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Jejum intermitente: será que você pode fazer?

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Quantas horas de jejum devo fazer? Quanto mais jejum melhor? Qual o limite entre benefícios e malefícios do jejum? Qual a vantagem do jejum para quem já adaptou o corpo à cetose, um estado que mimetiza o jejum? O que pode ocorrer com o jejum dobrado (cetose + jejum)?

Nossa, as perguntas sobre Jejum Intermitente são muitas e minha investigação não para. Fica claro que o jejum auxilia no processo de emagrecimento e de reparação de incontáveis processos fisiológicos. O que dificilmente vem à tona são os malefícios do jejum ou, melhor ainda, quem não deveria fazer jejum.

Sou uma defensora da prática do jejum intermitente, mas não é nada raro eu proibir pacientes de fazê-lo ou de manter um limite máximo de jejum, que varia de pessoa para pessoa com base em inúmeros fatores.

Problemas com o jejum intermitente: visão pessoal

Por quê? Porque observo o impacto do jejum no comportamento, na mente, nas emoções – e não fico feliz com o que vejo em muitos casos. O jejum (excessivo) acelera a mente. O jejum tira o peso, a densidade. Como eu gosto de chamar, ele desaterra, algo que definitivamente não queremos na Dieta Cetogênica, uma dieta que já é o desaterramento por excelência.

O que é aterrar? É gerar base, sentido de solo, chão. Densidade. Peso. Fundamentação. Tranquilidade. Sabedoria sobre o tempo. Pode parecer insano louvar o peso e certo grau de lentidão em uma sociedade em que o valor maior é a pressa, a velocidade e a instantaneidade, mas eu sei como estes valores são exatamente os valores que geraram tantas doenças no seu corpo que te fizeram precisar da Dieta Cetogênica.

É preciso quebrar o ciclo. A mentalidade que te tornou doente jamais será a mentalidade que te cura.

Por isso, é preciso cautela e complexidade na hora de trabalhar com jejum.

Em 100% dos casos em que aconselho jejum, há diversas outras práticas de aterramento aliadas. Há exercícios de respiração, meditação, há trabalho com terra, há caminhadas lentas, há uso estratégico dos carboidratos à tardinha e à noite, que são os horários em que a mente se torna ainda mais aérea.

Há receitas cetogênicas que mimetizam os alimentos confortáveis (comfort food), conhecidos pelo seu sabor doce, o sabor que tem a capacidade de nos trazer de volta ao chão e de reduzir a velocidade paranoica da mente.

São incontáveis ferramentas que buscam equilibrar o sistema e que devem ser usadas para livrar a pessoa do seu principal inimigo, o hormônio que te fez engordar, fumar, beber, não dormir, não conseguir parar e ficar vagando de meta em meta perdido feito rato em uma gaiola: o cortisol.

“Eu posso te engordar. Na realidade, eu posso fazer qualquer pessoa engordar. Como? É muito simples, é apenas prescrever prednisona, uma versão sintética do cortisol.” – Jason Fung

Entenda cortisol (estresse) como o exato oposto de aterramento.

O cortisol seria a ferramenta do corpo humano que te salvaria de pontuais situações perigosas, mas que é liberado 24h por dia em uma cultura que fomenta o medo, a preocupação, a aceleração e o estresse ininterruptamente.

O cortisol é uma ferramenta maravilhosa se usada na hora certa. E uma ferramenta de destruição completa quando estimulada constantemente.

E você está contando carboidratos para consertar toxicidade, desregulação hormonal, problemas neurológicos enquanto estimula o hormônio responsável por tudo isso.

Onde entra o jejum em tudo isso? Aumentando seu cortisol.

Quem fundamenta minhas observações e meu método de ação, como terapeuta, é o Chris Kresser, um nome que venho estudando há algum tempo e que me atrai pela complexidade dos tratamentos. Acupunturista e especialista em medicina integrativa e funcional, o Kresser é uma referência que vale a pena acompanhar.

P.s: no texto, Kresser falará sobre comer a cada 2h ou 3h. Não é algo que tenho indicado (ainda). Há diversas outras formas de atingir equilíbrio interno e externo. Mas, não é algo que descartarei se as outras alternativas falharem. O importante é refletir e estar aberto a tudo – principalmente a ouvir o seu corpo, que é apenas seu e não merece ser comparado e tratado como “todo o resto do mundo”.

Vamos à fala do Kresser. Deixo vocês por aqui e espero provocar uma reflexão capaz de equilibrar o furor pela corrida do “quanto mais jejum melhor”.

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Jejum intermitente, cortisol e açúcar no sangue | por Chris Kesser

Tem havido muita discussão sobre os benefícios do jejum intermitente na comunidade Paleo. Paul Jaminet menciona seu papel para estimular o sistema imunológico no livro “The Perfect Health Diet”, e o jejum intermitente também pode ser uma ajuda para aqueles que querem emagrecer e regular seu metabolismo.

De uma perspectiva evolutiva, o jejum intermitente era provavelmente o estado normal das coisas. Não havia mercadinhos, restaurantes e lojas de conveniência, e a comida não estava por perto ou disponível como é hoje. Também não tínhamos relógios, horários, pausas para o almoço ou o tipo de estrutura e rotina que temos no mundo contemporâneo. Isso significa que é provável que nossos ancestrais ficavam entre 12h a 16h sem comer cotidianamente e até dias inteiros sem refeições.

Então, concordo que o jejum intermitente é parte da nossa ancestralidade e que pode ser uma ajuda em certas situações, mas não acredito que seja a estratégia correta para todos.

Por quê? Porque o jejum intermitente pode elevar seu cortisol.

Um dos efeitos do cortisol é elevar o açúcar no sangue. Então, em alguém que tem problemas de regulação de açúcar no sangue, o jejum pode agravar o quadro.

Vi isso incontáveis vezes com meus pacientes. Quase todos os meus pacientes têm desequilíbrio de açúcar no sangue. E as coisas não são tão simples quanto “açúcar alto” ou “açúcar baixo”. Eles geralmente têm uma combinação de ambos (hipoglicemia reativa) ou padrões estranhos de açúcar no sangue que, na superfície, parecem não fazer sentido. Estas pessoas não estão comendo a dieta norte-americana. A maior parte delas já está em uma dieta paleolítica ou low carb. Mesmo assim, elas têm problemas de açúcar no sangue.

Nestes casos, a desregulação do cortisol é quase sempre a culpada. Quando estes pacientes tentam fazer jejum intermitente, os níveis de açúcar no sangue pioram. Vejo níveis entre 90 e 100, mesmo que eles estejam fazendo uma dieta low carb ou paleo.

É por isso que não recomendo jejum intermitente para pessoas com problemas de açúcar no sangue. Em vez disso, sugiro que comam a cada 2 ou 3 horas. Isso ajuda a manter o açúcar estável através do dia e previne o cortisol e outros hormônios do estresse, como epinefrina e noradrenalina de entrarem em jogo. Quando meus pacientes têm jejuado e passado por níveis altos de açúcar no sangue, eu mudo a forma com que eles se alimentam e os níveis quase sempre se normalizam.

Não acho que comer a cada 2h ou 3h é normal de uma perspectiva evolutiva. Mas também não são normais o engarrafamento, a preocupação constante ou ficar acordado no Facebook até 2h da manhã.

A estrutura da paleo está ali para nos guiar, mas não é um dogma a ser seguido cegamente. Isso é um importante lembrete de que não existe uma receita universal que funciona para todos quando falamos de saúde.

O tratamento bem-sucedido depende da identificação dos mecanismos por trás dos sintomas de cada indivíduo e de como abordaremos cada um deles.