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Entenda seu cérebro e dê adeus à culpa: entrevista com a musa da Cetogênica, Dra. Georgia Ede

Entenda seu cérebro e dê adeus à culpa: entrevista com a musa da Cetogênica, Dra. Georgia Ede 1

Ansiedade, depressão, emagrecimento na Dieta Cetogênica. Saúde mental e nutrição. Mulheres, homens, juventude e maturidade. Culpa, medo, vergonha e libertação.

Se há alguém capaz de falar sobre tudo isso, é a psiquiatra Georgia Ede. Nesta entrevista, você lerá basicamente tudo que precisa saber sobre quem é e sobre como chegou até aqui.

Foram muitos dias de pesquisa, milhares de depoimentos lidos, dezenas de artigos e buscas por livros que falassem sobre mulheres na Dieta Cetogênica.

Até que eu fui direto à grande fonte: a mulher que deve ser ouvida quando o assunto é Keto: Georgia Ede.

O que Georgia disser, você deve ouvir. O que ela escrever, você deve ler.

A primeira coisa que fiz ao abrir este site foi conversar com ela e pedir permissão para traduzir, oficialmente, tudo que ela dissesse. Permissão recebida, aqui estamos nós.

Esta semana, pedi que ela me guiasse pelo caminho dos hormônios e das mulheres na Keto.

Georgia me indicou o médico que trata disso, o Dr. Jay Wrigley. Dr. Jay trabalha especificamente com hormônios femininos e Dieta Cetogênica.

Ele faz uma Dieta Keto modificada com suas pacientes. Os macronutrientes ficam divididos da seguinte forma:

  • 50% a 55% gorduras
  • 40% a 45% proteínas
  • 5% carboidratos (os 5% de carbs sempre se mantêm)

Georgia também me passou a participação dela no podcast da Keto Woman, Daisy Brackenhall.

podcast keto cetogenica georgia ede

Ouvindo este podcast, admito que chorei algumas vezes quando a Dra. fala sobre os hormônios femininos. Anos de culpa e de questionamento sobre mim mesma foram sendo liberados.

  • “Você tem buracos na alma que precisa curar.”
  • “Você é gorda porque come demais ou come errado.”
  • “Você é excessivamente afetada pelos outros.”
  • “Você é excessivamente afetada pelas coisas.”
  • “Hormônios são desculpa de gente preguiçosa.”

Mitos e distorções que geraram culpa demais em mim e em todas as mulheres.

Espero que você aprenda e sinta o mesmo lendo a fala da Dra. Georgia. Ano após ano, acreditei que as falas acima, estes mitos, eram culpa minha, que eram algo meu.

Fui a maior guerreira para vencer os resultados negativos que esta batalha me gerava. Venci grande parte deles…

E me senti uma perdedora. A verdade é que nunca se tratou de uma guerra contra a natureza feminina para obtermos resultados mais eficientes.

Tampouco, tratou-se de sucumbirmos à ignorância sobre quem somos, sobre como funcionamos, e aceitarmos as consequências negativas que este desconhecimento gera em nós mesmas e nas pessoas que amamos.

Trata-se sim de alcançar o delicado e subjetivo conceito de equilíbrio.

Equilíbrio nada mais é que do que você ter conhecimento para daí sim tomar suas decisões.

É neste momento que você estará feliz com os caminhos que tomou – quando você puder enxergar seus passos.

Mesmo que suas escolhas não rumem à ideia de perfeição, serão decisões verdadeiramente suas. É apenas isso que importa. 

É por isso que eu acredito no poder da informação, porque ela não te diz o que fazer. Ela te dá o poder da decisão. Foi por este motivo que abri este site, para que você tenha o poder da informação e entenda que nada disso é inevitável ou sequer culpa sua.

Foi por isso que traduzi, transcrevi e postei este podcast com a Dra. Ede. Para que você se liberte dos mitos e siga seu próprio caminho.

Na entrevista abaixo, você lerá sobre os estudos e experimentos de Georgia sobre os mais diversos tópicos:

  • evolução dos corpos e mentes femininos
  • por que somos como somos
  • oscilação mental e depressão pós-parto
  • laticínios e problemas para perder peso
  • questões emocionais e mentais
  • resistência à insulina
  • medos e vergonha que sentimos.

