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“Dieta Cetogênica não é igual para homens e mulheres” Em entrevista, Janaína Koenen explica como deve ser a Keto para mulheres

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Especificidades femininas na Dieta Cetogênica. O que muda e o que não muda para as mulheres na Keto? Somos regidas por ciclos e precisamos lidar com mudanças abruptas de hormônios e neurotransmissores o tempo inteiro. Será que nada muda para as mulheres em um programa tão poderoso quanto a Cetogênica?

Será que comeremos o mesmo que os homens? Será que manteremos a mesma alimentação ao longo do ciclo menstrual? Quais serão os desafios que apenas nós, maravilhosas mulheres, teremos que enfrentar nesta dieta?

Perda de peso estagnada, TPM, Síndrome do Ovário Policístico, Menopausa, Fadiga, transtornos mentais e oscilações do humor, fertilidade… São tantas as questões! Eu precisava de um médico para nos responder sobre tudo isso. Na realidade, eu precisava de uma médica!

Felizmente, encontrei a Dr. Janaína Koenen. Felizmente, por muitos motivos. Foi ela que me abraçou quando a Cetogênica começou a dar errado para mim. Foi a Dra. Janaína que me orientou em algumas horas de conversa trocadas via áudio – não apenas sobre mim, mas sobre mitos e fatos relacionados à Keto.

Fico feliz por ter tido uma endocrinologista especialista em Cetogênica ao meu lado nos momentos mais obscuros desta jornada. Trago-a para cá, porque sei que ela te ajudará também.

Esta entrevista, repleta de estudos científicos, informações e experiências clínicas, esclarecerá tudo aquilo que eu (e possivelmente você) precisa saber para cada mínimo problema que pode acontecer durante sua jornada Keto.

Se você é mulher e está na Dieta Cetogênica, salve este conteúdo em seu navegador. Retorne a ele sempre que se deparar com algum problema. A resposta estará ali, em alguma das incontáveis dicas fornecidas pela Dra. Janaína Koenen.

A Dra. Koenen mantém um perfil no instagram e uma página no facebook muito ativos, onde compartilha lives e informações preciosas e confiáveis sobre a Dieta. Não deixem de segui-la.

A endocrinologista atende em Belo Horizonte, mas seu coração se estende pelo Brasil inteiro. Acesse o site da doutora para conferir o endereço do consultório.

Vamos começar conhecendo a história não da doutora, mas da paciente Janaína. A trajetória dela até chegar à Cetogênica é familiar às histórias que vocês compartilham comigo…

Uma pane geral no corpo e diversos médicos receitando tratamentos sem resultado. Confira abaixo a fala da Dra. Koenen e, logo após, leia a entrevista com a endocrinologista.

Meu mais profundo agradecimento à doutora pelo imenso tempo dedicado a nós. Em nome de todos os leitores do Revolução Keto.

Entrevista Dra. Janaína Koenen: Dieta Cetogênica não é igual para homens e mulheres

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Dra. Janaína Koenen: como cheguei à Cetogênica

Revolução Keto: Primeiramente, gostaria que a doutora comentasse um pouco sobre sua história, sobre sua “descoberta” da Keto. 

Dra. Janaína Koenen: Descobri a dieta cetogênica em uma busca pessoal por saúde. Em 2014, estava com vários distúrbios gastrointestinais (desde 2010, com intolerância à carne vermelha, intolerância à lactose, mal-estar, fadiga crônica, anemia sem causa definida). Tinha, também, uma enxaqueca grave e estava ganhando peso.

Já havia me consultado com 2 gastroenterologistas, 3 nutricionistas e 2 endocrinologistas. Eu já era endocrinologista na época. Tive também uma tireoidite e meus anticorpos indicavam Hashimoto.

Eu já havia cortado açúcar há mais de 3 anos. Comia pão integral, arroz integral, carne branca, leite sem lactose, derivados sempre magros do leite, cozinhava com óleo vegetal (canola ou girassol). Ou seja, seguia as recomendações que eu havia aprendido na faculdade e que me foram recomendadas por todos esses especialistas.

