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Estresse, hipotireoidismo e desregulação hormonal: epidemias femininas

Hipotireoidismo e desregulação hormonal em massa. Há alguns anos, estas questões femininas têm me intrigado incrivelmente, mas me sinto sozinha em meu espanto. Por que um monte de mulheres está passando por problemas hormonais atualmente? O que está acontecendo?

Na minha antiga série sobre platô, o médico Eric Westman e a nutricionista Amy Berger colocam a questão hormonal como o último fator para a mulher não emagrecer na Dieta Cetogênica.

E mesmo que eu não trabalhe exclusivamente com emagrecimento, após milhares de mulheres acompanhadas em sua intimidade, posso tranquilamente dizer hormônios são a primeira “causa” da dificuldade de perder peso – sejam eles de estresse ou sexuais (eixo HPA – Hipotálamo hiperativado em uma vida impossível, – Pituitária, secura vaginal, falta de libido e energia – Adrenais, perda de cabelo, fadiga, dores musculares).

Ainda, esta vida de demandas excessivas sem descanso desregula totalmente o sistema nervoso autônomo – que controla pressão arterial, frequência cardíaca, temperatura corporal, peso, digestão, metabolismo, equilíbrio eletrolítico) e também pode se manifestar no chamado eixo HPT (Hipotálamo, Pituitária e Tireoide: são as mulheres cuja vida de cobranças infinitas e impossíveis – incluindo o número de calorias e as horas de jejum excessivas.

E iria além: desregulação hormonal também me parece a primeira ou segunda “causa” das desordens com as quais eu mesma trabalho (e que levam sim ao ganho de peso): os transtornos emocionais e mentais.

Mesmo assim, antes de sair correndo para implantar chip da beleza, tomar pílula, colocar DIU ou injetar saxenda e ozempic (lembrando que 2/3 das pessoas que emagrecem com agonistas GLP1 voltam ao peso original quando param com o tratamento), eu preciso lembrar que esta desregulação hormonal pode não ser a causa, mas sim uma consequência…

E a causa dos problemas hormonais femininos é sim epidêmica: o estresse. 

Gosto da fala da minha própria endocrinologista, que segue a abordagem integrativa: o sistema endócrino é o primeiro sistema a ser destruído após o estresse.

E por estresse eu quero falar sobre teu casamento falido, esperanças reprimidas, trabalho excessivo, lista de demandas impossíveis, autocobrança esmagadora, emoções sufocadas. Como pontua a Ph.D em cetogênica e enxaqueca Elena Gross, “para o corpo, estresse é estresse, seja exercício físico excessivo ou problemas no trabalho.”

Eu falo sobre as duas ilusões contemporâneas: na parte física, a de que o corpo humano é o único sistema que não precisa de repouso; na parte mental, a de que o ser humano pode reprimir seus sonhos e medos mais obscuros.

Estas duas ilusões, unidas, são a chave para o estresse galopante que tem varrido a saúde feminina.

Hashimoto, menopausa e pré-menopausa precoces, dominância estrogênica, baixa testosterona, hipotireoidismo, alta insulina, fadiga, depressão, problemas de memória, ansiedade e insônia, baixa libido, pânico, seja o que for.

Hoje, veremos quem são as mulheres em maior risco das doenças que afetam os sistemas do corpo de uma mulher – da constipação à queda de cabelo, passando pela qualidade dos pensamentos. E como podemos dar passos possíveis para começar a equilibrar estas questões com a dieta cetogênica.

Disclaimer: este conteúdo é informativo para o público em geral com base em pesquisas científicas e não substitui avaliação com seu profissional de saúde.

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Dieta Cetogênica e Hormônios Femininos

Dieta cetogênica + hormônios femininos: temos algumas preocupações nesta equação. Nem tudo são flores no mundo do baixíssimo carboidrato para a saúde hormonal da mulher.

Já sabemos por estudos que uma média de 16% das jovens desenvolve hipotireoidismo em cetogênica clássica (ao longo de seis meses de dieta). Temos incontáveis relatos, vindos de pacientes e médicos, de quedas em marcadores fundamentais às mulheres ao longo de meses de dieta, como nosso estrogênio. E isso, infelizmente, nos leva a outro quadro nada raro em cetogênica, como o da amenorreia, ou seja, parar de menstruar. Ainda, ciclos cada vez mais longos ou mais curtos. Tudo muito ruim.

São muitos anos trabalhando com cetogênica para eu vir aqui de forma ingênua e atribuir tudo isso à cetose. Não faria isso. MAS, eu trabalho com mulheres. E sei como mulheres são. Eu conheço seus medos. Sei quais traumas as impulsionam. Eu vejo quem elas seguem nas mídias. Eu vejo o que seus líderes preconizam.

