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Por que você quer emagrecer? Tratando os apetites de uma vez por todas.

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Por que você quer emagrecer? A pergunta parece óbvia, mas a resposta pode revelar o grau de sucesso da sua empreitada ao longo do tempo. Não é de hoje que eu esclareço que, apesar de estudar dietas de baixo carboidrato e dieta cetogênica, eu não consigo conceber o emagrecimento rápido como uma meta.

Aliás, não consigo conceber resultados rápidos como meta para nada significativo na vida.

Resultados rápidos não são ruins, me entenda, mas eles devem ser aplicados nas suas áreas: a entrega de um trabalho final, o domínio de uma ferramenta tecnológica, questões pontuais e objetivas que te levarão a objetivos maiores, com mais sentido.

Contudo, me parece que estamos estagnados no meio do caminho. Pior ainda, que esquecemos o caminho. Temos apenas as pequenas metas e as confundimos com as grandes metas do ser humano.

Emagrecer rápido, assim, torna-se uma grande meta.

Como se o peso na sua balança fosse o sentido da sua existência.

O resultado? Um número insignificante de pessoas se mantêm magras. Isso ocorre porque elas seguem doentes.

Aliás, estamos todos doentes.

Este diagnóstico não é meu, é claro. É de ninguém menos do que Buda e data de alguns séculos antes de Cristo. Mas, é possível ir além. É possível voltar mais alguns milhares de anos para encontrar a mesma resposta, seja com Trismegisto ou com os Vedas.

Não importam as fontes aqui: o que quero que você perceba é que tudo aquilo que tem sido atribuído a você ou à nossa “Era Doente” data de muitos milhares de anos.

… E por mais que cortar carboidratos ajude no cérebro, precisamos ir além para tratar o motor dessa jornada, a sua mente. 

O grande sentido da sua vida

Dediquei alguns anos da minha história ao estudo do chamado caminho do ser – a busca fundamental da humanidade. Aquilo que todos os seres humanos têm em comum durante suas existências.

Sua jornada pode parecer individual à primeira vista, mas qualquer mergulho mais profundo revelará a mais perturbadora e fascinante verdade: todos compartilhamos medos, padrões e, acima de tudo, uma busca fundamental e universal.

Dois movimentos caracterizam o ser humano: atrair aquilo que dá prazer. Repelir aquilo que gera medo. 

Uma vida similar a de um rato em uma gaiola.

Em comum, apenas um sentimento: o sofrimento, é claro.

Quando você compreende a insanidade desta prisão e o caminho que a humanidade percorreu para quebrar este ciclo de dor, você ganha o maior dos poderes: você se torna um investigador de si mesmo através dos milênios.

Você percebe que a busca por “si mesmo”, na realidade, é uma busca pela compreensão de todos os seres humanos. A vida fica imensa.  Ao chamado eixo horizontal, o seu cotidiano, você adiciona o eixo vertical, aquele que te liga aos propósitos elevados.

É o eixo que nos diferencia dos outros animais. É o eixo que regeu a humanidade até algumas décadas, quando passamos a entrar em colapso geral.

Perceba, se nenhum prazer te basta, não é porque você nunca encontrou o pão perfeito, a droga perfeita, o casamento perfeito ou nada do gênero. É simplesmente porque o prazer humano não está no eixo horizontal.

Nunca se tratou de satisfazer apetites e paixões.

Se você sente um vazio gigantesco dentro de você, é só porque o eixo vertical é a metade que tem nos faltado. Nada mais justo do que se sentir pela metade vivendo pela metade. Apenas isso.

Tratando seus apetites

Por que você quer emagrecer? Tratando os apetites de uma vez por todas. 1

Sabemos que comemos em excesso para ativar uma associação de recompensas que criamos na infância. Sim, os hormônios regulados pela Dieta Cetogênica ajudam a reduzir a fome.

Mas, sejamos honestos, não chegamos à obesidade porque temos “fome” demais.

Comemos em excesso para alimentar algo muito mais profundo e emocional.

O comportamento do vício – por vício, entenderemos hábitos que têm consequências negativas para a nossa história – está comumente ligado ao sistema de recompensas do cérebro.

Não à toa, grande parte das medicações psiquiátricas atua sobre este sistema. Não se trata do bom e velho “eu mereço uma pizza”, falo da necessidade química de ativar determinados neurotransmissores que estão desregulados.