Decidi que buscaria respostas sozinha e comecei a estudar sobre nutrição e microbiota. Fui a alguns congressos de nutrição. Em um deles, assisti a uma aula sobre grãos integrais causando leaky gut (aumento da permeabilidade intestinal) e processos autoimunes.

Foi aí que caiu a ficha. Cortei tudo. Ouvi falar sobre Low Carb e acabei entrando no site do Dr. Souto. Li a primeira postagem do blog e comprei na hora o livro do Gary Taubes (comprei todos na verdade) e li tudo. A partir daí, li tudo o que encontrei sobre o assunto, em livros e na literatura científica.

Iniciei a cetogênica e, em 30 dias, tive reversão de todos os meus problemas de saúde. Isso mesmo… todos, sem exceção.

Não preciso dizer que me apaixonei por esse estilo de vida. Entrei em cetose de cara e não tive nenhum problema com a perda de peso ou com ciclos menstruais. Me adaptei imediatamente.

Dietas: diferenças entre homens e mulheres na perda de peso

Revolução Keto: Sabemos que a perda de peso, na mulher, é menor do que nos homens. Há outras especificidades femininas às quais devemos ficar atentas?

Dra. Janaína Koenen: Se você e um homem começam uma dieta juntos, ambos fazendo exercício e seguindo tudo à risca, o homem geralmente consegue emagrecer mais que a mulher e bem mais rápido também.

As mulheres são completamente diferentes dos homens hormonalmente. Como, em teoria, nós devemos estar sempre “prontas” biologicamente para engravidar (pelo menos na idade fértil), o nosso corpo tem algumas “defesas” extras contra a perda excessiva de peso:

  • Temos mais gordura corporal que os homens (reserva!)
  • Temos menos massa magra: metabolismo basal menor, ou seja, gastamos menos energia em repouso que os homens. Quanto mais massa magra, melhor o metabolismo basal. Por isso é tão importante exercício resistido (academia) para as mulheres em um programa de perda de peso.
  • Ciclo menstrual: hormônios mudando o tempo todo, oscilações de humor, TPM, vontade de comer doces. Isso é uma desvantagem para as mulheres.
  • Menopausa: a mulher começa a ter redução do metabolismo basal a partir dos 30 anos de idade. Após a menopausa, isso fica gritante. Ocorre grande perda de massa magra e aumento de gordura corporal. As mulheres que fazem musculação antes e durante a menopausa engordam menos. A reposição hormonal, quando bem indicada, pode ajudar muito.
  • Síndrome dos ovários policísticos não diagnosticada (SOP): o menor dos problemas propriamente ditos são os cistos nos ovários. Essa síndrome é uma doença de resistência insulínica, que aumenta o risco de diabetes, obesidade, síndrome metabólica em geral, além da infertilidade. De 12-21% das mulheres em idade reprodutiva têm SOP e 70% delas sequer sabem disso! (1)
  • Se você é a cozinheira da sua casa, isso pode dificultar, pois estará exposta à tentação sempre. Então, você tem que ter força de vontade extra.
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Dra. Janaína Koenen e sua turma de pós-graduação na Univiçosa

Baixíssimos carboidratos: consequências para o organismo feminino

Revolução Keto: O que uma Dieta com carboidratos muito baixos pode gerar nos hormônios femininos e como as mulheres podem minimizar os riscos e possíveis desordens se optarem por se manter em cetose constante, seguindo a Cetogênica?

Dra. Janaína Koenen: A resposta à drástica redução de carboidratos nas mulheres é diferente e depende do grau de restrição e da velocidade de restrição dos carboidratos.

Na verdade, qualquer evento que afete a saúde da mulher pode também afetar os hormônios sexuais.

