Você está sofrendo de estafa e as desordens mentais estão vindo com tudo, certo? O pensamento mais óbvio é reduzir ainda mais o que você está fazendo. Sim, justo. Desde que você não reduza aquilo que pode te salvar.
É senso comum que estamos acelerados demais e a indústria do lazer é uma das que mais cresce na sociedade. Férias. Prazer rápido. Séries. O que for. Parece que, quanto mais aceleramos, mais precisamos fazer nada.
Ocorre que há outra linha de pensamento: o fazer nada é justamente o que está nos afundando. Não me entenda mal, parar é necessário, mas o homem contemporâneo para justamente onde deveria avançar: no seu propósito de vida.
O que temos é a equação do inferno: muitas demandas sem sentido algum e pausas frívolas, que nada acrescentam às nossas vidas. Aqui, temos como resultado um estado depressivo ou neurótico, em que a sensação de paralisia, vazio e esmagamento é óbvia e inescapável.
Estagnação e depressão são gêmeas siamesas. O porquê desta pessoa não estar agindo envolve complexos mecanismos de alta expectativa, baixa autoestima, cobrança e crítica, que impedem a pessoa de dar um passo, sendo que até mesmo o passo mais despretensioso poderia revelar o universo que faltava.
Se este ser não andar, ele não errará e estará seguro. Contudo, ele também não revelará, a si mesmo, o poder criativo individual que possuía, que é a essência da autoestima, do valor próprio: é a segurança verdadeira que ele sempre buscou, a segurança em si mesmo.
Confira abaixo o texto do Academy of Ideas e ouse mudar alguns paradigmas.
“Este é um dos problemas mais urgentes do homem civilizado. Ele criou a civilização para ter segurança. Segurança para quê? Para o tédio? O principal problema é que a maioria dos seres humanos precisa de certo grau de desafio, de estímulo externo, para impedi-los de afundar no olhar vazio e na consciência vazia do idiota.”
(Colin Wilson, New Pathways in Psychology)
Durante a maior parte da história, o lazer era um luxo raro. Trabalhar do nascer ao pôr do sol para sobreviver era o destino de quase todos, homens, mulheres e crianças até algumas centenas de anos atrás.
O geólogo inglês Sir Charles Lyell escreveu que, na década de 1840, os EUA eram “um país onde todos, ricos e pobres, trabalham da manhã à noite, sem nunca ter um feriado.
Com o início da segunda revolução industrial no final do séc. 19, e com ela, a rápida intensificação da divisão do trabalho, houve uma revolução do lazer.
Este período de desenvolvimento industrial acelerado levou muitos do campo até as grandes cidades em busca de trabalho, e o regime de horas associado com o trabalho nas indústrias trouxe às massas, pela primeira vez na história moderna, tempo livre programado para fazer o que quisessem.
Embora mais de cem anos tenham se passado desde essa revolução do lazer e os frutos da civilização e do lazer tenham se tornado mais abundantes, talvez, mais do que em qualquer período da história da civilização, o indivíduo comum hoje está livre da luta diária pela sobrevivência.
Mas, com essa liberdade inédita, nos deparamos com uma questão crucial: somos livres para quê?
Como usar o tempo que não é utilizado para as necessidades da vida? Poucos consideram essa questão, assim como muitas questões importantes sobre a vida. A maioria se afunda na conformidade e subentende que o tempo livre deve ser gasto descansando e passivamente consumindo, e por isso, suas vidas tomam uma forma comum e seguem um curso semelhante ao descrito pelo filósofo Richard Taylor no séc. 20:
“A maioria das pessoas são, no senso mais comum, muito limitadas. Elas gastam o tempo, dia após dia, em passatempos passivos, ociosos, apenas olhando coisas – jogos, televisão, qualquer coisa. Ou preenchem suas horas falando, normalmente coisas insignificantes – acontecimentos, a vida alheia, o clima. Coisas que são esquecidas quase ao mesmo tempo em que são ditas. Elas não possuem aspirações além de terminar mais um dia fazendo mais ou menos o mesmo que fizeram no dia anterior.
Elas caminham pelo palco da vida, deixando tudo como estava quando entraram, alcançando nada, desejando nada, nunca tendo um pensamento original ou profundo. Isso é o comum, usual, típico, normal. São poucos os que se erguem acima dessa existência arrastada.”
Pode-se argumentar que não há nada de errado com esse tipo de existência. A vida moderna é acelerada e estressante e, com o aumento dos problemas de saúde mental, talvez precisemos de mais tempo de descanso.
Colin Wilson, autor inglês do séc. 20, discordava desse sentimento. Demasiada inatividade, ao invés de promover saúde mental, tende a criar infelicidade e vários problemas psicológicos.
Wilson chegou a essa conclusão ainda jovem. Em sua autobiografia, ele observa que, na adolescência, lutou contra períodos depressivos e simpatizava com a sabedoria contida no livro de Eclesiastes: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.”
Wilson, no entanto, tinha uma mente astuta e queria descobrir o porquê de se sentir tão melancólico. Ele percebeu que seus períodos depressivos geralmente eram sucedidos por longos períodos de passividade.