É 1h de podcast abordando os mais amplos aspectos da nossa vida. Leiam. Compartilhem com outras mulheres. Ajudem-se mutuamente. Façamos nossa parte onde a ciência tem nos faltado. Um abraço emocionado e com carinho da Juliana Szabluk.

https://www.youtube.com/watch?v=6aBOMTwYsj4

Confira abaixo a fala da Dra. Georgia

Nutrição para a saúde física e mental

Georgia Ede: Há mais ou menos 10 anos, comecei a desenvolver diversos sintomas misteriosos que os meus inteligentes colegas de trabalho, doutores de Harvard, não conseguiam me ajudar.

Fibromialgia, fadiga crônica, enxaquecas, síndrome do cólon irritável… Isso estava realmente afetando minha capacidade de trabalhar. Eu me sentia exausta o tempo inteiro. Nunca me sentia bem.

Eu pensei que estava ficando velha, que era isso que acontecia. Isso estava acontecendo com tantos dos meus pacientes de meia idade, que pensei que minha hora havia chegado.

Meus exames estavam todos corretos. Então, como eu estava sentindo muita dor no estômago e piorava após comer, resolvi mudar minha dieta.

Eu já comia Low Carb na época. Então, por seis meses, eu mantive um diário alimentar, onde eu escrevia o que comia e como me sentia. Através de tentativa e erro, mudei minha dieta.

Eu comia alta fibra, plantas e leite de soja, coca diet, saladas imensas, tofu. Foi comendo isso que eu fiquei muito doente.

Seis meses depois, descobri que eu conseguia reverter estes sintomas para zero. Não sentir nada. Eu me senti completamente bem. Não digo apenas aliviada dos sintomas.

Eu me senti melhor do que em qualquer momento da minha vida. Emocionalmente, fisicamente, de todas as formas.

Ninguém ficou mais surpreso do que eu. Eu achava que ia me livrar das dores no estômago, mas nunca achei que o cansaço, os problemas de concentração ou as enxaquecas desapareceriam.

Foi aqui que comecei a ler sobre nutrição. A maioria esmagadora dos médicos não lê sobre isso. Foi fascinante.

Quando você começa a ler os estudos que indicam grãos, 10 xícaras de frutas e vegetais por dia, baixa gordura, bem, eles não têm base científica alguma para apoiar estas hipóteses.

Eu procurei por evidências. Eu procurei. Mas, não há ciência para comprovar que carnes, colesterol, gorduras, alimentos de origem animal façam mal para nós. Pelo contrário. Há muitas evidências mostrando que é vital incorporar estes alimentos na nossa dieta.

Minha saúde mental nunca foi um grande problema, mas eu comecei a sentir que minha mente estava mais clara, meu humor estava melhor, minha ansiedade havia sumido, meu sono estava melhor, minha energia estava melhor.

Entendo que estas mudanças sejam boas para o meu corpo, mas como isso é bom para o meu cérebro? Eu nunca tinha pensado nisso antes!

Comecei a incorporar estes princípios nos tratamentos que eu prescrevia, porque muitas pessoas não querem tomar medicações, não respondem bem aos medicamentos, têm efeitos colaterais, ou os remédios simplesmente não funcionam.

Eu sempre me sentia perdida nestes casos. Agora, não mais. Agora, posso apontar um novo caminho que podemos trilhar juntos.

Químico ou “mental”? Psicologia x psiquiatria x nutrição

Daisy Brackenhall: tenho uma amiga que sofria de fibromialgia, fadiga crônica e o caminho que ela seguiu foi uma rota psicológica.

Mas, você tem falado sobre o que você come e sobre o impacto que isso tem no seu cérebro. Sobre como isso é inseparável de como você se sente mentalmente falando.

Gostaria de saber o que você pensa sobre esta abordagem.

Georgia Ede: É claro que a abordagem psicológica ajuda e muito. Ela ajuda nas respostas às mudanças ambientais, às relações, à capacidade de buscar ar fresco e luz do sol, a fazer exercícios, a ter pensamento positivo e à própria comida. A psicologia é muito responsiva.

Mas, eu realmente acredito que a maneira mais poderosa de mudar a química do seu cérebro é através da alimentação, porque é dela que os químicos do cérebro se originam.

É na alimentação que você encontra a causa fundamental, a causa raiz das questões que impactam sua saúde mental.

É como se você literalmente mudasse do que é feito o seu cérebro.

Você pode sim fazer isso. Você tem controle completo sobre a matéria-prima do seu cérebro.

Isso é muito empoderador.

O poder e a velocidade da mudança

Georgia Ede: Se você conseguir mudar tudo de uma única vez, bem, a maioria das pessoas nota melhorias em questão de poucos dias.