Os hormônios afetam a saúde feminina de diversas maneiras:

  • O estrogênio protege a saúde cardiovascular. Tanto é assim que, na menopausa, o risco de infarto e AVC é aumentado.
  • Estrogênio e progesterona afetam os níveis de neurotransmissores, o que explica porque mudanças nos hormônios afetam humor, sono e funções cognitivas.
  • A progesterona inibe o sistema imunológico, especialmente na gravidez.
  • O estrogênio é importantíssimo para a saúde óssea. Na menopausa, o risco de osteoporose aumenta com a queda desse hormônio.
  • Os níveis de progesterona afetam os hormônios da tireoide.

A cetose:

  • Reduz a resistência insulínica e os níveis de insulina, o que permite a perda de gordura e um melhor metabolismo da glicose.

Algumas mudanças devem-se à retirada de disruptores endócrinos da dieta (substâncias que influenciam nos hormônios).

Um deles é o óleo de soja e fast-food, preparado neste óleo. O óleo de soja e o consumo de soja aumentam os níveis de estrogênio e a sua retirada abrupta pode gerar uma queda nesse hormônio (até o corpo se adaptar novamente), causando sintomas de falta de estrogênio (redução de libido, secura vaginal, alterações de humor e de sono) (2 e 3).

Isso é mais comum em mulheres que comem muito fast-food. É transitório e melhora em 1 ou 2 meses (geralmente, melhora em 30 dias)

Em algumas mulheres, a retirada dos carboidratos de uma vez e de um nível muito alto para menos do que 20g/dia (cetogênica) pode fazer o corpo entrar em módulo de inanição. Basicamente, o corpo acha que você está passando fome e em risco de vida e aumenta o hormônio do estresse: cortisol.

Esse hormônio, quando elevado, aumenta a fome, estimula o acúmulo de gordura e inibe o ganho de massa magra. Isso pode fazer você até mesmo engordar!

Na minha prática clínica, percebo que 1 em cada 20 pacientes passa por isso e temos que ajustar a dieta nesse caso.

Dieta Cetogênica e Fertilidade

Revolução Keto: E se a mulher estiver na Cetogênica para fertilidade, para engravidar?

Dra. Janaína Koenen: Se a prioridade for engravidar e você entrar abruptamente na cetogênica, pode ser que seu corpo entenda que não é hora de engravidar e você pare de menstruar.

Isso não significa que cetogênica cause infertilidade. Pelo contrário, mulheres com ovários policísticos inclusive voltam a menstruar e melhoram a fertilidade com esse estilo de vida, pois melhora a resistência insulínica (4 e 5).

É tudo uma questão de individualizar e entender que seu corpo pode responder dessa forma (não é uma regra). Se acontecer, vou te dar umas dicas para melhorar e para recomeçar de forma diferente para que funcione para você!

Uma dieta hipocalórica ou a perda excessiva de peso com queda acentuada da porcentagem de gordura corporal (<8-9%) pode ter o mesmo efeito. Neste caso, apenas o ganho de peso resolve o problema.

Isso ocorre em qualquer dieta hipocalórica (low carb ou não) que resulte em perda excessiva de gordura corporal.

Revolução Keto: Quais mulheres têm maior risco de terem esses problemas entrando em cetose rápido demais?

Dra. Janaína Koenen: Mulheres muito ativas fisicamente, que se exercitam diariamente e de forma intensa por mais de uma hora.

  • Mulheres que fazem treinos muito intensos/pesados na academia/corrida (atletas) > 3 a 4 vezes por semana.
  • Mulheres tentando ganhar massa magra.
  • Muito cansaço após os treinos: é sinal de que algo está errado.
  • Na perimenopausa ou menopausa.
  • Gestantes ou lactantes (amamentando): não são momentos para testar nada, se você já fazia e já está adaptada, tudo bem mas, mesmo assim, tenha o acompanhamento de um nutricionista e um médico com experiência (o obstetra deve concordar também).
  • Mulheres que comiam altíssimas quantidades de carboidratos e fast-food antes de começar.
  • Mulheres já muito magras, com baixa porcentagem de gordura corporal.