Quando não ocupava seus dias com tarefas interessantes, desafios e problemas para resolver, um humor depressivo logo tomava conta dele, obscurecia sua percepção e o fazia sentir-se pessimista a respeito da condição humana. Mente vazia, oficina do diabo, como ele escreveu:
“Tédio, passividade, estagnação: este é o início da doença mental, que se propaga como detritos em um lago estagnado.”
Se a ideia de Wilson sobre a conexão entre passividade e doença mental for verdadeira, então temos as seguintes opções: desperdiçar nosso lazer em passatempos ociosos, manter nosso potencial inexplorado e nos tornarmos suscetíveis a doenças mentais ou nos esforçarmos para gastar a maior parte do tempo criando, explorando, aprendendo, desafiando nossas capacidades e melhorando nossos talentos.
Essa opção requer perseverança, esforço e o sacrifício do conforto e prazer, mas a recompensa, saúde mental e crescimento pessoal valem a pena.
“O indivíduo mentalmente saudável é aquele que costuma invocar níveis bastante profundos de reservas vitais. Quem permite que sua mente adormeça – para que apenas a superfície seja perturbada – começa a sofrer de ‘problemas de circulação’. A neurose é o sentimento de estar desconectado dos próprios poderes.”
E se a conexão entre passividade e depressão não se aplicar a todos, mas somente a uma minoria com um impulso criativo incomum?
Talvez, a passividade não traga sofrimento para alguns como para Wilson. Isso significa que o esforço para gastar nosso tempo em atividades criativas seja um desperdício de tempo e energia?
Em seu livro, Restoring Pride, Richard Taylor fornece um argumento convincente sobre como a luta para produzir e criar vale sempre o esforço, pois, como ele explica, aumenta nossas possibilidades de sermos capazes de alcançar o raro estado de orgulho.
Taylor define o orgulho como “o amor justificado de si mesmo” e observa que, embora muitas pessoas afirmem amar a si mesmas, na maioria das vezes, seu “amor próprio” não é orgulho, mas sim narcisismo ou um escudo arrogante para proteger sua insegurança e autopercepção.
Para ser verdadeiramente orgulhoso, Taylor explica, é preciso “ter o tipo de amor que é justificado pela pessoa que você é.”
Ou seja, você deve cultivar uma habilidade extraordinária em um domínio específico e, assim, alcançar uma excelência pessoal que o diferencia dos outros.
A ideia de que algumas pessoas são “superioras” a outras parece ofensiva, pois, como aponta Taylor, muitos confundem direitos iguais com méritos iguais. Só porque todos possuem direitos e devem ser tratados igualmente perante a lei, isso não significa que todos possuem o mesmo mérito.
Para os gregos antigos isso era evidente. Eles reconheciam que, embora a maioria dedique sua vida a se adaptar ao rebanho, uma minoria desenvolve habilidades incomuns, produz algo de valor excepcional ou trilha um caminho em busca de grandeza pessoal, sem levar em conta a aprovação ou opiniões de outros.
São estes indivíduos “valorosos” que, sozinhos, são capazes de amar a si mesmos de maneira não baseada em falsos pretextos.
Portanto, da próxima vez que tivermos tempo de sobra e liberdade para fazer o que quisermos, ao invés de instintivamente pegar o controle remoto, nos envolvermos em atividades passivas na web ou socializar sobre assuntos superficiais, devemos nos perguntar se o conforto e o prazer que essas atividades proporcionam valem a pena.
Mesmo que a passividade não semeie em nós o pessimismo e a depressão, ela certamente diminui nosso valor como seres humanos, minimizando nossas chances de algum dia alcançarmos o amor próprio que acompanha o orgulho genuíno ou, como Taylor explica,
“Algumas pessoas, sem dúvida, são destinadas a serem comuns, a viverem sem um propósito significativo, o que é relativamente raro. A maioria tem o poder da criatividade, alguns em grau divino. Mas, muitos – talvez a maioria – se contentam com prazeres passageiros e em satisfazer o lado animal de nossa natureza.
Para muitos uma vida bem-sucedida é aquela vivida com o mínimo de sofrimento, com o momento a momento e com a aprovação geral dos outros, apesar de terem dentro de si a capacidade de fazer o que talvez nenhum outro ser humano tenha feito antes.
Somente fazer o que outros já fizeram costuma ser seguro e confortável; mas produzir algo realmente original e bem-feito, mesmo que os outros não apreciem – é isso que significa ser humano e é só isso que justifica o amor próprio.”
Disclaimer: este conteúdo é informativo para o público em geral com base em pesquisas científicas e não substitui avaliação com seu profissional de saúde.
Não existe autoestima sem movimento. Reduza suas expectativas sobre o primeiro passo. A espécie humana não nasce completa. O nenê leva anos para aprender a caminhar. Como diz Jordan Peterson, todos somos idiotas quando estamos aprendendo algo novo. Todos. Você não será a primeira pessoa que dará o primeiro passo perfeito. Mova-se não para ser perfeito, mas sim para conhecer e amar aquele que anda. Este movimento se chama autoestima.
Grande beijo da Ju Szabluk