O problema é que, nos primeiros dias, você pode se sentir pior. Isso ocorre com muitas dietas, especialmente se a mudança for reduzir carboidratos.

Remover questões viciantes, como açúcar ou farinha da dieta, pode sim gerar mal-estar por dias ou semanas. A chave é prosseguir até o fim do período de abstinência, até que seu cérebro e corpo se ajustem.

Vale a pena chegar ao outro lado.

É como álcool. Ninguém te diz que o primeiro dia sem álcool será o melhor dia da sua vida. Será difícil, mas, do outro lado, há um estado mental maravilhoso. Com paciência e apoio, você chegará lá.

Pessoas que sofrem de ansiedade me relatam que é questão de poucos dias para que os níveis se reduzam.

A depressão pode levar mais tempo. Depende do tipo de depressão e dos tipos de mudanças alimentares que você está fazendo.

Algumas mudanças no cérebro levam muito tempo. Por exemplo, substituir o armazenamento de ácidos graxos no cérebro pode levar meses. São diferentes as formas que a comida impacta o cérebro.

Carboidratos refinados: desestabilizadores mentais

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Georgia Ede: Carboidratos refinados, como açúcar, sucos de frutas, cereais e farinhas colocam seu corpo em uma montanha-russa de insulina. É muito desestabilizador.

Carboidratos refinados são desestabilizadores do humor.

Então, em vez de tentar uma medicação estabilizadora do humor, por que não removemos os alimentos que desestabilizam? Esta estabilidade surge em questão de dias.

Mas, há mudanças que levam muito mais tempo. Por exemplo, se você tem uma deficiência de ômega 3, não tem DHA suficiente [ômega 3 encontrado nos peixes] para que suas sinapses funcionem apropriadamente, para que seus neurotransmissores funcionem apropriadamente, isso pode levar muito mais tempo.

Muitas pessoas dizem que, quando mantêm estas mudanças, elas se sentem melhores ao longo do tempo. Você pode seguir vendo nova melhorias ao longo de um ano ou dois.

Menos proteínas para emagrecer? Talvez não.

Daisy Brackenhall: Você disse que gostava de comer grandes quantidades. Como foi brincar com os macros da Dieta Cetogênica?

Muitas pessoas que advogam a favor das dietas de alta proteína dizem que são as proteínas que saciam, outros dizem que é a gordura… E para você?

Georgia Ede: Ainda estou aprendendo sobre mim mesma. Eu seguia a Dieta Cetogênica. Isso significa que eu media meus corpos cetônicos e limitava a proteína entre 75g e 80g por dia.

Geralmente, meu peso ficava estagnado perto de 68 quilos. Eu estava feliz com este peso, mas eu precisava lutar muito para mantê-lo. Se eu não lutasse muito, facilmente subia para 72kg.

Até eu começar a limitar a proteína. Então, meu apetite sumiu.

A ideia de fome é completamente diferente em uma Dieta verdadeiramente Cetogênica, com proteínas moderadas e corpos cetônicos presentes.

De repente, não havia mais “de repentes”. Nada repentino acontecia. Não havia desconforto psicológico. Não havia urgência.

Outra questão fascinante é que, se eu não conseguisse acessar algum alimento imediatamente, isso não era um problema. Eu conseguia prosseguir por horas e horas fazendo minhas coisas.

Isso foi mágico. Entender a diferença entre fome de verdade e desejo. Entender a diferença entre fome e vontade de comer.

Segui a Cetogênica de verdade e meu peso, pela primeira vez na vida, foi para 58kg. Mas, não consegui manter isso por muito tempo, parei de medir os corpos cetônicos, deixei a proteína subir demais de novo e voltei para os 68kg com o tempo.

Corpo feminino: tudo pode mudar

Georgia Ede: Então, no ano passado, eu voltei a fazer tudo direitinho. Limitei proteínas, chequei meus corpos cetônicos, tudo como antes. Mas… Nada. Segui ganhando peso.

Do meu entendimento, eu estava tendo sintomas de pré-menopausa. Calorões, alguns episódios de enxaqueca… Ok, temos uma questão hormonal acontecendo aqui.

Tenho 53 anos. Incrivelmente, achei que precisava encontrar uma nova dieta. Eu tinha corpos cetônicos elevados, meus carboidratos estavam em menos de 20g por dia, eu não comia nada fora da dieta e estava ganhando peso.