(Vídeo acima: Dra. Janaína Koenen dá 10 dicas para a Dieta Low Carb em 2018)

Como mulheres podem evitar problemas na Dieta Cetogênica?

Quais dicas da Dieta Cetogênica a doutora pode dar a estas pacientes? Como evitar a estagnação do peso logo no início ou até mesmo um problema hormonal?

Dra. Janaína Koenen: Comece devagar. Digamos que você comia de 200 a 250g de carboidratos líquidos/dia (carboidratos totais menos as fibras – use o aplicativo fat secret).

  1. Na primeira semana, fique entre 100-150g de carboidratos. Termine a semana com 100g/dia.
  2. Na segunda semana, fique entre 50-100g de carboidratos líquidos/dia.
  3. Na terceira semana, comece com 50g e termine a semana com menos de 25g de carboidratos líquidos/dia.

Isso funciona para quem entrou na cetogênica de cara e engordou ou não emagreceu. Comece do zero e siga essa dica.

Se você se sentir cansada demais e sem energia, faça as transições de 2/2 semanas. Lembre-se que o cansaço pode ser apenas por falta de sal e água!

Outras dicas:

  • Coma calorias suficientes: a dieta cetogênica tira o apetite, então é interessante você anotar o que come ou acompanhar num aplicativo (eu sugiro o fat secret), para que não reduza demais as calorias. Consulte um médico para fazer uma avaliação hormonal mais completa e um nutricionista para acompanhar as calorias e fazer esses ajustes durante o processo.
  • Não jejue (no início). Jejum aumenta cortisol, o que neste momento pode não ser bom.
  • Não se exercite demais (no início). Prefira musculação/pilates leves e caminhadas.
  • Coma mais gordura: ajuda na regularização hormonal, na saciedade, nos níveis de energia, melhora a abstinência de doces e de cafeína, na energia para malhar. Dicas são cortes mais gordos de carne, mais azeite na salada, abacate, castanhas, azeitonas, queijos gordos.
  • Coma proteína suficiente (converse com seu médico e nutricionista). Se você não atingir as suas necessidades diárias de proteína, pode ser que tenha muita fome, mesmo comendo muita gordura.
  • Controle o estresse emocional: caminhadas, yoga, mindfulness (meditação)
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Dra. Janaína Koenen dando sua aula no curso “Low Carb na Síndrome metabólica com evidências”, ministrado em parceria com o Dr. José Carlos Souto, em 2018, na FUMEC/BH.

Ciclos hormonais na Cetogênica: como equilibrar dieta e hormônios femininos

Revolução Keto: Os ciclos hormonais femininos sempre surgem como um grande desafio na Cetogênica. Os poucos divulgadores da Keto para mulheres afirmam que deve haver adaptações, em virtude dos hormônios. Quais as principais mudanças que elas devem fazer? 

Dra. Janaína Koenen: Se você tem uma TPM (tensão pré-menstrual) muito forte, com cólicas aumentadas etc você pode ter alguns desafios na dieta cetogênica. Passarei algumas dicas:

  • Dor de cabeça se você não se hidratar adequadamente e ingerir bastante sal: nessa época do mês, vale a pena prestar atenção nisso.
  • Cólicas: geralmente, melhoram muito na cetogênica. Mas, no período de adaptação, podem ser um gatilho para mau humor e furadas com doces.
  • Ganho de peso durante o período menstrual: nem se pese! Você retém líquido nessa fase mesmo, depois volta ao normal.
  • A vontade de comer chocolate pode ser grande! A resistência insulínica aumenta abstinência de carboidratos e dificulta a perda de peso.
  • Manter-se na cetogênica pode ser difícil, mas existem alguns doces low carb com cacau que ajudam muito!

Mulheres com problemas na tireoide podem ter deficiência de progesterona e infertilidade.

