8 semanas de uso.

Conclusões pessoais: tratamento para TDAH e Dieta Cetogênica

Das dezenas e dezenas de estudos que li para escrever este texto, eu definitivamente:

  • Enriqueceria a dieta com base nos alimentos propostos: nozes pecã, castanha do pará, berries estão inclusos.
  • Faria meu possível para remover aditivos alimentares, especialmente corantes. E notaria que laticínios não foram mencionados no estudo principal. Preciso alertar que temo muito pela cetogênica sem laticínios pela questão do cálcio, que fica deficiente na dieta. Sabendo que já temos problemas com vitamina D no TDAH (e em basicamente todas as desordens que atendo), remover laticínios precisa ter uma indicação médica bem consolidada. Neste caso, a equipe cetogênica do Johns Hopkins sugerirá o lúcido: suplementar cálcio com o médico.
  • Os suplementos que me pareceram fundamentais: multivitamínico metilado Two Per Day (que já possui zinco e selênio, mesmo sabendo que selênio suplementado não é tão bom quanto por alimentos), magnésio glicinato ou taurato, picnogenol, passiflora, ômega 3, vitamina D.
  • A cetogênica destas pessoas deve conter proteína animal ou alimentos ricos em tirosina, pela capacidade deste aminoácido em elevar dopamina. Queijo, carne, peixe, nuts e gergelim (tomando cuidado com os alergênicos, como gergelim).
  • Suplementos como ubiquinol, vitamina c, magnésio, complexo B metilado (especialmente, B6 e B12), além de ferro (para aqueles comprovadamente deficientes em exames) parecem ter efeito sobre o transtorno. Ou seja, uma dieta rica em antioxidantes e proteínas animais é indicada, além das gorduras para questões estruturais e funcionamento de neurônios, células gliais e endoteliais. Baixo consumo de gorduras, especialmente ômega 3, está ligado justamente a disfunções no sistema dopaminérgico no córtex pré-frontal. Ou seja, um bom ômega 3, rico em DHA, é fundamental.
  • Atualmente, o suplemento D-Ribose está sendo estudado (fase 4 para aprovação do FDA) para tratamento de TDAH. Tenho sugerido a clientes e seguidores e acompanhado resultados significativos. Cada grama deste carboidrato contará no somatório do dia. Em adultos, as doses são um scoop (5g) tomado de 1 a 3 vezes ao dia. Saiba mais sobre o uso de D-Ribose no telegram do Revolução Keto.
[elementor-template id="9381"]