Dieta Carnívora

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Então, há algumas semanas, eu mudei para a Dieta Carnívora. Eu já tinha experimentado a Carnívora brevemente, mas nunca tinha levado a sério. Entrei na Carnívora sabendo da minha intolerância a carnes processadas, à histamina e aos laticínios. Tem sido fantástico.

Perdi 4,5kg em seis semanas sem sequer tentar emagrecer. Me sinto melhor, os calorões sumiram, as enxaquecas sumiram.

Entro em cetose alguns dias, noutros não. É interessante. Ainda estou aprendendo sobre o que isso significa para mim. Mas, algo de diferente acontece quando tiramos todas as plantas.

Daisy Brackenhall: Você provavelmente está comendo mais proteínas agora então…

Georgia Ede: Sim, exatamente. Não tenho contado os gramas de proteínas. Pode ser que seja necessário fazê-lo ao longo do caminho, mas até agora não precisei limitar as proteínas.

Contudo, preciso dizer que é quase autolimitante. Não sinto vontade de comer essas comidas demais.

É interessante frisar que não estou em cetose todos os dias. Em alguns dias, fico com 2.0mmol/l e, em outros, 0,1mmol/l.

Mesmo assim, parece que está tudo bem. É um experimento muito novo, ainda preciso de mais informações.

Mulheres x homens: corpo e mente

Daisy Brackenhall: você tinha uma fórmula que funcionava muito bem. Você tinha um ajuste de macros e corpos cetônicos estáveis.

Um dia, você volta para isso e não funciona mais. Isso mostra como não apenas as dietas mudam de indivíduo para indivíduo, mas como também a abordagem de uma pessoa pode mudar. Especialmente, quando estamos passando por mudanças hormonais.

Georgia Ede: Sim, especialmente para mulheres. Eu realmente quero estudar e escrever sobre isso, porque a ciência não está falando sobre este assunto.

Eu sou fascinada pela conexão entre hormônios, nutrição e metabolismo. Não existe dúvida alguma sobre esta relação. Todas as mulheres sabem disso.

É diferente se você for uma mulher. Somos feitas para produzir gorduras. Somos programadas para transformar comida em gordura para que possamos gerar uma nova vida.

Há outra diferença-chave entre homens e mulheres.

Durante os anos reprodutivos, as mulheres são programadas para prestar atenção ao ambiente.

Em termos hormonais, estamos constantemente imitando o ambiente ao nosso redor.

A comida do ambiente. O estresse do ambiente. Até mesmo o clima. Isso ocorre para vermos se as condições estão corretas para engravidarmos.

Então, se você não tem calorias entrando ou os tipos certos de calorias, vitaminas, nutrientes… Se você está sob estresse excessivo, a gravidez não acontecerá.

Seu corpo mudará o equilíbrio hormonal para que você não engravide sob estas circunstâncias.

Mulheres são exclusivamente afinadas com o ambiente externo. Homens não. Eles nem precisam ser.

Ou seja, somos muito mais sensíveis. Somos muito mais sensíveis a mudanças na insulina, a mudanças no hormônio de crescimento, ao estresse, aos laticínios.

Mulheres e laticínios: o mais triste dos problemas

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Georgia Ede: As mulheres devem prestar mais atenção aos sinais hormonais que estão naturalmente presentes nos laticínios. É triste, mas precisamos prestar atenção.

Daisy Brackenhall: Você pode falar um pouco mais sobre isso? É que parece ser a comida keto perfeita, tem a gordura, tem a proteína, é delicioso, mas frequentemente as mulheres descobrem que precisam restringir.

Georgia Ede: Muitas pessoas não têm problemas com laticínios. Eu realmente queria ser uma destas pessoas, porque é delicioso e faz tudo ficar delicioso.

Muitos falam de “produtos de origem animal” como se fosse uma única coisa: carne vermelha, frutos do mar, frango, ovos e laticínios. Mas, há diferenças imensas entre eles. Inclusive, preciso olhar com cautela para os ovos no futuro.

Bem, laticínio não é carne. Os tipos de gorduras e proteínas são diferentes. Os hormônios são diferentes, até o propósito do laticínio é diferente.

O laticínio é uma fórmula de crescimento para um animal jovem. O que nós comemos é uma fórmula de crescimento para bezerros. Esta fórmula é incrivelmente eficiente e transforma um bezerrinho em uma grande vaca.

Para isso, é preciso muita proteína, gordura, hormônios e sinalização endócrina.

Ou seja, não é apenas uma fonte de calorias. É uma fonte de moléculas sinalizadoras que liga o sistema de crescimento em bezerros. Ativa a insulina e os fatores de crescimento no bezerro e, claro, em nós.

