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Dieta Cetogênica gera intolerância a carboidratos e resistência à insulina?

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Quanto mais mergulhamos no mundo da Dieta Cetogênica, mais perguntas surgem. Cada caso atendido é único e os desafios que enfrentamos na prática são a melhor fonte de estudo que pode haver. Nos atendimentos, comecei a me deparar com uma questão recorrente nos fóruns norte-americanos:

a Cetogênica gera resistência à insulina e/ou intolerância a carboidratos?

Tenho casos de clientes que comem mandioca e vomitam, comem pão e expelem muco por olhos e boca, comem um cupcake e têm crises de fibromialgia, comem sorvete e ficam de cama, em depressão.

Se você faz uma Dieta Cetogênica bem restrita, com jejuns extensos ou com baixíssimos carbs, possivelmente passou ou passará por isso ao comer algo muito fora da dieta.

Lembre-se disso nos nada recomendáveis dias de lixo: as respostas do corpo ao reintroduzir carboidratos repentinamente são variadas e podem assustar se você não estiver preparado.

Vale dizer que a resposta do corpo não era tão severa anteriormente. Digo, antes de entrar em cetose, o organismo destas pessoas não respondia de forma tão intensa ao consumo de um único pão ou sorvete. Após a cetogênica, o sistema parece ter o quadro agravado.

Por que isso ocorre? Será que a Dieta Cetogênica gera resistência à insulina? Gera intolerância à glicose (aos carboidratos)? Será que quanto menos carbs comemos menos podemos comer?

Sim e não. Até agora, não temos a resposta definitiva, mas já temos alguns estudos apontando caminhos.

Conversei com minha professora, a nutricionista e pesquisadora do Tim Noakes, Tamzyn Murphy sobre isso. Ela me enviou alguns estudos e hipóteses. Compartilho com vocês e deixo mais algumas considerações que surgem nos fóruns do curso da Fundação Noakes e da Low Carb USA.

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Resistência à insulina e intolerância à glicose em dietas very low carb e cetogênica

A restrição aos carboidratos induz sim a uma resistência à insulina adaptativa, que é reversível e transitória. Isso ocorre, provavelmente, por causa da regulação do GLUT-4 (um dos transportadores de glicose) e de outras proteínas necessárias para a sinalização da insulina e do metabolismo da glicose.

Também, por causa da co-ocorrente regulação para a metabolização da gordura, em resposta à mudança na disponibilidade de combustível, do açúcar para a gordura.

Então, comer uma carga de carboidratos quando estamos adaptados à utilização de gordura como combustível pode resultar em hipoglicemia reativa ou hiperglicemia. Este é um dos principais motivos pelos quais não é recomendado, se você estiver adaptado ao baixíssimo carboidrato, jacar com alto carboidrato ou usar o teste oral de tolerância à glicose oral para diagnosticar diabetes tipo 2 ou pré-diabetes.

Em um estudo, Caminhotto and Lima (2013) explicam a resistência à insulina adaptativa que ocorre como resultado do jejum e da restrição aos carboidratos, mencionando que são estados reversíveis e não-patológicos. Clique aqui para ver o estudo.

Dizem eles: deve ser comum, na prática clínica, que pacientes submetidos ao teste oral de tolerância à glicose não estejam sob efeito de restrição de carboidratos severa, já que isso pode alterar a resposta à sobrecarga de glicose.

Portanto, sugerimos que os resultados de Bielohuby et al. possam ser interpretados de forma única e não sejam necessariamente considerados como uma questão metabólica prejudicial, já que é característica a este estado, além de ser transitória.

Como demonstrado por Kinzig et al., a intolerância à glicose e a resistência à insulina são rapidamente revertidas com a reintrodução de carboidratos na dieta.

Ok, a questão da adaptação à restrição de carboidratos é claramente reversível. Fato. Agora, deixo duas questões para vocês:

1 – O que é “rapidamente revertida”? Do que observo em prática, a saída da cetose de volta para dietas de baixo carboidrato leva mais ou menos o mesmo tempo de entrada. Ou seja, o corpo precisa de três ou quatro meses para se readaptar completamente.

2 – Outros hormônios e microbiota: o termo “completamente” me leva a considerar não apenas os fatores insulina e glicose, mas como também todo o sistema hormonal (especialmente feminino) e uma questão interessantíssima, que deve ser observada, a microbiota.

Oras, você acha que a microbiota que digere basicamente fibras (a dieta da frutinha e da salada) é a mesma que digere basicamente carne e gorduras?

Desculpe desapontá-lo, meu amigo. Não estou dizendo que há uma microbiota melhor ou pior, mas sim que inescapavelmente haverá um conjunto diferente de bichinhos para ambientes metabólicos diferentes. E que precisamos de tempo para trocarmos isso.

O fantástico tópico da microbiota é e seguirá sendo uma interrogação, mas é recorrente entre nós, alunos. Um dia, contarei a vocês sobre a barriga de gorila grávido (e grave constipação) que desenvolvi ao reintroduzir fibras após sair da cetose (ou da ceto-carnívora). Quanto tempo para mudarmos a microbiota de volta ao mundo dos carboidratos? Alguns meses no meu caso. Mas, novamente (e felizmente), reversível.

Conclusão: preciso sempre lembrar que a conversão de um corpo que queima açúcar para um corpo que queima gordura não é a mesma coisa que reduzir a quantidade de pão no café da manhã. Estamos falando de um processo complexo, delicado e cheio de questões que ainda estamos descobrindo.

Portanto, quero que pense com seriedade e maturidade sobre o que está fazendo ao se adaptar. Dê o tempo necessário ao seu corpo, afinal, foi sua pressa, estresse e ansiedade que lhe trouxeram ao quadro que você está buscando tratar, seja ele qual for. Respeite a complexidade do seu sistema.

Acima de tudo, tome muito cuidado com os dias de lixo nos primeiros meses (e para o resto da vida, se está pensando em jacar com tortas e pastéis). Caso esteja cogitando sair da cetogênica, tenha muita responsabilidade e calma na reintrodução dos alimentos.