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Quem precisa de carboidratos? Muzy x Houzel: briga entre ciência e prática

CARBOIDRATOS MUZY PERFORMANCE EPILEPSIA CETOGENICA

No dia 24 de agosto de 2020, a neurocientista Suzana Herculano-Houzel publicou uma coluna na Folha de São Paulo pontuando a questão da necessidade de carboidratos para o corpo (incluindo cérebro) humano.

Ela trará pesquisas sobre a Dieta Cetogênica e explicará como o corpo produz a glicose necessária. Ou seja, a coluna não traz novidades para quem já é um estudioso do mundo Low Carb, mas a resposta do médico Paulo Muzy ao texto de Suzana trouxe alguns pontos que precisam ser debatidos.

De um lado, temos a ciência. De outro, a prática. Quem vencerá esta briga inexistente?

Carboidratos demoníacos, gorduras assassinas. Ciência teórica, prática parcial. Não sei quem vencerá estas lutas forjadas. Só sei que, enquanto as brigas persistirem, todos perdemos.

Leia os textos integrais de Houzel e Muzy após meu comentário em vídeo, logo abaixo. Ao final do conteúdo, conheça mais o trabalho de Houzel nos textos e vídeos que produzimos com a neurocientista.

Suzana Herculano-Houzel | Quem precisa de carboidratos?

(Via Folha de S. Paulo – conteúdo para assinantes)

Já vou avisando: resolvi comprar briga com a população educada e os nutricionistas que engoliram a tal pirâmide nutricional empurrada literalmente goela abaixo dos consumidores pelo lobby das empresas fabricantes de cereais e dos cada vez mais variados “alimentos industrializados”. Essa parte da história eu deixo pra outras pessoas contarem, ou para os curiosos investigarem por conta própria. A parte que me cabe é a que tem a ver com seu cérebro.

A questão é que cientistas de várias especialidades se acostumaram a pensar na glicose como a principal fonte de energia do corpo e nos carboidratos como fonte de glicose. Quebrar os carboidratos do amido de farinha, batata, arroz e cereais em pedaços de glicose e queimar a glicose como fonte de energia vital são de fato triviais para o corpo.

Mas ingerir carboidratos é completamente desnecessário —e, segundo um estudo recente, contribui para a desestabilização progressiva do funcionamento do cérebro (já explico o que isso significa).

Ingerir carboidratos é desnecessário porque as células do corpo sabem fazer glicose quando preciso e construir carboidratos longos usando-a como bloco elementar.

Mas há nove aminoácidos que o corpo humano não fabrica e ao menos dois tipos de gordura. Esses têm que vir da comida, donde uma dieta baseada em proteínas e gorduras, com só um pouquinho de carboidratos salpicados no topo — exatamente o inverso do que a indústria vem promovendo —é não só o que o corpo precisa como espera.

Consumindo primeiro proteínas e gorduras, toda glicose extra vira depósito de gordura, armazenada em pneus e placas pelo corpo.

Medir o consumo de glicose do cérebro é fácil e tem dominado os estudos na área, mas já se sabe que o cérebro usa perfeitamente bem as cetonas derivadas das proteínas e gorduras da dieta.

E muito além: segundo pesquisadores da Universidade Stony Brook, nos EUA, e da Universidade de Oxford, no Reino Unido, a partir dos 40 anos diminui a capacidade do cérebro de se manter “concentrado” em um tipo de atividade enquanto “não faz nada”, sem alternar, por exemplo, entre privilegiar visão ou audição ou introspecção.

Mas isso é o que ocorre com a dieta “normal”, a da tal pirâmide alimentar baseada em carboidratos.

Quando os voluntários do estudo mudaram para uma dieta cetogênica, ingerindo menos de 50 gramas de carboidratos por dia, sua atividade cerebral em repouso se tornou imediatamente mais estável.

Os pesquisadores declaram abertamente ter interesse financeiro em suas descobertas, pessoas inteligentes que são. Se alguém vai lucrar com isso (e alguém obviamente vai), por que não os próprios autores da pesquisa?

Resposta de Paulo Muzy

(Via instagram)

O risco de se ter estudiosos sem pratica falando de assuntos que não tem experiência nem proficiência é se seduzirem por uma teoria conspiratória de que nutricionistas e pesquisadores da área de alimentação estejam vendidos à tão cruel embora anônima indústria (porque nunca falam de uma especificamente) deixando tudo como boato de rancho, aquela historia estilo “tao dizendo por aí…”

Corpos cetônicos não são o nutriente preferencial das células cerebrais, sendo utilizados somente em situações extremas, numa situação de “se só tem tu, vai tu mesmo”. Porem as custas de perda importante de função do órgão.

Se você já assistiu alguma aula do @lanchajunior vai lembrar dele falando que dietas cetogenicas são indicadas na neurologia por aumentarem o limiar convulsivo, ou seja, diminuir a chance de crises na epilepsia por exemplo, justamente por causa dessa queda de função do cérebro.

Outros estudos mostram que pelo menos 16% dos pacientes que fazem dieta cetogenica desenvolvem hipotiroidismo todos os anos, gerando uma outra demanda de saúde…

Já na área esportiva, exaustivos trabalhos trazem evidências de que a dieta cetogenica no esporte reduz o pico de potencia, o endurance e a resistencia a fadiga bem como aumentam a percepcao de esforço.

Para finalizar, este é um exemplo claro onde por mais que a pessoa seja bem formada numa área, quando vai falar de algo que não pratica profissionalmente por não ter formação e portanto, muito menos experiência, tropeça feio e presta um desserviço à população.

Sugiro a dra Suzana, com todos seus titulos, que em vez de comprar uma briga com pessoas educadas e nutricionistas, que aprenda comportamento com as pessoas educadas bem como vá aprender alguma coisa de nutrição com nutricionistas para não passar vergonha sentada num PhD que a faz acreditar que seu palpite valha mais do que o estudo de uma classe profissional inteira.

Sobre as dietas cetogenicas, como ferramentas nas mãos de equipes de medicos e nutricionistas, é uma ferramenta muito valiosa. Na maos de tolos, é só mais uma crença que se assemelha a fundamentalismo religioso.

 


 

Reflita. Reflita até ver que não há erro algum em nenhum dos posicionamentos. Aqui, estaremos prontos para falar sobre saúde humana.

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