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Novos estudos: quais desordens a Dieta Cetogênica tratará no futuro?

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Voltamos a David S. Ludwig para falar de Low Carb e Cetogênica. Estudos lançados há poucos dias pelo médico no Journal of Nutrition reúnem basicamente tudo que precisamos saber da Keto atualmente.

Se você não lembra do Ludwig, foi dele a pesquisa que comprovou a chamada vantagem metabólica de se fazer uma dieta Low Carb. Ele mostrava que organismos adaptados a dietas de baixo carboidrato queimavam 250 calorias a mais por dia e, portanto, tinham facilidade na manutenção do peso.

Agora, ele acaba de lançar um artigo reunindo as evidências para dizer o que vocês queriam ouvir: é seguro para todos fazer a Dieta Cetogênica.

De fato, temos algo como 5 ou 10 estudos saindo semanalmente e tudo que temos visto aponta para uma bela segurança em médio e longo prazo.

Hoje, veremos quais são (ou eram) os riscos e, acima de tudo, o que os novos 85 estudos realizados neste momento estão descobrindo sobre o tratamento com cetogênica para variadas desordens, que vão do alcoolismo ao câncer.

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Ok, você é novo aqui e nem sabia que havia riscos em pauta, são eles fatores como riscos cardíacos e obesidade pela alta gordura da dieta, além de problemas que discutimos nos grupos de estudo e que aparecem em alguns casos de Dieta Cetogênica clássica para crianças com epilepsia.

Estou sempre debruçada sobre estes casos, tentando desvendar questões que surgem em relatos como: aumento do ácido úrico (temporário), pedras nos rins (leve aumento nas crianças em keto clássica) e a que mais assusta, a rigidez arterial que apareceu em alguns casos de crianças em cetogênica clássica e que passa assim que a dieta é modificada ou retirada.

Enfim, há muita especulação e casos que nos levam sim a questionar a segurança da Cetogênica por razões óbvias de responsabilidade. Então, acompanhar os estudos e sermos honestos é o mínimo que podemos fazer.

Vejamos o que Ludwig traz de forma bem resumida:

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Cetose constante provê benefícios metabólicos únicos

Além dos benefícios conhecidos das dietas de baixo carboidrato, a Dieta Cetogênica provê melhorias extras através da modulação de: inflamasoma, danos oxidativos, acetilação da histona, mitofagia e outros mecanismos.

Leia também: Novos estudos sobre Corpos Cetônicos explicam a revolução da cetose no seu organismo

Corpos cetônicos já são chamados de supercombustível para o cérebro, um combustível do qual nenês podem segura e totalmente depender. Graças a todas estas melhorias metabólicas geradas pelos corpos cetônicos, eles passaram a ser amplamente estudados pela ciência.

Atualmente, há 85 estudos em andamento que focam em patologias neurológicas, psiquiátricas, endócrinas etc.

Vamos ver o que estes estudos estão demonstrando? Abaixo, você conhecerá os caminhos que estão sendo encontrados pelas mais recentes pesquisas para diversas questões. 

Câncer e cérebro:

Corpos cetônicos podem levar ao Efeito Warburg (células cancerígenas tendem a preferir a glicose como combustível, mesmo em ambientes com abundante oxigênio); à redução da concentração de insulina e de outros hormônios e fatores que estimulam o crescimento destas células; à modulação do sistema imunológico; à redução dos efeitos colaterais da quimioterapia e da radiação.

Coração e inflamação crônica:

Cetose induz a perda de peso; insulinemia e glicemia pós-prandial reduzida; tem efeitos anti-inflamatórios.

Diabetes tipo 1:

Corpos cetônicos reduzem a necessidade de insulina e das excursões glicêmicas pós-prandiais (elevação excessiva da glicose após as refeições). Veja os valores normais de glicose aqui.

Diabetes tipo 2:

Mesmos benefícios acima citados; perda de peso.

Obesidade:

Redução do estímulo anabólico do tecido adiposo; divisão dos combustíveis metabólicos.

Doença hepática gordurosa não alcoólica:

Insulinemia e glicemia pós-prandial reduzida; aumento da oxidação da gordura.

Síndrome do intestino irritável:

Melhoria na microbiota; fermentação dos carboidratos.

Questões neurológicas, Mal de Alzheimer e Epilepsia:

Fator neuroprotetor dos corpos cetônicos reduz inflamações, edemas cerebrais, danos oxidativos, amiloidose, melhora a energia do metabolismo neural, tem efeitos epigenéticos e melhora a microbiota.

Alcoolismo, autismo e desordens psiquiátricas:

Redução dos sintomas de retirada de medicamentos, redução de desejos e mecanismos de recompensa, redução das neuroinflamações, melhoria do metabolismo neural e da microbiota.

Performance física:

Melhoria do acesso aos combustíveis metabólicos.

Gangliosidose:

Melhoria da eficácia dos tratamentos, sintomas dos tratamentos reduzidos.

Linfedema:

Melhoria da função das células endoteliais; melhoria do transporte linfático.

Apneia do sono:

Perda de peso; redução da gordura visceral.

Dieta Cetogênica para câncer e doenças neurodegenerativas

Os efeitos metabólicos da Dieta Cetogênica têm relevância especial para a oncologia. Muitos cânceres implicam defeitos mitocondriais, tornando-os dependentes da fermentação glicolítica.

A Dieta Cetogênica e o efeito Warburg podem fazer as células “morrerem de fome” sem toxicidade para as células saudáveis, ao reduzirem os níveis de glicose. Ainda, colaboram a redução da insulina, hormônio que leva a alguns tumores, e os próprios corpos cetônicos. Obviamente, a Dieta Cetogênica sozinha não cura cânceres, mas pode agir como grande parceira nos tratamentos e como prevenção.