Estas mulheres querem perder muito peso muito rápido. Elas tentam fazer cetogênica de baixa caloria, porque vêm da cultura do alto carboidrato. Ainda, aproveitam a otimização cognitiva da dieta para produzir o dobro ou o triplo ao ponto em que esquecem de comer – ou até aliam jejuns extensos a uma dieta que mimetiza o jejum, a cetogênica.

E o que ocorre aqui? Os macronutrientes destas mulheres, a proporção (ratio) destes pratos fica mais radical do que a mais radical das abordagens cetogênicas, a cetogênica clássica. É a cetogênica dos 16% de hipotireoidismo, que mencionei acima.

Não obstante, esta mulher ainda corta gorduras, algo totalmente proibido na cetogênica clássica. Ou seja, esta mulher se coloca em um risco muito mais elevado do que estes significativos 16%. E sem qualquer tipo de acompanhamento médico constante, o que seria imperativo na cetogênica clássica.

Baixa caloria, perda de peso abrupta, medo de gordura, jejuns extensos, nenhum descanso em uma dieta cetogênica = segredo para a tragédia hormonal. Mesmo que esta mulher não perca peso ou faça jejum, qualquer um destes fatores aliado à cetose já colocaria o corpo em um estado de agitação interna que é oposto à saúde hormonal feminina.

É o mundo do estresse. Adrenalina, noradrenalina, hormônio liberador de corticotrofina e outros hormônios extremamente potentes em avisar o corpo sobre uma situação: é hora de lutar ou fugir (fight or flight).

Ativar o sistema de luta ou fuga, em termos práticos, significa: não é hora de ter fome, algo que vocês adoram sentir, e não é hora de ter um sistema hormonal para reproduzir, algo que vocês detestam. Vamos ver um pouco mais sobre isso abaixo.

Cetogênica, ansiedade e desregulação hormonal

Sabemos muito pouco sobre o funcionamento da Dieta Cetogênica no cérebro humano. Ficamos um século estudando os mecanismos ligados à epilepsia e somente agora estamos evoluindo a outras aplicações.

Contudo, isso que direi já é bem estabelecido: a Dieta cetogênica reduz serotonina enquanto eleva noradrenalina, precursora da adrenalina.

Uma das mais importantes revisões de cetogênica para transtornos do humor alertou, em 2020, sobre os mecanismos da cetose no cérebro: a abordagem nutricional reduz “dopamina e serotonina, neurotransmissores cruciais para a patofisiologia da depressão. Por outro lado, a dieta cetogênica eleva os níveis endógenos da noradrenalina.”

Há anos aguardava esta revisão, pois via claramente isso em meus clientes. Em atendimentos de Parkinson, vi o que até então foi apontado em estudos sobre cetogênica e Parkinson: um agravamento inicial significativo dos sintomas motores particularmente. Talvez, a redução de dopamina seja um dos motivos – um obstáculo aos gânglios basais responsáveis pelo controle dos movimentos já prejudicados pela doença.

Ainda, eu precisava entender por que havia um aumento no uso de celulares ou até cigarros em cetose (ambos elevam intensamente a dopamina). Até mesmo um consumo inicial exagerado de proteínas, pois sabemos que proteínas são fundamentais na elevação da dopamina e que dietas de alta proteína geram mesmo esta grande excitação cerebral.

No caso da noradrenalina, sabemos que o psiquiatra de Harvard Chris Palmer vinha dedicando seus estudos à compreensão de um quadro hipomaníaco na fase de adaptação da cetogênica. A euforia inicial. Para quem não sabe, o neurotransmissor mais relacionado à mudança de estados de humor no transtorno bipolar é justamente a noradrenalina, elevada na cetogênica.

Resumindo:

  • O que importa é frisar que a cetogênica reduz serotonina, o regulador da ansiedade, do sono, da digestão.
  • E eleva noradrenalina, um neurotransmissor/hormônio do estresse lançado a partir do sistema nervoso simpático para potencializar as reações de luta ou fuga humanas.

Tu já sabia sobre esta excitação, euforia, como queira chamar: é tua insônia, taquicardia, hiperprodutividade, falta total de fome, sentidos aguçados, alta performance, redução de dor física (e emocional). É o super-humano fugindo do leão. É isso que o sistema de luta ou fuga faz de fato.

E por que devemos observar estas mudanças em um conteúdo sobre hormônios femininos?