Em mulheres com dietas de baixíssima caloria ou cetogênica pode haver queda do T3. Isso ocorre também no platô. É uma maneira de o organismo reduzir o metabolismo para evitar que você perca mais peso.

A queda nos hormônios tireoideanos também pode reduzir a SHBG (Globulina ligadora de hormônios sexuais), deixando mais estrogênio circulante livremente e isso pode gerar ciclos com maior fluxo menstrual ou mais longos.

Se isso acontecer, coma pelo menos 50g de carboidrato líquido ao dia ou cicle carboidratos (falaremos disso mais tarde) e aumente a ingesta de gordura. Evite dieta hipocalórica.

Benefícios da Cetogênica para mulheres

Revolução Keto: Quais os benefícios que mulheres podem ter em uma dieta de baixíssimos carboidratos? Não falo apenas sobre desordens hormonais graves, mas como também a questão do equilíbrio hormonal, quase que uma utopia feminina. A Cetogênica mais ajuda ou atrapalha a saúde hormonal?

Dra. Janaína Koenen: A dieta cetogênica, de acordo com a literatura científica disponível, ajuda a saúde hormonal não só feminina como masculina também.

A cetogênica melhora a resistência insulínica (o que pode melhorar a fertilidade nas pacientes com SOP), melhora a inflamação, a memória (7 e 9), a disposição e performance (9), a compulsão alimentar, alguns transtornos de humor (inclusive bipolaridade).

Uma revisão recente (8) mostrou também que a dieta cetogênica melhora a saúde cardiovascular, trata epilepsia, melhora a acne, além dos benefícios citados acima.

A dieta cetogênica tende a promover perda da gordura sem perda de massa magra e até de ganho de massa magra (10). Isso se mantém mesmo em mulheres (11 e 12).

Na menopausa, o consumo aumentado de gorduras pode ajudar muito nesse período, inclusive atrasando a menopausa e ajudando os hormônios a caírem mais devagar.

Lembrem-se que o colesterol é essencial para a produção dos hormônios sexuais. Um aumento de 5% na ingesta de gordura pode aumentar o estrogênio e a testosterona em 12% em mulheres na menopausa (13).

Com relação à compulsão alimentar, a dieta cetogênica melhora o desejo por carboidratos simples e refinados e alimentos com gorduras trans (fast-food).

Estudos mostram que ela também melhora a qualidade do sono e da performance sexual (14).

Na minha prática clínica, observo uma piora inicial no sono (excesso de energia relatado pelo paciente) e, com a cetoadaptação, uma melhoria importante do mesmo.

Sabemos que a rápida perda de peso pode, às vezes, cursar com queda do estrogênio agudamente e ciclos anovulatóros (irregularidade menstrual) (15).

Porém, isso ocorre em qualquer dieta que leve à perda rápida de peso. Com à adaptação do corpo à dieta, isso tende a melhorar. Você pode ter também um fluxo menstrual mais intenso no começo e isso é normal, melhora também.

(Vídeo acima: em entrevista, Dra. Janaína Koenen fala sobre o consumo de gorduras na dieta em 2017)

Mudanças na alimentação ao longo do ciclo menstrual

Revolução Keto: Uma dúvida que surgiu nas minhas pesquisas foi a indicação de diferentes “tipos” de Cetogênica ao longo do ciclo menstrual feminino. Gostaria que a doutora validasse ou desmentisse a necessidade de ir alterando a alimentação durante os diferentes níveis hormonais.

Dra. Janaína Koenen: Sabemos que a resistência insulínica varia nas fases do ciclo menstrual.

Ela aumenta 18% no meio da fase folicular (a fase folicular vai do 1º dia da menstruação até a ovulação, em torno do 14º dia) e cai em 15% no final da fase lútea (perto da menstruação) (16).

Após a ovulação (geralmente no 14º dia), a progesterona aumenta muito, aumentando também a resistência insulínica (17).