Novamente, não é à toa que tratamentos para a obesidade são “multidisciplinares”. Estes tratamentos envolvem uma abordagem integrada, capaz de atuar sobre as mais diversas esferas da sua vida.

Por trás de todos estes métodos, veremos um objetivo: reaprender a ter prazer.

Melhor ainda, aprender a tratar os apetites.

Ser capaz de tirar o foco de um único objeto de prazer, a comida, e começar a construir uma “vida boa”, uma vida em que os apetites (paixões) não te regerão mais.

Se estes tratamentos convencionais conseguem fazer isso, bem… Isso é pauta para outro texto. 

Movidos por apetites

Há algo muito interessante a perceber sobre os apetites humanos. É a primeira vez na história que a paixão (apetite) é vista como algo capaz de nutrir a vida. Este fenômeno é algo sem precedentes.

Paradoxalmente, quanto mais apaixonados somos, menos conseguimos manter nossos desejos e menos nos sentimos nutridos por ele. As paixões são o açúcar da vida, não é mesmo? Viver em torno do apetite é excitante e estimulante, mas não nutre nada ou ninguém.

A sede é cada vez maior e o preenchimento é cada vez menor.

As relações duram poucos meses, as amizades menos ainda. As dietas, até mesmo em estudos, aquelas consideradas vencedoras, foram analisadas pelo período de um ano. O que é um ano?

Você me manda uma mensagem querendo saber por que não emagreceu em 15 dias e eu te pergunto qual é a sua motivação ao longo da sua vida para finalmente caminhar em direção à saúde… Para construir uma nova mentalidade sobre sua própria história.

Já que gostamos tanto da perspectiva evolutiva, nada mais justo do que levarmos nossa mentalidade à época em que os homens eram mentalmente saudáveis.

Você é vegetal, animal ou humano?

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É muito mais fácil me “ver” passeando pela sabedoria do Egito, Índia, Nepal etc, mas vou chamar o Aristóteles aqui para nos ajudar. Ele nos ensina a diferença entre um vegetal, um animal e o ser humano.

  • O vegetal tem um objetivo: manter-se vivo.
  • O animal – animado – tem outro objetivo: manter-se vivo, claro, mas também alimentar suas necessidades básicas (caçar, alimentar-se, dormir etc).
  • O ser humano é dotado do mais maravilhoso presente que existe, sua capacidade de razão elevada. Este é seu objetivo, nutrir este diferencial.

Razão elevada nada tem a ver com esta razão que se opõe à emoção. Pelo contrário. Falo da compreensão do universo, da natureza, da busca das virtudes, dos grandes sentidos que moveram a humanidade ao longo dos tempos… Até aqui ao menos.

Não à toa, o pensamento oriental não passa muito longe disso. Estamos presos à roda da vida enquanto formos alimentados pelas paixões animais. Nossos chakras não evoluem enquanto estivermos presos a isso.

Pouco importa o lado do mundo em que você estiver. Pouco importa se utilizamos Aristóteles ou Patanjali para explicar o raciocínio.

O que nos interessa saber é: o que você considerou um transtorno “seu” foi fonte de estudo da humanidade por milhares de anos. Caminhos foram sugeridos por incontáveis grandes mentes através destes milênios.

O primeiro ponto a aprendermos é que uma vida que gira em torno do apetite pelo mundano, pelo efêmero (a vida que se basta no horizontal) sempre aparece como o fator que manterá você preso ao mundo animal.

Não gosto da expressão, mas “comer feito um animal” nos fala muito sobre isso.

Infelizmente, nutricionistas e médicos não tocarão nos seus apetites – tocarão apenas em um dos milhares de apetites que te movem, o apetite pela comida.

Porém, é um mundo movido pelos apetites – e é aqui que precisamos entrar.

Não foi apenas nossa alimentação que se tornou miserável, mas como nossa forma de nos relacionarmos com o mundo.

E eu te convido a este passeio completo pela história, em que resgatamos não apenas elementos objetivos que nos remeterão à nossa natureza humana, como a alimentação natural, o pé no chão, tomar sol, dormir à noite etc.

Mas, também, faremos um resgate ao cultivo de quem éramos. De quem sempre fomos e para sempre seremos. Vamos nutrir o corpo e o ser com uma “perspectiva ancestral”.