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A endocrinologista Diana Schwarzbein, especialista em diabetes, metabolismo e hormônios femininos, nos explica porque isso é fundamental:

Estradiol é o estrogênio produzido pelos ovários. Os níveis de estradiol são inversamente proporcionais aos níveis de adrenalina. Quando o estradiol está baixo, a adrenalina está alta. Quando o estradiol está alto, a adrenalina está baixa.

Níveis baixos de estradiol são comumente vistos em mulheres antes da puberdade e durante a menopausa. Antes da puberdade, as meninas geralmente são magras por causa do baixo estradiol. Por isso, também, possuem tanta adrenalina. Quando a puberdade começa, os níveis de estradiol se elevam e a adrenalina cai. Se ela não começar a ovular logo, não produzirá progesterona suficiente.

Os níveis de progesterona são proporcionais aos da adrenalina: quanto mais progesterona, mais adrenalina. Se a menina não ovula, ela terá mais estradiol e menos progesterona. Este desequilíbrio leva ao ganho de peso. É aqui que elas começam a fazer dietas. Estas dietas elevam a adrenalina.

Adrenalina alta parece funcionar, porque a mulher perde peso, mas o que ela está de fato fazendo é destruindo seu metabolismo.

 

O que estou dizendo, então, é que esta guerreira cetogênica é a mesma mulher que terá problemas hormonais logo ali à frente. Mas, será que passar por isso é de fato necessário?

Pontuei diversos erros que estas mulheres estão cometendo em suas dietas cetogênicas, como hipocaloria, medo de gordura, vidas estressantes etc. Ainda, acrescento restrição de sono, falta de lazeres, carinho, acolhimento, desrespeito ao ciclo circadiano, sendo que a palavra CICLO é a que mais define o feminino. Então, está aberta a questão se a cetogênica sempre será um problema para os hormônios femininos.

Possivelmente, não. Se esta mulher se nutrir, repousar, rir, tiver uma vida equilibrada… Sejamos honestas, esta mulher sequer precisaria da dieta cetogênica (ao menos para bem-estar). E é justamente isso que precisa ser debatido aqui.

Assim como cirurgias bariátricas não são passaportes livres para latas de leite condensado sem engordar, a dieta cetogênica não é passaporte livre para uma vida de estresse galopante sem doenças.

A dieta cetogênica da saúde feminina de Michael D. Fox

Para te falar sobre como melhorar a tua Dieta cetogênica, eu trarei um nome especial ao artigo de hoje: o endocrinologista Michael D. Fox.

Os 4 endocrinologistas que acompanho no mundo cetogênico

Michael D. Fox é o consultor do Diet Doctor e possui uma clínica de fertilidade e sistema reprodutivo na Flórida, EUA. Seus tratamentos mesclam reposição hormonal e nutrição com a Dieta Cetogênica.

Encontrar o trabalho de Michael D. Fox, há alguns anos, foi o fechamento de um ciclo para mim. Ele veio “validar” o que eu vinha observando e estudando sem estrutura. Em alguns seminários e palestras, as décadas de atuação deste médico confirmaram o que eu enxergava. É por isso que ele surge como representante do meu ponto de vista aqui.

Mulheres estressadas, mulheres hipotalâmicas

Quem assiste aos meus vídeos no meu canal do YouTube ou me segue no instagram verá o termo “mulher hipotalâmica” com frequência. Roubei este termo do endocrinologista Michael D. Fox.  O médico o criou para definir a mulher que passa pela constante ativação do hipotálamo, pela ativação do perigo ao redor (ou dentro) desta mulher hipervigilante.

Michael D. Fox dirá que estas mulheres com personalidade hipotalâmica são mulheres que enxergam perigo e inimigos em todos os lugares. Portanto, elas não conseguem parar. São guerreiras natas, com propensão a quedas de energia, transtornos alimentares, infertilidade etc. Sim. Exatamente isso.

A maioria esmagadora dos nossos encontros no grupo do Telegram do Revolução Keto tratam exatamente sobre este tema: como lidar com a cetogênica e hipervigilância, bem como com todo o espectro de doenças que surgem disso – problemas de vasoconstrição, cardíacos, hormonais, ansiedade, falta de memória, oscilações de humor, fadiga, compulsão, questões imunes, o que for.

Michael D. Fox ainda dirá que, segundo o que ele vê em prática clínica e segundo estudos conduzidos nestas mulheres, uma vez expostas a grande estresse, esta desregulação fica para a vida toda. Mecanismos muito relacionados aos traumas e ao estresse pós-traumático, por isso são linhas de estudo minhas também.

Leia a seguir a explicação do endocrinologista cetogênico, apresentada no Seminário Low Carb Cruise 2015

Confira abaixo a fala de Michael D. Fox com os slides originais. Ao final da fala do médico, retorno com adendos meus. 

