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Fadiga Crônica e Ferro na prática: como usar um dos mais potentes suplementos para energia

Cansada do almoço até a noite? Cabelos caindo em tufos? Mulheres têm três vezes mais chance do que os homens de ter fadiga (mais uma na conta da menstruação). Nos EUA, mais de um terço das mulheres sofrem de baixo ferro.

Em 2024, pela primeira vez na história, a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia emitiu uma recomendação de que todas as mulheres que menstruam deveriam ser regularmente testadas para deficiência de ferro, não apenas para anemia e não apenas durante a gravidez.

Transtornos alimentares, vegetarianismo, menstruação, fibromialgia, gastrite, remédios para doenças reumáticas… São diversas as questões que podem levar ao baixo ferro.

Ferro para Fadiga Crônica

A fadiga inexplicável pode ser causada pela deficiência de ferro, já que baixo ferro = baixo ATP e disfunção mitocondrial.

O ferro desempenha um papel no metabolismo energético como um componente de enzimas vitais e cadeias de transporte de elétrons (ETCs) para a síntese de trifosfato de adenosina (ATP). Este ciclo é crucial para a geração de ATP nas mitocôndrias. E como sabemos, mitocôndrias são a chave da energia humana.

A suplementação de ferro deve ser considerada para mulheres com fadiga inexplicável que apresentem níveis de ferritina abaixo de 50 μg/L ou 60 μg/dL.

A quantidade de ferro a ser tomada diariamente é altamente individual. O estudo “Vitamins and Minerals for Energy, Fatigue and Cognition” mostra que a variação nos tratamentos vai de 10mg a 300mg, em tratamentos que podem durar de 14 a 84 dias. Mas, o estudo “Effect of iron supplementation on fatigue in nonanemic menstruating women with low ferritin: a randomized controlled trial” indica 80mg às mulheres.

Neste estudo randomizado, as mulheres que suplementaram ferro por 12 semanas diminuíram a fadiga em quase 50%. O ferro a ser usado pode ser encontrado com os seguintes nomes: ferro glicinato, ferro quelado ou ferro bisglicinato. Fuja do sulfato ferroso, pois pode ser tóxico ao organismo.

Suplementação de Ferro com Vitamina C

Não existe consenso científico sobre a união de ferro e vit c para elevar a absorção do ferro. O estudo do Jama com pacientes anêmicos concluiu que a vit c não faz diferença nos benefícios da suplementação do ferro. Eles utilizaram 100mg de ferro e 200 mg de vit c.

Porém, vários estudos de alta qualidade mostraram o oposto: há sim benefícios de unir vitamina c e ferro na hora da suplementação (Effectiveness of Dietary Intervention with Iron and Vitamin C Administered Separately in Improving Iron Status in Young Women https://www.mdpi.com/1660-4601/19/19/11877#B22-ijerph-19-11877).

Quais são os valores normais de ferro?

Resultados entre 65 μg/dL e 175 μg/dL para homens e entre 60 μg/dL e 170 mcg/dL para mulheres estão dentro da faixa normal. Contudo, não é raro encontrar médicos pedindo níveis significativamente acima do mínimo quando o paciente apresenta sintomas de cansaço, dores de cabeça e enxaqueca, ter pele amarelada ou pálida, queda de cabelo e unhas fracas, falta de ar, taquicardia etc.

Ferro no jejum e nas dietas restritivas

O ferro é um elemento que cai significativa e rapidamente. Foi o que ocorreu comigo quando comecei a fazer jejuns, na passagem da cetogênica com comida de verdade (meu primeiro vídeo foi no final de 2018 https://youtu.be/d5HVXWkUGGc) e meu ferro era 70 μg/dL, o que particularmente considero um mínimo.

No segundo ano de cetogênica, 2021, comecei a alternar entre OMAD (uma refeição ao dia) e cetocarnívora. O ferro foi de 70 para 46. Não à toa, perdi metade do cabelo, unhas e até dentes ficaram fracos.

ferro fadiga cronica

O estudo “Effect of short-term food restriction on iron metabolism, relative well-being and depression symptoms in healthy women” https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4143608/ concluiu que “jejum de curto prazo (2 dias) diminui significativamente as concentrações de ferro no soro e no cabelo, bem como os níveis de ferritina, hemoglobina, hematócrito, glóbulos vermelhos e capacidade total de ligação de ferro.”