Alguns cientistas já argumentaram que laticínios podem ser a causa de doenças da civilização ligadas ao crescimento excessivo, como câncer, obesidade em nenês… Pode não acontecer com todas as pessoas, mas há evidências sólidas.

Daisy Brackenhall: sim, a lógica disso tudo é tão óbvia. São substâncias que literalmente funcionam para criar boi gordo, por que não faria o mesmo conosco?

Como você disse, não impactará todas as pessoas da mesma forma, mas pode ser a razão pela qual muitas lutam para perder peso e, quando se livram dos laticínios, realmente ajuda.

Georgia Ede: No meu caso, eu não consigo comer laticínios sem ficar louca de fome no dia seguinte ou ficar obcecada com produtos derivados do leite. Mesmo que eu esteja reduzindo calorias e esteja em cetose, eu ganho peso comendo laticínios.

Eu sou particularmente sensível, sei que muitos não são, mas, quando alguém está em uma Dieta Low Carb e, mesmo assim, não perde peso ou chega a um plateau [não perde peso por algumas semanas ou meses], eu geralmente recomendo que experimentem tirar os laticínios por algumas semanas.

Escolha e ame suas batalhas

Georgia Ede: É muito difícil fazer experimentos e retirar laticínios, porque pessoas em Dietas Low Carb já desistiram de tantas coisas. Desistir de mais uma coisa é… Psicologicamente infeliz, digamos assim.

Estas pessoas, que ainda estão lutando para perder peso, lutando com compulsões e desejos, vieram de tão longe… Elas conquistaram tanto apenas por eliminarem os carboidratos.

Você precisa escolher suas batalhas.

Você não precisa ser perfeita. Se você entrou em plateau em um peso que é 25kg a menos do que era no passado, bem, isso é um milagre. Isso deve ser celebrado. Talvez, é aqui que você deva ficar.

Mas, outras pessoas ficam frustradas e querem fazer mais e chegar noutro lugar. Então, são ferramentas que podemos indicar para elas atingirem suas metas.

Informe-se e seja feliz com suas decisões

Daisy Brackenhall: Se fosse comigo, se você me perguntasse “você quer perder cinco quilos e parar de comer queijo ou manter cinco quilos a mais com queijo”, eu ficaria com o queijo.

Georgia Ede: Sem julgamentos. Todos fazemos escolhas. Todos comemos o que queremos comer e sermos o que queremos ser.

Eu sigo a crença “coma e deixe comer”. Alimentação é pessoal. Ninguém deve dizer ao outro o que comer. Claro, à exceção de pessoas que vêm até mim pedir conselhos.

Eu acredito na informação. Eu informo as pessoas e elas fazem o que quiserem.

Daisy Brackenhall: Esta é a chave, certo? Prover informação para que as pessoas tomem decisões com base em educação sobre nutrição.

Ninguém gosta de fazer o que outros mandam. Mas, explicar as consequências de determinados alimentos no corpo e na mente dá o poder da escolha.

Georgia Ede: Sim, meu padrão é a curiosidade. É estimular a curiosidade nos pacientes para que eles descubram o que pode acontecer quando mudarem a alimentação.

Esta abordagem é muito mais interessante do que apenas dizer: é isso que você deve fazer. Na realidade, eu nem pergunto mais sobre o que as pessoas comem.

Quando eu fazia aconselhamento nutricional, eu cometi muitos erros. Um destes erros era presumir que as pessoas queriam saber sobre nutrição. Outro era perguntar sobre o que comiam. Isso não importa.

Você dará a mesma informação para todos. Quando você pergunta sobre a alimentação da pessoa, você a coloca em um lugar desconfortável e ela se sentirá julgada.

Eu só preciso dar informação sobre como a comida opera no corpo. Eles decidem o que fazer.

Resistência à insulina e perda de peso

De qualquer forma, eu peço exames de sangue para todos, para vermos onde estão com as questões de resistência à insulina.

A resistência à insulina tem um impacto gigantesco na saúde mental. Há testes tão simples, como triglicerídeos, HDL, insulina em jejum ou glicose em jejum, este último é o menos importante.

Mas, são testes simples e nada pessoais. Os pacientes podem olhar os números e… Não é como medir o peso de alguém. As pessoas não são emocionalmente apegadas ao número no exame como são ao número na balança.

Eu peço os testes e converso sobre os resultados. É tão motivador, porque os números podem mudar em poucas semanas.