A progesterona é um hormônio termogênico, ou seja, ocorre produção de calor (geralmente a temperatura corporal aumenta). Com isso, o gasto metabólico basal também é elevado e o apetite aumenta muito.

Os níveis de serotonina também caem após a ovulação, dando um desânimo, uma tristeza em algumas mulheres. A dica é comer mais proteína e gordura nessa fase, podendo aproveitar para ingerir fat bombs de cacau (sem perder a noção!).

Um bom momento para ciclar carboidratos é no início da fase folicular, pois o estrogênio está alto (do primeiro dia da menstruação até o 5º dia).

Seria interessante comer mais carboidratos nos primeiros 5 dias (a contar pelo 1º dia da menstruação).

Geralmente, seriam de 80-120g de carboidrato líquido/dia, com o carboidrato paleo ingerido no jantar (batata doce, inhame ou outro tubérculo) ou mais frutas vermelhas como amoras e mirtilo batidas ou com nata (vale apena consultar com nutricionista ou médico com experiência).

Na segunda semana do ciclo, reduza para 50-80g de carboidrato líquido por dia (mulheres ativas fisicamente!).

Após o 14º dia até a menstruação, fique abaixo de 25-30g de carboidrato líquido/dia e aumente proteínas e gorduras (o suficiente para ter saciedade e não fazer dieta hipocalórica).

Mulheres muito ativas, que treinam diariamente ou fazem exercícios pesados mais do que 3 a 4x/semana, podem ingerir mais carboidrato nessa fase (em torno de 50g de carboidratos líquidos com 25g de carboidratos no pré-treino ou pós-treino, dependendo do tipo de exercício e do objetivo da pessoa).

Mulheres tentando engravidar podem fazer um “carb up” do 11º ao 15º dia do ciclo, por ser o período fértil, embora não haja literatura científica robusta sobre o assunto.

Dieta Cetogênica melhora ou piora a TPM?

Revolução Keto: Uma questão recorrente entre as mulheres é o agravamento da TPM nos primeiros meses de Keto. Muitos dizem que o sistema endócrino precisaria se adaptar à gordura como combustível. Gostaria que a doutora explicasse por que este agravamento da TPM pode acontecer no início. 

Dra. Janaína Koenen: Na verdade, a maioria das mulheres têm os sintomas da TPM melhorados na dieta cetogênica. Algumas mulheres, principalmente as que comiam muita alimentação junk food, rica em óleo vegetais de soja e outros disruptores endócrinos, podem ter mais sintomas devido às mudanças hormonais.

Neste caso, darei algumas dicas para reduzir a TPM na Dieta Cetogênica:

  • Consuma alimentos ricos em cálcio: um ensaio clínico randomizado mostrou 50% de redução de sintomas da TPM (depressão, aumento de apetite e fadiga) em mulheres que receberam suplementação de cálcio.
  • Você pode aumentar a sua ingestão naturalmente comendo mais gergelim (ou Tahine), brócolis, folhas verde-escuras (espinafre, couve), kefir, salsão, sardinhas enlatadas com a espinha, queijos gordos (parmesão é um dos que mais tem cálcio).
  • Consuma vegetais ricos em magnésio: folhas verde escuras, sementes de abóbora, castanhas do Pará.
  • Reduza o consumo de álcool: estudos demostraram que mulheres que apresentam TPM podem piorar a mesma com o consumo de álcool.
  • Coma mais proteína e gordura três dias antes da sua menstruação.
"Dieta Cetogênica não é igual para homens e mulheres" Em entrevista, Janaína Koenen explica como deve ser a Keto para mulheres 1
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Como reduzir o desejo por carboidratos e outros sintomas?

Revolução Keto: Diversas mulheres relatam que a vontade de comer carboidratos seria ainda maior nas primeiras TPMs na Keto e que as emoções ficariam ainda mais à flor da pele do que em uma dieta “padrão”. Ainda, a queda de corpos cetônicos na TPM é um relato constante entre elas. 