Michael D. Fox | Mulheres, hormônios e nutrição

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Por que ao menos 70% das minhas pacientes tomam remédios psiquiátricos, são diagnosticadas com déficit de atenção, dores de cabeça etc? Por que isso acontece?

A resposta é: estresse fisiológico e baixo estrogênio como consequência.

Isso está se tornando uma epidemia. Quando comecei a clinicar, em 1994, eu atendia 1 ou 2 destas mulheres por ano. Atualmente, eu vejo 5 por dia. Às vezes, 10.

Estas mulheres estão sofrendo de disfunção do hipotálamo.

Quais são as causas da disfunção do hipotálamo nas mulheres?

  • Estresse nutricional: hipoglicemia
  • Baixo peso e dietas de inanição
  • Transtornos alimentares
  • Estresse gerado por exercícios (aeróbicos)
  • Apneia e distúrbios do sono, quebra do ciclo circadiano
  • Estresse eletrônico (conectividade constante)
  • Depressão e falta de controle
  • Personalidade tipo A

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Estresse fisiológico e disfunção hipotalâmica

O estresse, e agora podemos chamá-lo de disfunção hipotalâmica, mata o hipotálamo. A natureza não quer estressar as fêmeas, porque elas devem engravidar e a gravidez já é altamente estressante.

Quando falamos de estresse, não se trata de ter um dia ruim ou ter que estudar muito para uma prova.

Estresse é estresse fisiológico: é quando seu hipotálamo, seu cérebro, percebe problemas que ameaçam a sobrevivência. Você não nota que está em uma situação de risco, você corre 15km e se sente muito bem, certo?

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Estresse como epidemia feminina: a personalidade hipotalâmica

Eu geralmente sei que estou lidando com uma personalidade hipotalâmica minutos após a pessoa entrar no consultório. Elas entram com 40 páginas impressas da internet e falam antes de eu começar. Vou colocar uma descrição destas mulheres.

  • Elas têm a personalidade tipo A (controle)
  • Praticam exercícios aeróbicos
  • Sofrem de muita preocupação com o peso
  • São extremamente competitivas e sofrem com comparação
  • Período de sensibilização de 1 ano
  • Estradiol (E2) muito baixo, próximo de níveis de menopausa
  • Elas têm uma aparência velha, com rugas, por baixo estrogênio
  • Muitas são vegetarianas
  • Sofrem de hipoglicemia extrema
  • Passam por problemas de fertilidade

Preciso tocar no período de sensibilização: é o tempo de exposição ao estresse que uma mulher pode passar sem sofrer as consequências hormonais. Este tipo de personalidade hipotalâmica tem um período de sensibilização bastante curto, de 1 ano.

Se estas mulheres passarem por qualquer fator estressor, por mais de um ano, elas sofrerão as consequências pelo resto da vida.

Mesmo que elas parem o exercício, retomem um bom peso, 10 anos se passarão e ainda veremos anormalidades hormonais. Existe alguma melhoria, mas a mudança será permanente.

Cortisol, adrenalina, endorfina e estrogênio

A endorfina é o narcótico liberado no gene do estresse juntamente com o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) para produção do cortisol.

Mulheres que praticam exercícios aeróbicos têm elevação de cortisol, adrenalina e endorfina. Isso reduz os níveis de FSH e de estrogênio.

Se você não tem problemas de sensibilização que mencionei, você possivelmente consegue suportar três sessões de 30min por semana sem grandes mudanças endócrinas.

Mas, nós recomendamos exercícios de queima lenta, de força, para as mulheres. Vá caminhar na vizinhança. Isso é muito estimulante do ponto de vista metabólico.

Os perigos da hipoglicemia

A hipoglicemia é um tipo de estresse severo, que coloca a vida em risco. Eleva cortisol e adrenalina, distúrbios de sono, desejo elevado por carboidratos, que estimulam a insulina.

Progesterona: um novo inimigo

Muitas mulheres estão tomando drogas com progesterona. A progesterona é inibidora do hipotálamo. O estrogênio é, eventualmente, desligado. A progesterona extra protege contra os sintomas do baixo estrogênio, então, as mulheres não conseguem perceber o quadro.

Estamos vendo um número enorme de mulheres que, aos 25 anos, já vêm com calorões, suor noturno e estão modulando progesterona.

As causas iatrogênicas (efeitos colaterais de tratamentos) que levam ao baixo estrogênio: pílulas anticoncepcionais, progesterona injetável, Mirena, pílulas de progestina, implante contraceptivo.

