Podcast Keto #1: O segredo que o pão quentinho guarda sobre você

Se eu tivesse uma máxima para debochar no mundo das redes sociais é a de que as pessoas comem trigo e doces porque “não sabem que fazem mal”. É a lógica de que ensiná-las sobre os malefícios da glicose alta será suficiente para criar um mundo saudável. Esta ideia é bastante repetida e não é apenas ingênua, mas como profundamente prejudicial.

A insinuação de que basta conhecimento intelectual para cortar algo complexo como o açúcar é tão útil quanto a foto da impotência atrás da carteira de cigarros.

Mas, o pior, ela deixa implícito que, se o conhecimento intelectual não foi suficiente para você, o problema está com você.

Insira minha profunda risada aqui.

É esta a risada que ofereceremos às pessoas daqui para frente.

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100% dos casos que atendo comem a barra inteira de chocolate não por falta de conhecimento intelectual. Tampouco, por hábito. Menos ainda por fácil acesso. Ou por suposta imposição social. Também não por tédio. Ou por picos de açúcar no sangue.

O que é então que te leva a recorrer ao açúcar ou ao alto carboidrato? Tudo. Todos estes fatores unidos. É a baixa serotonina, baixa endorfina, estresse constante. É o vazio de si mesmo em uma sociedade que acredita que o conhecimento intelectual é capaz de te suprir… Ah, o grande cérebro no jarro, que subjuga o corpo quando deveria integrá-lo.

É a estrutura de vida que tu construiu, ao longo de décadas, em que teus amigos estão atrelados à comida, ao álcool ou drogas quaisquer. Tu construiu isso com os padrões automáticos que tu leva dentro de ti. Tu escolheu teu marido com este padrão, teu emprego, tua cidade, casa etc.

Este é o modo automático que tu atribui apenas ao momento em que tu pega aquela pão quentinho e engole sem sequer notar. Este modo automático te dominou em basicamente tudo a vida inteira, não só no pão da jacada, meu amigo.

Tu criou teus filhos com este padrão. As crianças foram acostumadas a comer o pão porque era rápido e fácil, porque os pais não estavam lá ou estavam cansados demais para sentar e brincar.

Não tem problema, mas note uma coisa: é o mesmo pão que tu come quando tu não te dá atenção. Teu filho é só mais um a aprender o padrão que tu cultiva com tanto ardor.

É o padrão que tu cultiva quando tu não te ouve naquele pequeno grito pedindo para descansar, sentar e comer, dar uma risada, alongar, sumir o que for. Aquele pequeno grito cresce diariamente e fica ensurdecedor.

É por tua ausência de ti mesmo que tu precisa de todo pão e de todas as drogas que puderem maximizar este imenso vazio e estrutura deficiente que tu ergueu.

E não é só coisa aparentemente ruim não, ok? Passar o dia no trabalho ou na academia terão o mesmo efeito sobre ti. Fugas mais bonitas, que geram mais dinheiro e corpos mais sarados, mas que terão que enfrentar tua verdade, cedo ou tarde.

Ok, então ferrou, porque preciso mudar tudo de um dia para o outro, certo? Preciso de um desafio 21 dias de total aniquilação do meu antigo eu.

Sim, se o teu objetivo for o suicídio.

A verdade é que esta imensa bola complexa de fatores precisa evoluir conjuntamente.

(Não seja um ocidental quando for se observar. Afinal, você quer a evolução do seu olho esquerdo ou de si mesmo como um todo?)

Não mexa na alimentação de uma pessoa sem mexer na vida dela. Ou seja, não corte nada sem colocar o que de fato faltava no lugar. Sem dar o que pão quentinho significava.

E como saber o que de fato faltava?

Olhando para ti pela primeira vez.

Aprendendo a única coisa que nunca está na pauta: tu precisa aprender a te ver.

Este é o conhecimento que sempre faltou a nós todos e que, infelizmente, não está no instagram. Não falo de nada místico não, mas sim de coisas básicas, do cotidiano. O cotidiano, quando visto com sua real complexidade, revela tudo que precisamos.

Comecemos: eu quero saber da tua família. Da tua infância. Pai e mãe. Quando tu começou a engordar? Como era o bullying? Amigos de colégio. Namorados abusivos? Abortos espontâneos? Drogas? Solidão? Pensamentos suicidas? Quanto tempo ficou na faculdade? Quantas foram? Quantos empregos teve? Quantas horas trabalha? Como tu te sente após comer queijo? E quando tu acorda tarde, como fica? E cedo demais, muita ansiedade? Como fica a aceleração mental com MCT ou com exercícios de alta intensidade? Como está o prazer no trabalho? E a libido? Tem certeza de que segura o tranco com os filhos em casa enquanto estuda? E a pasta de amendoim no armário, que te faz vomitar à noite? Fica melhor com almoço carnívoro ou posso colocar legumes? Como tu volta da caminhada após o almoço? Café à tarde te impacta? Como tu lida com a euforia no jejum? Laticínios te acalmam ou te fazem jacar? E, claro, que horas tu come o pão e como tu te sente depois?

Cada pessoa tem uma resposta e só tu pode me responder as tuas. E como eu sei que ninguém nunca parou para te conhecer, muito menos tu, estas respostas só surgirão conforme o desenrolar da tua vida.

Ou seja, eu preciso que tu te observe pela primeira vez daqui para a frente, porque eu tenho muitas, muitas perguntas para ti. E acredite: nada do que tu fizer, em absoluto, estará errado. Pelo contrário, tudo tem uma chave para que eu te conheça melhor… Para que tu te conheça melhor e é só isso que interessa. Afinal, não tem como tu cuidar de algo que tu nunca conheceu.

O número de perguntas é infinito. Mais infinito ainda é o cruzamento de todas as informações (e as oscilações naturais aos humanos). E é isso mesmo que tu precisa começar a ver. A te ver. Vivo.

Mas, minha primeira pergunta para ti é por que tem alguém que não te conhece te dando respostas sobre ti neste momento: o que tu deve comer, onde tu deve ir, quais exercícios deve fazer? Como tu está recolhendo respostas em tempos de perguntas?

Tu não te sente totalmente perdido ao inverter a lógica?

Hoje, eu quero reinverter as coisas. Colocar um pouco de chão sob teus pés.

Quero que tu pare e escute o que tu está te dizendo. Observa o que o pão das 18h quer que tu veja. Quero que tu analise como se sente após fumar o cigarro, tomar o café, beber o vinho, comer o chocolate, o que for. O que te preocupa? O que te tranquiliza? Que horas o estresse começa? Como tu te acalma? Aliás, tu consegue te acalmar depois que a crise estoura?

E, pela primeira vez, em vez de culpa, quero que tu seja tomado por um espírito libertador de curiosidade e de investigação deste complexíssimo quebra-cabeças que se chama Tu.

Amanhã, por favor, coma o pão se preciso for, mas também dê um passo em direção àquilo que ele verdadeiramente significava – seja um momento para respirar no parque, um abraço no cachorro, uma ida à opera, uma bela (e esquecida) noite de amor com o marido ou uma folga do emprego… Ou uma nova carreira – o que for necessário para mudar os velhos padrões… Para dar ao pão o que ele finalmente queria de ti.

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