Você vivenciou uma grande transformação quando parou de comer lixo industrial e passou a comer alimentos de verdade, certo?

Agora, quero que reflita comigo sobre o tamanho da transformação quando você passar a levar todos os seus apetites de volta à sua natureza: a de ser humano virtuoso, dotado de uma vida com verdadeiro sentido.

Você criará um eixo.

As motivações de Aristóteles

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Podemos dizer que há dois tipos de motivação ou de recompensas: Hedonia e Eudaimonia.

Hedonia (do grego hedonikos, “prazeroso”) inclui prazeres superficiais, como perda de peso, boa aparência e aceitação dos outros. Estas recompensas são mais objetivas e, geralmente, efêmeras.

As recompensas Eudaimonia (do grego eu “bem”; daimon, “poder divino”), por outro lado, se referem a um significado e a um propósito que contribuem para a construção de uma evolução geral. Essa evolução gira em torno de três perguntas que são o norte da sua vida:

  • Quais são os valores que te regem, que você quer alcançar ao longo da vida?
  • Quais são suas ideias próprias (exclusivamente suas)?
  • Como suas ações agregam na construção de um mundo melhor?

Um grande sábio, dotado da maior das virtudes, a tranquilidade da alma, para na sua frente e te pergunta: “quem é você”?

Estas são as três perguntas que ele gostaria que você respondesse a ele. Se você for capaz de respondê-las, você saberá quem você é. Você terá seu eixo, sua referência, nada te fará tombar.

Quando você conecta seu estilo de vida à Eudaimonia, você se torna automotivado, porque você tem um propósito superior dentro de você. Ou seja, quando suas metas estão ligadas a estas três perguntas, você está no caminho da mais profunda transformação que um ser humano pode passar.

Isso não é apenas papo subjetivo. 

Srini Pillay, Professor de Psiquiatria na Universidade de Medicina de Harvard, explica que a motivação Eudaimonia, repleta de significado, ativa uma região do cérebro chamada de corpo estriado ventral.

Quando esta região é ativada, você se sente menos deprimido. Ao contrário, quando apenas as recompensas Hedonia são ativadas, diz Pillay, isso pode gerar ainda mais depressão e falta de motivação em longo prazo.

Para manter a motivação é importante perguntar a si mesmo sobre os sentidos de significado e de propósito individuais.

Aristóteles acreditava que o mais alto nível de bondade humana, a mais elevada ideia de “vida boa”, não vinha da satisfação de apetites, mas sim da luta para expressar o que há de melhor em nós.

Isso, dizia o filósofo, só poderia ser atingido através da autorrealização, um processo contínuo e individual, pois depende dos talentos e das disposições de cada um.

Para realmente experienciar uma recompensa Eudaimonia, é preciso sentir o florescimento do ser.

Neste estado de inspiração ou de elevação, você tem mais chances de se sentir motivado na conquista de seus objetivos, na construção de um caminho perene e permanente.

Para começar este processo, para realmente começar a tratar seus apetites, reflita sobre quanto tempo do dia você dedica à alimentação desde sentido de ser.

Reflita sobre se algum dia você refletiu sobre isso! 

Mas, a mais importante das reflexões é a seguinte: será que minhas “novas” motivações não seguem sendo alimentadas por velhos apetites?

Será que eu estou mesmo me transformando ou sigo presa à roda da vida?

Acredito que podemos quebrar os velhos ciclos permanentemente. Foram milhares de anos dedicados a isso e me nego a crer que somos a primeira geração incapaz de comer carne e de evoluir.

Quero estar do seu lado quando você estiver finalmente caminhando em direção à liberdade dos apetites.

Mesmo que levemos a vida inteira para chegar lá, seu caminho será, finalmente, um caminho de evolução: e esta liberdade interior, este preenchimento de pertencer à história (sua e de todos nós), nenhum número na balança te dará.

(ironicamente, é aqui que você se sentirá nutrido e emagrecerá) 

Indico um livro transformador chamado Sidarta, de Hermann Hesse. Uma leitura prazerosa e emocionante que conta a história do ser humano através de uma trajetória belíssima, que é a de todos nós. Vou até deixar o link pirata de download gratuito para que você possa começar agora mesmo e refletir ao longo das férias. 

Nota: a imagem que abre este post foi pintada por duas crianças da Science & Arts Academy, em Chicago. Dedique algum tempo a refletir sobre os elementos do mural. 

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