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Hipotireoidismo e conclusões finais

Não pude falar sobre hipotireoidismo hoje, mas quero deixar um alerta. O hipotireoidismo é muito mais um efeito do que uma causa.

Hipotireoidismo é uma resposta a este estresse, que reduz a função da tireoide.

O que concluirei da minha fala de hoje é:

  • Baixo estrogênio é um problema: as mulheres se sentem péssimas e recomendaríamos suplementação de estrogênio a todas as mulheres, seja em menopausa ou antes disso, a não ser que elas tivessem uma contraindicação absoluta.
  • Com a nutrição cetogênica, vemos uma abrupta melhoria na fertilidade, além da redução de abortos. Isso é possivelmente devido à melhoria na gestação, o que também pode levar à saúde do feto e à redução da predisposição do nenê à síndrome metabólica futura.
  • A cetogênica reduz os picos de glicose e a hipoglicemia. Também, é ótima aliada aos tratamentos de suplementação ao estrogênio.
  • A Keto reduz estresse, ansiedade, inchaço e TPM, sendo indicada para casos de disfunção do hipotálamo.

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Protocolo cetogênico para mulheres: Michael D. Fox

Ok, a fala do endocrinologista Michael D. Fox se encerrou acima e quero explicar o protocolo cetogênico do médico.

Quero que você veja os principais pontos da dieta de Fox (3) e entenda que não se trata de escolher um ponto ou outro. É um conjunto de ações que ele utiliza de forma integrada.

  • Dr. Fox trabalha com uma Cetogênica entre 20g e 40g de carboidratos totais ao dia.
  • Entre 80g e 120g de proteínas diárias.
  • Ele salienta que o estresse e suas consequências (como amenorreia e perda de cabelo) em Low Carb e Keto são devidos ao déficit calórico e aos fatores estressores, como exercício.
  • Ele não recomenda exercícios aeróbicos ou jejum prolongado para mulheres, especialmente hipotalâmicas (utiliza sim jejum intermitente para pacientes muito obesas e com resistência insulínica).
  • Ele salienta que o perfil hipotalâmico pode sofrer de hipoglicemia se ficar entre 3h a 6h sem ingerir calorias.
  • Para ele, a perda de peso máxima permitida é de 1kg por semana.
  • Ele salienta que muitas mulheres se convencem de sofrer de dominância estrogênica através de artigos de internet, mas que ele nunca teve uma paciente com o quadro – os sintomas seriam sim por causa de baixo estrogênio.
  • Ele suplementa estrogênio em basicamente todos os casos.
  • A suplementação de estrogênio usada por Fox é o adesivo de estradiol de baixa dose, mesmo método indicado pela endocrinologista Sara Gottfried, em sua obra The Hormone Cure. A diferença é que Gottfried considera importante suplementar progesterona junto nestes casos, sendo este o padrão da reposição hormonal. Já Fox, considera que apenas o estradiol deve ser utilizado. Por favor, converse com seu médico e pondere suas questões individuais.

Saúde hormonal feminina: atue sim sobre os sintomas, mas jamais esqueça a causa

Pode soar estranho um site de “dieta” cetogênica tratar hormônios sem focar em micronutrientes e listas de alimentos específicos.

Ocorre que a comunidade médica cetogênica tem verdadeiro horror ao termo “dieta”. Lembremos que toda equipe cetogênica é formada por um neurologista, um nutricionista, um psicólogo e um enfermeiro. Então, temos diversas áreas de foco aqui. O conteúdo de hoje, incluindo a fala de Fox, expande de forma acertada o olhar cetogênico para a vida da paciente.

Minhas conversas com o psiquiatra norte-americano Chris Palmer ou com nosso amigo brasileiro, o psiquiatra e psicoterapeuta Regis Chachamovich, me levam ao mesmo caminho. Todos compreendem que o ser humano não é apenas remover alimentos e encontrar a forma mais biodisponível de T3.

O que estou propondo aqui é outra visão, mais profunda, que pretende tocar na origem da questão.

Temos uma mulher que passou a vida em estado de hipervigilância, em modo de LUTA E FUGA.

Seria ela tão ingênua de achar que seu cérebro atacaria apenas o mundo lá fora? Ou ela é sensata o suficiente para compreender que, em algum ponto da jornada, seu cérebro começaria a atacar seu próprio corpo também?

E aqui temos grandes problemas imunes e sistêmicos ocorrendo. Michael D. Fox iniciará sua fala dizendo que a epidemia de problemas hormonais que ele atende vem acompanhada de uma elevação de quase 1000% de disfunção hipotalâmica. Já eu, diria que 99% das mulheres que atendo aparecem com este quadro.