O paciente vê os índices melhorarem e ele se sente empoderado: “veja o que eu consegui fazer!”. “Veja o impacto que eu já tive na minha vida, no meu risco para Alzheimer, Diabetes, Obesidade, Câncer e todos os tipos de coisas.”

Tudo isso sem falar sobre dieta.

Eu não falo sobre peso, é a menor das minhas preocupações. Eu não me importo, eu realmente não me importo com o peso.

O peso é um sintoma de um problema mais profundo. Precisamos chegar a este problema. Precisamos falar sobre seu metabolismo, não sobre seu peso.

Não é você, são seus hormônios

hormonios femininos e dieta

Daisy Brackenhall: Se a pessoa está mostrando que há um problema na superfície, um problema como a obesidade, isso mostra que há uma questão profunda acontecendo.

Mas, não é indicativo de todas as coisas que são relacionadas à obesidade, como preguiça, voracidade e todas as coisas que os outros associam.

Georgia Ede: Sim. O sobrepeso é uma pista. Apenas uma pista para uma desordem metabólica. É só isso.

É hormonal.

As pessoas costumavam rir quando as mulheres acima do peso diziam que tinham uma questão hormonal. Riam e diziam que não era hormonal, que a mulher comia demais, se exercitava de menos ou comia alimentos errados.

É sim hormonal. É 100% verdade.

Todos conhecemos alguém que pode comer o que quiser o dia inteiro por décadas sem ganhar um grama sequer. O que é isso?

A lógica para comida é a mesma que uso para trabalhar com vícios: a culpa não é sua.

Você pode fazer algo a respeito se quiser, existem ferramentas. Se você veio até mim para perder peso, se esta é a sua meta, eu vou te dar as informações certas e você perderá peso.

Mas, não é sua culpa que você chegou até aqui. A questão é que você não teve as informações corretas para mudar a química do seu corpo.

Outra questão que devo falar, que é triste, mas é verdade. É verdade para mim também. Se algum dia da sua vida você teve sobrepeso, você será diferente para sempre. Você terá que observar sua saúde com cautela.

Seu metabolismo foi prejudicado de tal maneira, que ele não voltará à normalidade.

Agora, você tem uma condição de vida. Mesmo que você volte para o peso ideal, isso não significa que seu sistema endócrino está normal.

Eu sei que não é justo. Eu digo para as pessoas que não é justo. Não é sua culpa e não é justo. Mas, há coisas que podemos fazer. Podemos progredir.

Medo, culpa, vergonha e julgamento

Daisy Brackenhall: Eu perdi muito peso e flutuo ocasionalmente. Mas, meu maior medo é voltar a ser o dobro do meu tamanho novamente. Depois da primeira bariátrica que fiz, eu voltei a pesar o que pesava em poucos meses.

O sentimento de voltar àquele lugar é assustador. Pessoas que perderam muito peso, como eu, sentem um terror de perder o controle e voltar para aquele lugar, onde não cabíamos em um assento de avião.

Georgia Ede: há tanta vergonha associada com obesidade. Existe a vergonha interna e o julgamento externo de pessoas que nunca tiveram problemas de peso na vida.

Elas não sabem a dificuldade que é. São pessoas sortudas com relação ao metabolismo. Elas não compreendem a dificuldade.

E sim, é mais fácil com Low Carb. E é muito mais fácil com a Dieta Cetogênica e, para mim, é ainda mais fácil com a Carnívora, ou neste intermediário entre Keto e Carnívora que estou, nem sei onde estou… Mas, pense em todos os sacrifícios e todo o esforço pelo qual passei.

Se eu não tivesse abandonado todas estas comidas e cuidado tanto, estudado tanto, eu sei que estaria com 100 quilos ou mais. Tudo por causa da minha família, da minha propensão a ganhar peso.

Quando os outros nos julgam, eles não têm ideia de onde a pessoa está na sua jornada individual.

Eu posso estar olhando para alguém com 100kg, mas esta pessoa pesava 150kg antes. Há tanta informação que não temos sobre os outros.

Eu estava falando sobre como ganhei peso no ano passado. É muito mais difícil ganhar peso se você trabalha com nutrição. Eu sei como isso afeta minha credibilidade.

Eu não tive apego com a questão do peso, mas eu sei que quem assiste aos meus vídeos ou me segue enfim, eu sei que perderei uma parcela significativa da minha audiência.

São pessoas que poderiam se beneficiar das informações, mas que deixam de ver se eu estiver acima do peso. Como se eu não soubesse o que estou dizendo.

