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Como o glifosato impacta na sua saúde [monocultura da vida]

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O glifosato voltou à mídia nos últimos tempos, com a liberação de diversos pesticidas pelo governo brasileiro. A liberação do registro de 31 agrotóxicos foi publicada no Diário Oficial em maio. Dos 31, 29 são reproduções de princípios ativos que já eram autorizados no Brasil. Três deles são do glifosato, herbicida mais utilizado no Brasil e no mundo.

O que é o glifosato?

Glifosato é o ingrediente ativo em muitos herbicidas, incluindo o Roundup (da Monsanto / Bayer). O glifosato é jogado sobre as plantações, sendo absorvido pelas folhas das plantas. Ele inibe a capacidade da planta de sintetizar proteínas. Isso faz a planta ficar doente e morrer.

Se o produto mata as plantas, por que eu o usaria?

A Monsanto / Bayer resolveu o problema criando soja, milho e trigo geneticamente modificados, resistentes ao Roundup. Assim, apenas as ervas daninhas morrem. Mas, ao longo dos anos, as ervas daninhas se tornaram resistentes: são as super ervas daninhas. Infelizmente, a solução para matá-las foi aumentar o uso de químicos.

Eu vi um estudo mostrando que o glifosato não é tão danoso…

De fato. A substância isolada não é tão tóxica assim. Porém, ele não é utilizado sozinho, mas sim com um coquetel de químicos. Estes produtos são até 1.000 vezes mais tóxicos e incluem arsênico, crômio, cobalto, chumbo e níquel.

O que você precisa saber sobre o Glifosato

Vou linkando os estudos e fontes ao longo do texto, se tiver interesse.

O glifosato é o pesticida mais usado no mundo. Ele pertence à empresa Monsanto, comprada pela alemã Bayer. A demanda global pelo glifosato é de 770 mil toneladas por ano.

770 mil toneladas por ano sobre os alimentos.

Os genes modificados das plantas permitem o uso elevado do glifosato, o que aumenta ainda mais o nível do herbicida nas plantações. O aumento dos resíduos do glifosato nas plantas pode estar acontecendo, também, por práticas de plantio como a dessecação.

O glifosato causa danos no DNA e pode levar à morte de células humanas. Ele pode ser um agente causador para Doença de Parkinson, Alzheimer, depressão, infertilidade e doenças gastrointestinais. O glifosato é conhecido como um disruptor endócrino, que pode alterar os níveis hormonais do ser humano.

A ironia: se você estava achando que seu corpo era capaz de lidar com tudo isso, um pesquisador do MIT aponta que o glifosato inibe enzimas do fígado fundamentais para quebrar as toxinas que consumimos e para lidar com o excesso de hormônios.

O herbicida também afeta a síntese de aminoácidos pela nossa microbiota. O glifosato prejudica a microbiota ao reduzir a quantidade de boas bactérias e predispor o organismo ao crescimento de bactérias patogênicas, que geram doenças. Isso inclui tornar as bactérias nocivas, como E. coli e Salmonella, mais resistentes aos antibióticos.

O glifosato foi categorizado pela Organização Mundial de Saúde como “provável carcinogênico”. Existe de fato uma possível relação entre o glifosato e certos tipos de câncer. Um estudo sueco descobriu que pacientes com o Linfoma não Hodgkin relataram exposição ao glifosato três vezes mais do que pessoas saudáveis.

Também, houve associação entre exposição ao glifosato e mieloma múltiplo em profissionais norte-americanos responsáveis por aplicar os pesticidas.

– Linfoma não Hodgkin é um tipo de câncer que tem origem nas células do sistema linfático e que se espalha de maneira não ordenada. Existem mais de 20 tipos diferentes de linfoma não-Hodgkin.

– Mieloma múltiplo é o câncer de um tipo de células da medula óssea chamadas de plasmócitos, responsáveis pela produção de anticorpos que combatem vírus e bactérias. No mieloma múltiplo, os plasmócitos são anormais e se multiplicam rapidamente, comprometendo a produção das outras células do sangue.

Para sermos justos, existem revisões de estudos que atestam que o glifosato é seguro e não é tóxico em longo prazo.

O que concluir sobre o glifosato?

Que é preciso muita cautela ao consumir o herbicida. Existem muitos conflitos de interesse nos estudos para segui-los cegamente. O ideal, é claro, é reduzir o consumo de alimentos com pesticidas e alimentos geneticamente modificados, especialmente porque somos expostos a toxinas o tempo inteiro.

É muito importante manter em mente que os resíduos do glifosato não podem ser lavados das plantas que trazemos para casa, por mais que haja receitinhas mágicas no YouTube.

Felizmente, para os adeptos da Dieta Cetogênica e Low Carb, os principais alimentos a serem evitados são aqueles mencionados no topo do texto: a soja, o milho e o trigo.

Luta contra a monocultura: o que você pode fazer

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Como menciono no texto, a Monsanto “é dona” dos três grãos mais consumidos no mundo: soja, milho e trigo. Não à toa, estes três grãos são a base da alimentação global.

Tínhamos centenas de milhares de espécies. Hoje, temos três.

Em 2012, trouxemos para o Brasil uma das principais “inimigas” da Monsanto / Bayer, a indiana Vandana Shiva. Tive o prazer de passar o dia com ela em um workshop no Rincão Gaia, criado pelo ambientalista José Lutzenberger.

Vandana Shiva mantém o Navdanya, um projeto de sementes crioulas, nativas, intocadas pela indústria. O objetivo é garantir que não sofreremos de uma das mais preocupantes extinções, a da diversidade das espécies de alimentos.

Shiva tem obras publicadas sobre o que ela chama de “monocultura”, a redução radical da biodiversidade – um tema que me fascina profundamente.

Gravamos uma extensa entrevista com ela, mas quero deixá-los com o vídeo de um pensamento de Shiva, o fundamento da sua atuação.

Não se trata apenas de lutar pela diversidade alimentar, mas sim pela diversidade da vida como um todo. Nós reproduzimos a miséria que tanto criticamos na indústria – nós reproduzimos esta miséria em nosso cotidiano, em nossa mente, em nossa vida.

Para ela (e para mim), a grande luta começa se opondo à monocultura que alimentamos dentro de nós.

Parece muito romântico e subjetivo, mas é muito factual. Quando estudamos o caminho dos grandes ativistas, das grandes revoluções individuais e coletivas, o primeiro passo sempre foi o questionamento interno. Sempre. Faça sua parte.

Se você não consegue pagar orgânicos e salmão selvagem, se você não consegue sair das grandes capitais e morar em zonas rurais, se você está preso a determinadas condições destrutivas, não se culpe. Comece libertando por dentro. Este sempre foi e sempre será o primeiro passo para toda e qualquer revolução. Deixo vocês com a fala da Vandana Shiva.