A doutora poderia nos ajudar a compreender estes sintomas e, se possível, indicar algum caminho para minimizá-los? Há alguma coisa a fazer fora “dar tempo ao tempo”?

Dra. Janaína Koenen: “Dar tempo ao tempo” não é uma recomendação adequada. Se você tem uma queixa, ela deve ser valorizada e investigada. O processo pode ser difícil para algumas pessoas e algumas dicas podem ajudar.

Vale a pena aumentar o consumo de vegetais verde escuros (folhas como taioba, almeirão, couve, agrião, salsão, brócolis), que são boa fonte de cálcio e magnésio, principalmente em mulheres menopausadas ou com TPM (18 e 21). Recomendo incluir estes vegetais tanto no almoço quanto no jantar.

A instabilidade emocional pode gerar vários efeitos no corpo, como o aumento do cortisol, que piora a compulsão alimentar.

Existe vasta literatura sobre ansiedade, compulsão, obesidade e transtornos do sono melhorando com meditação (especificamente midfulness) e Yoga. Recomendo fortemente. (22, 23, 24 e 25)

A falta de sono adequado também altera o cortisol, além de vários outros hormônios que pioram a resistência insulínica. Se a resistência insulínica piora, a insulina sobe e as cetonas caem. O ideal são de 6h a 7h, no mínimo, de noite bem dormida. Você deve acordar bem-disposto.

Uma das causas de “carb cravings” [desejos por carboidratos] é a falta de sal na dieta. Vale a pena aumentar o consumo de sal.

Às vezes, as pessoas fazem cetogênica sem nenhuma orientação médica ou nutricional. Recomendo ambas.

Muitas vezes, a dieta pode ficar hipocalórica e reduzir o metabolismo, alterar hormônios e, com isso, afetar o humor.

A pessoa pode, também, estar ingerindo pouca proteína e isso aumenta muito o apetite.

Falta de vitaminas também pode causar transtornos mentais, principalmente a vitamina B12.

Não desista, encontre a dieta ideal para você. Individualize, persista e procure ajuda!

"Dieta Cetogênica não é igual para homens e mulheres" Em entrevista, Janaína Koenen explica como deve ser a Keto para mulheres 2
Dra. Janaína Koenen, endocrinologista, atende em Belo Horizonte

Estudos e Referências

Leia os estudos fornecidos pela doutora Janaína Koenen, cujos resultados embasam esta entrevista com a endocrinologista sobre a Dieta Cetogênica:

  1. Boyle J, Teede HJ. Polycystic ovary syndrome – an update. Aust Fam Physician. 2012 Oct;41(10):752-6.
  2. Bomfim GF, Merighe GK, de Oliveira SA, Rodrigues AD, Augusto L, Teixeira IA, de Resende KT, Negrao JA. Effects of different supplemental soya bean oil levels on the performance of prepubertal Saanen goats: Oestrogen and progesterone release J Anim Physiol Anim Nutr (Berl). 2016 Dec;100(6):1097-1103.
  3. Lin YS, Lu SY, Wu HP, Chang CF, Chiu YT, Yang HT, Chao PM. Is frying oil a dietary source of an endocrine disruptor? Anti-estrogenic effects of polar compounds from frying oil in rats. Ecotoxicol Environ Saf. 2019 Mar;169:18-27.
  4. Gupta L, Khandelwal D, Kalra S, Gupta P, Dutta D, Aggarwal S. Ketogenic diet in endocrine disorders: Current perspectives. J Postgrad Med. 2017 Oct-Dec;63(4):242-251.
  5. Mavropoulos, John C et al. “The effects of a low-carbohydrate, ketogenic diet on the polycystic ovary syndrome: a pilot study” Nutrition & metabolism vol. 2 35. 16 Dec. 2005, doi:10.1186/1743-7075-2-35
  6. McGrice M, Porter J. The Effect of Low Carbohydrate Diets on Fertility Hormones and Outcomes in Overweight and Obese Women: A Systematic Review. Nutrients. 2017 Feb 27;9(3).
  7. Ota M, Matsuo J, Ishida I, Hattori K, Teraishi T, Tonouchi H, Ashida K, Takahashi T, Kunugi H. Effect of a ketogenic meal on cognitive function in elderly adults: potential for cognitive enhancement. Psychopharmacology (Berl). 2016 Oct;233(21-22):3797-3802
  8. Paoli, A et al. “Beyond weight loss: a review of the therapeutic uses of very-low-carbohydrate (ketogenic) diets” European journal of clinical nutrition vol. 67,8 (2013): 789-96.
  9. Murray, Andrew J et al. “Novel ketone diet enhances physical and cognitive performance” FASEB journal : official publication of the Federation of American Societies for Experimental Biology vol. 30,12 (2016): 4021-4032.
  10. Vargas, Salvador et al. “Efficacy of ketogenic diet on body composition during resistance training in trained men: a randomized controlled trial” Journal of the International Society of Sports Nutrition vol. 15,1 31. 9 Jul. 2018, doi:10.1186/s12970-018-0236-9
  11. Jabekk, Pal T et al. “Resistance training in overweight women on a ketogenic diet conserved lean body mass while reducing body fat” Nutrition & metabolism vol. 7 17. 2 Mar. 2010, doi:10.1186/1743-7075-7-17
  12. Kephart, Wesley C et al. “The Three-Month Effects of a Ketogenic Diet on Body Composition, Blood Parameters, and Performance Metrics in CrossFit Trainees: A Pilot Study” Sports (Basel, Switzerland) vol. 6,1 1. 9 Jan. 2018, doi:10.3390/sports6010001
  13. Nagata C , Nagao Y, Shibuya C, Kashiki Y, Shimizu H. Fat intake is associated with serum estrogen and androgen concentrations in postmenopausal Japanese women J Nutr. 2005 Dec;135(12):2862-5.
  14. Castro, Ana I et al. “Effect of A Very Low-Calorie Ketogenic Diet on Food and Alcohol Cravings, Physical and Sexual Activity, Sleep Disturbances, and Quality of Life in Obese Patients” Nutrients vol. 10,10 1348. 21 Sep. 2018, doi:10.3390/nu10101348
  15. Falsetti L1, Pasinetti E, Mazzani MD, Gastaldi A. Weight loss and menstrual cycle: clinical and endocrinological evaluation. Gynecol Endocrinol. 1992 Mar;6(1):49-56.
  16. Sheu, Wayne H-H. “Alteration of insulin sensitivity by sex hormones during the menstrual cycle” Journal of diabetes investigation vol. 2,4 (2011): 258-9.
  17. Brown SA, Jiang B, McElwee-Malloy M, Wakeman C, Breton MD. Fluctuations of Hyperglycemia and Insulin Sensitivity Are Linked to Menstrual Cycle Phases in Women With T1D. J Diabetes Sci Technol. 2015 Oct 14;9(6):1192-9.
  18.  Shehata NA. Calcium versus oral contraceptive pills containing drospirenone for the treatment of mild to moderate premenstrual syndrome: a double blind randomized placebo controlled trial. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2016 Mar;198:100-4.
  19. Boyle NB, Lawton C, Dye L. The Effects of Magnesium Supplementation on Subjective Anxiety and Stress-A Systematic Review. Nutrients. 2017 Apr 26;9(5).
  20. Fernández MDM1,2, Saulyte J1,2, Inskip HM3,4, Takkouche B. Premenstrual syndrome and alcohol consumption: a systematic review and meta-analysis. BMJ Open. 2018 Apr 16;8(3):e019490.
  21. Ghanbari Z1, Haghollahi F, Shariat M, Foroshani AR, Ashrafi M. Effects of calcium supplement therapy in women with premenstrual syndrome. Taiwan J Obstet Gynecol. 2009 Jun;48(2):124-9. doi: 10.1016/S1028-4559(09)60271-0
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