Quando eu dei minha palestra no Low Carb Breckenridge, você pode ver no vídeo que estava mais pesadinha, as pessoas comentaram nas mídias sociais. Foi humilhante.

“Bem, não sei se aceito conselhos de uma especialista em nutrição acima do peso.”

Fico feliz que disseram isso, porque chamou minha atenção. Trabalhei pra compreender como eu me sentia, se eu dizia algo. Me motivei a encontrar o porquê desta minha questão hormonal. Isso que eu ganhei uns 7 ou 8 quilos em um ano.

Imagine como é para as mulheres que têm 20, 30 ou até 100kg para perder. Imagine o que é para elas diariamente com relação ao que as pessoas presumem sobre elas. É assustadoramente injusto.

[assista à palestra logo abaixo, mas não deixe de prosseguir a entrevista!]

Sabedoria é saber com quem você deve aprender

Daisy Brackenhall: Só temos credibilidade se seguirmos as ideias dos outros sobre o peso ideal. É insano.

Georgia Ede: Há tantas pessoas no mundo da nutrição até Low Carb que estão acima do peso. Eles lutaram, fizeram progresso imenso. Sinto que há muita sabedoria, conhecimento destas pessoas. Você não sabe onde elas estão nas trajetórias pessoais.

Eu aprendi mais com pessoas que se recuperam de vícios do que de pessoas que conseguem tomar um drinque e ir embora. Pessoas que se recuperam de vícios e que, ocasionalmente, têm recaídas, eu aprendo com elas. Elas têm muito a nos ensinar.

Dou muito crédito para estas pessoas por falarem de suas questões publicamente. Há um imenso desperdício de conhecimento ao se desconsiderar pessoas acima do peso.

Daisy Brackenhall: Qual é o peso ideal para a credibilidade? Já vi críticas para pessoas acima do peso e críticas para pessoas magras demais. Qual é este ideal?

Se alguém está saudável e feliz, fazendo o que querem fazer, mas os outros decidem que estão gordas ou magras demais, elas não têm credibilidade.

Georgia Ede: Não sei qual é o número ou aparência ideal. Na minha mente, eu separo a qualidade da informação e a integridade, a honestidade das pessoas daquilo que elas aparentam.

Mas, a aparência tem um papel gigantesco para as pessoas. É provavelmente algo evolutivo. Nós julgamentos e pré-julgamos.

Somos visualmente preconceituosos. Há diversos estudos sobre isso inclusive. Tomamos decisões e conclusões instantâneas sobre os outros com base na aparência.

Não posso fazer muito sobre isso, mas encorajo as pessoas a pensarem duas vezes. Se alguém está sendo íntegro, honesto e compartilhando sua história com você, escute a história.

E, vamos ser honestas, qual o problema da pessoa ter toda esta informação correta e escolher não aplicá-la?

Qual o problema da pessoa conhecer tudo isso e escolher estar acima do peso, comendo o que quiser? São escolhas e está tudo bem. As coisas não são todas morais ou éticas. São pessoais.

Eu não sou uma especialista em perda de peso. Eu sou uma psiquiatra. Eu tenho experiências sobre perda de peso que são minhas.

Mas, pessoas que se autopromovem como especialistas em perda de peso têm um caminho muito mais difícil se tiverem questões de saúde individuais, porque é como você pegar informações sobre sobriedade de alguém que está bebendo.

“Jacadas”, recaídas, tranquilidade e humanidade

Georgia Ede: Recaídas são questões naturais, fazem parte de sermos humanos. Fazem parte das transformações.

Mudanças não são linhas perfeitas. Tampouco, se tratam de perfeição. É um processo. Você não sabe onde a pessoa está em seu processo.

Nosso peso não é estável. Para a maioria de nós, sobe e desce. Claro, se você não tem um sistema endócrino quebrado, seu peso é estável.

Cresci com mulheres cujo peso era sempre o mesmo por anos, independentemente do que comiam. É uma experiência que desconhecemos. Nosso sistema está quebrado e o que podemos fazer é administrar a situação.

Adoraria ser um modelo de perfeição para mulheres na menopausa com problemas de peso, mas não serei. Estou fazendo o melhor que posso com o que tenho. É isso.

Hormônios depois dos 40

Gostaria de compreender melhor como funcionam as mudanças hormonais por volta dos 50 anos e ajudar estas mulheres a lutarem a boa luta.