E o que mais me surpreendeu, que os modelos de restrições alimentares usados no estudo “também aumentaram os sentimentos negativos em relação à depressão. Uma correlação negativa significativa entre os níveis séricos de ferritina e a depressão foi encontrada em mulheres em inanição por 2 dias.”

O estudo mostra que, “através do impacto nos níveis de minerais, mesmo restrições alimentares de curto prazo, como observado em muitas mulheres que estão emagrecendo, podem ser uma razão para a deficiência de ferro e também podem alterar o estado emocional de mulheres saudáveis. Talvez os sintomas de depressão em pacientes com anorexia ou outros transtornos alimentares possam estar associados a deficiências de ferro.”

Portanto, profissionais que trabalhem com perda de peso ou jejum precisam estar atentos a esta questão crucial, sendo que grande parte destas mulheres já passou a maior parte da vida em dietas restritivas.

Ferro e constipação

Um dos suplementos mais fundamentais para fadiga crônica também tem seus efeitos colaterais. No caso do ferro, o principal problema é a constipação. Por que isso acontece?

Uma teoria é que a grande quantidade de ferro proveniente de suplementação causa um efeito osmótico que puxa a água para o estômago e para longe do sistema gastrointestinal inferior (ou seja: intestino grosso e cólon). À medida que a água sai do trato gastrointestinal inferior, as fezes podem ficar desidratadas, mais duras e menores – e, em última análise, mais difíceis de evacuar, gerando dores gastrointestinais e distensão abdominal.

Ainda, suplementos de ferro podem influenciar a motilidade intestinal – o movimento do sistema digestivo que ajuda a processar os alimentos. A motilidade intestinal lenta significa que os alimentos e os resíduos se movem mais lentamente através dos intestinos, levando a um tempo de trânsito fecal mais longo e, consequentemente, à prisão de ventre.

Estudos demonstraram que a suplementação de ferro pode alterar a composição e a atividade da microbiota intestinal. Alguns tipos de bactérias, que podem não ser benéficas, podem prosperar num ambiente rico em ferro, levando à disbiose – um desequilíbrio na microbiota intestinal. Esta disbiose pode afetar a motilidade intestinal e a consistência das fezes, contribuindo para a constipação.

Aqui, o indicado é muito líquido, exercícios ou mudar o tipo de ferro para formas mais “gentis” com o trato gastrointestinal, como Gluconato Ferroso, Ferro Fumarato ou Ferrocarbonila.

Referências:

The Efficacy and Safety of Vitamin C for Iron Supplementation in Adult Patients With Iron Deficiency Anemia A Randomized Clinical Trial https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2772395

Effect of iron supplementation on fatigue in nonanemic menstruating women with low ferritin: a randomized controlled trial  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3414597/

Mitochondrial Iron Metabolism: The Crucial Actors in Diseases https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5538026/

Double-edge sword roles of iron in driving energy production versus instigating ferroptosis https://www.nature.com/articles/s41419-021-04490-1

Vitamins and Minerals for Energy, Fatigue and Cognition: A Narrative Review of the Biochemical and Clinical Evidence https://www.mdpi.com/2072-6643/12/1/228

Patients with fatigue in general practice: a prospective study https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/8343705/

Iron deficiency without anemia – a clinical challenge https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5986027/

Diagnóstico laboratorial da deficiência de ferro https://www.scielo.br/j/rbhh/a/LcXsgjK5XPGyWmVGM9KKY6f/

Optimal serum ferritin level range: iron status measure and inflammatory biomarker https://academic.oup.com/metallomics/article/13/6/mfab030/6287580

More Than a Third of Women Under 50 Are Iron-Deficient https://www.nytimes.com/2023/10/17/well/live/iron-deficiency-symptoms-women.html