Disfunção hipotalâmica: sintomas

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Listo os sintomas apenas para que tu tenha uma ideia da proximidade da disfunção hipotalâmica e dos problemas hormonais, o que é óbvio, porque eles fazem parte de uma mesma cadeia, de um mesmo sistema. Aposto que eu te descreverei nas próximas linhas:

  • Problemas de regulação de saciedade
  • Desregulação de temperatura corporal
  • Extremidades frias
  • Calor ou suor noturno
  • Sensibilidade extrema ao calor ou ao frio
  • Ansiedade e irritação
  • Fadiga física e mental
  • Cansaço e dificuldade de dormir
  • Oscilações de humor
  • Constipação e/ou diarreia
  • Coceiras
  • Falta de libido

São apenas manifestações práticas das funções do hipotálamo, que incluem majoritariamente: ciclo circadiano, temperatura corporal, tensão muscular, vasorregulação, batimentos cardíacos e, claro, fome e saciedade.

É importante notar que a medicina padrão coloca como causas da disfunção hipotalâmica agentes de estresse extremo, como transtornos alimentares, perda de peso abrupta ou privação de comida.

E é fundamental lembrar que estamos falando com mulheres que sofrem de pressões sociais até mesmo no mundo Low Carb, mesmo que com boas intenções. São os líderes que nos motivam a cortar mais e mais para atingirmos resultados cada vez mais rápidos. Talvez, estes métodos estejam nos levando à intensificação da origem da doença.

E é isso que Michael D. Fox (e eu) vem propor aqui. Uma cetogênica bastante diferente daquela que vemos para emagrecimento rápido. Aquela cetogênica hiper-restritiva, com jejuns extensos que Stephen Phinney já alertava que poderia gerar problemas severos por diversos anos, senão pelo resto da vida. Mudanças justamente na tireoide, redução do metabolismo, perda de massa magra, além de perda extrema de minerais, um grande problema para a regulação do hipotálamo.

Ajustes práticos na dieta cetogênica

Agora, tu entendeu: a guerreira que acha que consegue dar conta de tudo é a mesma que está se combatendo por dentro. Então, é hora de dar uma olhada em pontos práticos da dieta e da vida.

Não poderei falar muito aqui, porque orientações diferem de desordem para desordem. Afinal, baixo estrogênio não é hipotireoidismo. Mas, há alguns pontos universais para além daqueles já citados por Michael D. Fox.

REPOSIÇÃO HORMONAL

Vá a um endocrinologista conversar sobre terapia de reposição hormonal se tu já passou dos 35 anos. Em termos gerais, pensamos em pré-menopausa após os 40 anos. Porém, existem alguns fatores de risco para o que chamamos de pré-menopausa ou perimenopausa precoce, que explico no podcast que coloco no final deste conteúdo.

Os fatores de risco para perimenopausa ou menopausa precoce estão diretamente relacionados às mulheres hipotalâmicas, que são majoritariamente as leitoras do Revolução Keto. Então, eu pediria que tu ouvisse o áudio abaixo e avaliasse teu caso e visse os benefícios e os riscos (que existem sim) da reposição com tua médica. Este é o primeiro passo para tudo.

PROGESTERONA

Michael D. Fox irá contra a progesterona e preciso fazer um alerta aqui, já que trabalho com epilepsia também. A utilização de progesterona para epilepsia ligada a ciclos menstruais (catamenial) é indicada, sendo que o estrogênio é excitatório e pode disparar crises.

A progesterona tem sido amplamente estudada por ser inibitória, inclusive para frear crises. Como mencionei ao longo do conteúdo, não se trata de demonizar progesterona: o protocolo padrão de reposição hormonal é aliar progesterona ao estrogênio. Conversa com tua médica e avalia teu quadro na relação entre estrogênio e progesterona.

SEROTONINA

Como mencionei no início do conteúdo, serotonina pode ser reduzida na Dieta Cetogênica. Serotonina e estrogênio têm uma relação direta, sendo que a serotonina regula a síntese do estrogênio e o estrogênio eleva tanto a serotonina quanto seus receptores no cérebro.

Desordens como síndrome pré-menstrual (SPM) e transtorno disfórico-pré-menstrual (TDPM), além de alterações no humor ligadas à pré-menopausa e menopausa, têm chamado a atenção da ciência há anos para esta relação entre serotonina e estrogênio.

JEJUM PROLONGADO E RESTRIÇÃO CALÓRICA

Como bem pontuado por Phinney e Fox, fica complexo tratar metabolismo lento se tu restringir calorias de forma crônica ou jejuar de forma extensa (acima de 48h, segundo os estudos). A beleza da cetogênica é justamente emagrecer através de outros mecanismos hormonais que não o corte calórico.