Para a neurologia e psiquiatria, os corpos cetônicos têm gerado grande interesse. Relatórios preliminares sugerem que pacientes com Alzheimer, caracterizado por resistência à insulina central, mostram melhorias clínicas com Dietas Detogênicas ou suplementação de cetonas exógenas.

Restrição de carboidratos é mais eficaz do que restrição de gorduras para emagrecimento

Comprovando o que os relatos já afirmam há anos, dietas de baixo carboidrato suprimem a fome. Os estudos mostram que, mesmo com dietas com calorias liberadas, os participantes optam por comer menos, já que há saciedade constante. A restrição de carboidratos também aumenta o gasto energético: como mencionei, pessoas em low carb podem ingerir de 200 a 250 calorias diárias a mais [em cetose, quanto a mais será]?

Dietas de baixo carboidrato são uma promessa no tratamento da diabetes

A Associação de Diabetes Norte-Americana lançou, em 2019, um relatório concluindo que dietas de baixíssimo carboidrato (incluindo a Cetogênica, é claro), “estão entre as dietas mais estudadas para a diabetes tipo 2” e que estas “dietas, especialmente aquelas de baixíssimo carboidrato … demonstraram uma redução da hemoglobina glicada e da necessidade de utilização de medicamentos”.

No mês em que a metformina foi revelada como possível cancerígena, nada maior do que isso.

Poucos estudos foram feitos sobre restrição de carboidratos em diabetes tipo 1, possivelmente por preocupação com hipoglicemia e cetoacidose.

Porém, em uma pesquisa com 316 adultos e crianças que seguiam uma dieta de baixíssimo carboidrato para diabetes tipo 1, foi constatado baixas taxas de hipoglicemia e cetoacidose, uma melhoria no risco cardiovascular e alta satisfação com a manutenção da diabetes tipo 1.

Dietas de baixo carboidrato reduzem os riscos cardíacos apesar da alta gordura saturada

O pesadelo da Cetogênica, o elevado ou elevadíssimo LDL. Sim, isso ocorre, parcialmente devido ao aumento de gordura saturada, mas a melhoria na distribuição do tamanho das lipoproteínas indica uma redução do risco de doenças cardíacas, já que há aumento das partículas.

Consistente com esta hipótese, indivíduos com LDL elevado de forma isolada (sem outros fatores de risco) possuem menos risco cardíaco do que indivíduos que possuem taxa elevada de triglicerídeos e baixo HDL. Vale lembrar que intervenções com Dieta Cetogênica reduzem abrupta e rapidamente os triglicerídeos e elevam HDL a níveis ótimos.

De fato, diz Ludwig, existe um precedente para a redução de risco cardiovascular no contexto de elevação do LDL: tratamento com inibidores do cotransportador sódio-glicose (SGLT) 2. Os mecanismos de funcionamento desta classe de medicamentos encontram similaridades fisiológicas, se não moleculares, com os benefícios propiciados pela Dieta Cetogênica.

Ludwig lembra que a relação entre gordura saturada e mortalidade observada na população geral NÃO se aplica àqueles adaptados à Dieta Cetogênica, já que cetoadaptados possuem altas taxas de oxidação da gordura e baixas taxas de lipogênese de novo (LDN) , o processo pelo qual carboidratos são transformados em lipídios (ácidos graxos).

Conclusões

Dietas podem produzir efeitos variados nas pessoas. Contudo, além da fadiga e de outros efeitos temporários em fase de adaptação, uma Dieta Cetogênica bem-formulada parece ser segura para a população geral.

Baseado em evidências, a Cetogênica pode ser considerada um tratamento de primeira linha para obesidade e diabetes tipo 2. Também, para outras desordens crônicas, muitas vezes intratáveis, como diabetes tipo 1, esteato-hepatite, doenças neurodegenerativas e câncer.

Contudo, a falta de estudos de alta qualidade ainda é uma barreira para a compreensão dos próprios médicos e do público em geral.

Algumas questões devem ser colocadas:

  • Como a elevação do LDL através da restrição de carboidratos afeta os riscos cardiovasculares?
  • A redução da hemoglobina glicada na diabetes, em pessoas em cetose, significa redução de doenças micro e macrovasculares?
  • Há populações em risco específico, como os chamados hiperresponsivos, ou condições para as quais a Cetogênica não seria indicada (grávidas, doenças renais)?
  • Qual é a eficácia da Cetogênica na perda de peso em longo prazo?
  • A cetose crônica provê benefícios únicos, além daqueles obtidos por outras dietas, como a do baixo índice glicêmico?

As perguntas propostas por Ludwig são as minhas também. Acrescento outras, como o impacto dos hormônios femininos nas mulheres com epilepsia, a ansiedade ou insônia gerada por elevado número de corpos cetônicos, a queda de corpos cetônicos em cetocarnívora, a relação entre bipolaridade e epilepsia, os mecanismos de melhoria em desordens como déficit de atenção que, nas pessoas que atendo, tem efeitos surpreendentes mesmo.

As questões são muitas, as trocas entre profissionais de cetogênica mundo afora é intensa. É uma comunidade global extremamente unida e engajada. As pesquisas prosseguem e o Revolução Keto vai atrás. Muitos posts de “novos estudos” virão.

Peço perdão pela pressa do conteúdo, mas época de férias é isso mesmo! Apenas uma breve passada para atualizá-los, meus queridos, do que há de mais recente e confiável no mundo da cetose.

Leia o artigo original de David S. Ludwig com todas as fontes neste link!