Acredito que tenha muito a ver com a queda no hormônio de crescimento nos anos de perimenopausa [anos prévios à menopausa].

Não é tudo insulina. Não é tudo carboidratos. Também se trata da queda do hormônio de crescimento, que ajuda a manter a massa muscular. Então, exercícios de força podem melhorar os níveis deste hormônios, por exemplo.

Fica muito claro que não é tudo resolvido com Low Carb. Eu estava na Dieta Low Carb firme e forte, em cetose, e ganhando peso. Então há alguma coisa além acontecendo. Muitas coisas além acontecendo.

Daisy Brackenhall: Uma vez que a fase reprodutiva acaba, é óbvio que nossos corpos terão necessidades diferentes. Faz sentido que tantas pessoas precisem fazer mudanças em coisas que eram boas para elas.

Homens, mulheres, depressão e ansiedade

ansiedade depressão mulheres

Georgia Ede: Eu dei uma palestra na Smith College para moças sobre hormônios e saúde mental. Estudei e aprendi muito me preparando há alguns anos.

Tentei entender por que mulheres, nos anos reprodutivos, têm duas vezes as taxas de ansiedade e depressão, comparadas aos homens. Olhei e olhei na literatura e as pessoas apenas não sabem.

Não sabemos por que as mulheres, a partir da puberdade até a menopausa, têm duas vezes mais chances de sofrerem de ansiedade ou depressão.

Quanto mais mergulhei nisso, mais me perguntava sobre o paradoxo de sermos mais sensíveis à insulina durante este período. Foi surpreendente averiguar que os homens têm mais chances de terem resistência à insulina nos anos reprodutivos.

Eu sabia que as mulheres tinham mais problemas com peso, então, pensava que nós éramos mais resistentes à insulina, mas não é o caso.

Creio que, como a insulina e o estrogênio ficam falando com o cérebro o tempo inteiro, estes níveis, que flutuam com a dieta e com os ciclos hormonais naturais, colocam o cérebro em uma montanha-russa se você come da forma errada.

Se você come da maneira “correta”, tudo se ajusta. Não acredito que fomos feitas para termos oscilações de humor em cada ciclo. Isso não faz sentido.

Não fomos feitas para termos depressão pós-parto.

Depressão pós-parto é exatamente a última coisa no mundo que a evolução escolheria para nós. Parar de cuidar do nenê ou até gerar mal ao nenê.

Isso ocorre, acredito, por influências externas, primordialmente por causa da dieta. Outras questões externas também, como químicos, antibióticos, agrotóxicos, mas a alimentação tem um papel fundamental.

Enfim, há  tanta coisa que ainda precisamos aprender sobre por que mulheres são tão diferentes quando falamos de peso, de saúde mental.

Há um universo inexplorado aqui, que precisamos compreender. Sempre estudamos o metabolismo dos homens e simplesmente não é a mesma coisa.

Gostaram? Compartilhem com mulheres em Dietas Low Carb, Cetogênica e Carnívora.

Me indiquem conteúdos sobre o tema de fontes que vocês confiam. Vamos criar um ambiente seguro e confiável com as (poucas) informações que temos sobre nossa saúde, nosso metabolismo e, claro, sobre nossos medos, dificuldades e desejos. 

Escutem o podcast com a Dra. Georgia na íntegra (inglês).

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Georgia Ede | Leituras extras relacionadas:

Laticínios, a grande dor da vida: Leia o especial sobre laticínios e dieta no site da Dra. Georgia Ede

Whey: Durante o podcast, Georgia Ede fala sobre o whey e um experimento pessoal é trazido à tona. 

“Sabemos que, se isolarmos whey dos laticínios, ele pode não tocar no açúcar do seu sangue, mas ele aumenta sua insulina tanto quanto carboidratos refinados. Não é algo que a pessoa padrão com resistência à insulina quer ou precisa.”

Daisy Brackenhall sugere a leitura do experimento conduzido por Richard Morris, do podcast 2 Keto Dudes, que compara whey e claras de ovos. O surpreendente resultado foi postado no Ketogenic Forums.

Georgia comenta: “gostaria de ver uma experimentação entre Whey e carne, porque o ovo também é uma fórmula de crescimento para pintinhos. Pode não ter efeitos tão profundos quanto os laticínios, mas, gostaria de comparar Whey com uma proteína animal que não foi criada para ser uma fórmula de crescimento, como um pedaço de carne.”

Vegetais por quê? Assista a uma das primeiras palestra da Georgia no mundo da nutrição ancestral: o mito dos vegetais