Então, por favor, opta por uma cetogênica normocalórica ou até hipercalórica se não houver emagrecimento em jogo. Cetogênica se trata de manipular macronutrientes e não calorias. Te livra das receitinhas de instagram, faz uma cetogênica bicho-planta-MCT se necessário for, mas jamais destrói teu metabolismo cortando calorias (energia) para poder abusar de farinhas e cream cheese.

SUPLEMENTAÇÃO NA CETOGÊNICA

Toda abordagem cetogênica exigirá um Polivitamínico e polimineral. Portanto, eu já sugiro que tu compre um que tenha um complexo B metilado, algo fundamental na saúde mental. Atualmente, indico o Two Per Day, da marca Life Extension, à venda no Mercado Livre. Mas, pode ser qualquer outro, como o da Thorne, que tenha um bom complexo B metilado pela biodisponibilidade das vitaminas. Tome conforme as recomendações do fabricante ou do médico.

LATICÍNIOS

A retirada de laticínios é bem estabelecida para protocolos nutricionais de hipotireoidismo, especialmente Hashimoto, mas a ciência não encontrou respaldo nos casos de outras questões hormonais como a interferência dos xenoestrogênios na saúde humana. Então, remova laticínios se o teu problema for especificamente hipotireoidismo, sendo a causa Hashimoto ou não. Caso este não seja tua situação, a ciência mais recente tem comprovado que o consumo de laticínios, especialmente fermentados, mais colabora no metabolismo (e no emagrecimento) do que prejudica.

T3 OU T4?

Mantém em mente que a utilização do T4 ainda é o consenso geral e global de tratamento para hipotireoidismo. Para alguns médicos, a utilização do T3 parece absurda, algo que felizmente vem mudando com o passar dos anos. Atualmente, a American Thyroid Association já reconhece a importância de utilizar T3 (liotironina ou triiodotironina) nos casos em que a paciente não respondeu ao uso do T4 (levotiroxina). Conversa com teu médico a respeito do T3 se tu faz parte do grupo de mulheres que utiliza Puran há anos e segue com sintomas de hipotireoidismo. Talvez, seja hora de atualizar o tratamento.

IODO

Um mineral essencial encontrado em alimentos como laticínios, algas, ovos e peixes. Contudo, se tu não costuma consumir estes alimentos e sofre de hipotireoidismo, saiba que o iodo é fundamental para a tua condição. Considera conversar com teu médico sobre o uso de sal iodado ou suplementação de iodo. Não suplementa por conta própria, porque o uso de iodo sem indicação específica pode gerar efeito reverso, prejudicando a tireoide.

SELÊNIO

Um mineral especialmente importante na cetogênica, visto que faz parte dos minerais que perdemos na dieta. Isso porque os principais alimentos da cetogênica são pobres em selênio. Então, toda cetogênica bem-formulada terá suplementação de selênio.

O selênio é importante neste conteúdo, sendo que nenhum outro tecido do corpo possui tanto selênio quanto o da tireoide. Juntamente com zinco, ferro, iodo e tirosina, o selênio é usado para a conversão dos hormônios, tanto que é um mineral vastamente utilizado em autoimunes relacionadas à glândula. A melhor forma de suplementar selênio é orgânica, através de alimentos, como castanha do pará, sardinhas, ovos e frango. Se tu optar por ficar na cetogênica por mais de seis meses, selênio fará parte dos seus exames semestrais.

ZINCO

Juntamente com selênio e cobre, o zinco é crucial para a síntese dos hormônios da tireoide. O zinco ajuda a regular o TSH, um hormônio usualmente alto em quadros de hipotireoidismo, certo? Ainda, o papel do zinco na regulação da insulina e no metabolismo da glicose é importante para nós. Então, é prudente observar o zinco na tua dieta e ele surgirá em alimentos como ovos, carne vermelha, laticínios, amendoins, amêndoas.

CAFEÍNA

Michael D. Fox removerá totalmente a cafeína da tua dieta. Terei que me opor aqui, tanto pela possível síndrome de abstinência, quanto pela ciência mesmo. Os trabalhos da minha mestra Susan Masino, uma das maiores pesquisadoras de Dieta Cetogênica no mundo, levantarão o uso terapêutico da cafeína para desordens relacionadas à cetogênica – como autismo, epilepsia e parkinson – através da adenosina, um neurotransmissor inibitório fundamental para o sistema nervoso central.

Obviamente, baldes de café ao dia não fazem sentido algum e tu sentirá os efeitos do bloqueio da adenosina no corpo, tendo a adenosina um papel importante na regulação do ciclo circadiano, analgesia, ritmo cardíaco e vasodilatação – todos comprometidos quando há excesso de cafeína.

ESTIMULANTES

Atividades estimulantes, citadas por D. Fox como exercícios físicos aeróbicos e uso excessivo de telas, podem ser ampliadas a tudo que potencializa estes mecanismos estressores ou excitatórios nas mulheres que ele chama então de “hipotalâmicas” – restrição de comida, trabalho sem pausa, demandas demais num único dia, restrição de sono, anorexígenos e quaisquer remédios que acelerem metabolismo artificial e rapidamente para emagrecer, além de relacionamentos conflituosos, esportes radicais, o clima da tua cidade!

Os mecanismos ligados a estes elementos excitatórios, que podem potencializar o modo de luta e fuga, são complexos e afetam todos os seres humanos. A ativação da amígdala cerebral através da noradrenalina já afeta a capacidade cognitiva e potencializa a adicção em si (dificulta a capacidade de parar). MAS, isso é ainda mais forte em mulheres com o quadro retratado neste conteúdo, que tipicamente já passam por uma grande ativação destes eixos.

Então, temos uma dupla impossibilidade de desligar este estado e retornar ao modo rest and digest (descanso e digestão). Ao permanecer constantemente em modo luta e fuga, esta mulher está corroendo seu metabolismo de forma crônica. Estas leitoras já sabem: quando parar, virá uma tormenta tanto no sentido da alimentação quanto em questões imunológicas mesmo. Por isso, elas são psicologicamente caracterizadas pelo medo de parar.

Mulheres que não podem optar por uma vida mais equilibrada e precisam de fato ter uma estrutura que tende à correria, como mães de filhos pequenos, devem levar a sério um comprometimento com atividades que desliguem a excitação. Gastar menos dinheiro com produtividade e resultados e mais com grupos de meditação, tai chi, artesanato e lazer. Infelizmente, o culto à alta performance da nossa sociedade atinge estas mulheres ainda mais e a ideia de bem-estar é quase um valor proibido a elas mesmas. Sem a harmonia entre os dois modos, luta e fuga x descanso e digestão, não haverá saúde hormonal ou saúde alguma.

[No meu grupo do Telegram, já tivemos uma aula sobre a cetogênica hipercalórica, mostrando como o corte calórico ativa amígdala ainda mais e como a elevação calórica desativa estes mecanismos. Minha defesa é a de que teu “comer demais”, que geralmente te leva à culpa, nada mais é do que teu cérebro implorando para que tu saia do modo de terror frenético que tu impõe ao teu cotidiano e finalmente descanse.

E observe como funciona. Como tu relaxa. Como Gaba e serotonina se elevam e tu finalmente para. Triste é ver tua culpa por parar depois. A dieta cetogênica é capaz de elevar as calorias, desativar estes eixos e tratar a compulsão alimentar ao mesmo tempo – desde que esta mulher esteja sendo conduzida por um profissional de saúde responsável e lúcido.

O CÉREBRO FEMININO

Acessa abaixo um excerto do podcast exclusivo sobre o tema, publicado integralmente com 1h, no Telegram do Revolução Keto. No Podcast, a neuropsiquiatra Louann Brizendine, em seu estupendo best-seller The Female Brain, explica como o cérebro feminino muda na passagem da perimenopausa para a menopausa: e revela como tu pode atenuar estas oscilações internas e externas.

The Female Brain é uma das mais magnânimas obras já escritas e não foi publicada em português. Portanto, faz o favor de ouvir este áudio e acessa a versão integral no Telegram, que também contém meu material complementar explicativo. Não apenas ouve, mas pratica tudo que está ali descrito e para de ser refém dos teus hormônios.

REFERÊNCIAS

(2) Michael D. Fox: women, hormones and nutrition https://www.dietdoctor.com/member/presentations/fox

(3) Michael D. Fox: Medically reviewed articles https://www.dietdoctor.com/authors/dr-michael-d-fox-2

Veja também:

Neurohormonal Regulation of Appetite and its Relationship with Stress: A Mini Literature Review

The Hypothalamic-Pituitary-Gonadal Axis and Women’s Mental Health: PCOS, Premenstrual Dysphoric Disorder, and Perimenopause

Beta blockers, T3, and T4 | Current Psychiatry (adrenalina e T3)

Jason Fung: Would you still recommend intermittent fasting if I have adrenal dysfunction?

Progesterone therapy in women with intractable catamenial epilepsy

The Influence of Gonadal Hormones on Neuronal Excitability, Seizures, and Epilepsy in the Female

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